“- O que significa o dia 18 de maio para você?

 – Dia 18? É feriado?

 – Não, não é.

 – Por que? Deveria ser?

 – Deveria ser um feriadão”

 José Carlos Oliveira se aproximou, disse que tinham pedido a ele que sentasse mais a frente, perguntou se poderia se sentar na cadeira ao lado. Foi com ele que essa repórter travou o diálogo acima, no plenário da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, no dia 15 de maio. José Carlos estava lá para acompanhar uma solenidade em comemoração ao Dia Nacional da Luta Antimanicomial (dia 18 de maio).

“O que acontecia antes era um genocídio em tempos de paz, havia verdadeiros campos de concentração. Já mudamos bastante essa realidade”, comentou o professor da Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Eduardo Vasconcelos. O professor era um dos participantes da solenidade e pediu a palavra para dizer que, apesar dos avanços, ainda há muito o que se fazer para garantir os direitos dos portadores de transtornos mentais. “Precisamos pensar em cada um dos exemplos aqui presentes, no próprio Julio, há 30 anos ele estaria fechado em uma enfermaria e não aqui participando dessa solenidade”, continuou.

            O Julio ao qual o professor Eduardo se referiu é Júlio Cesar Carvalho. Assim como José Carlos, ele é usuário da rede de saúde mental. Júlio se trata no Caps (Centro de Atenção Psicossocial) de Mangaratiba e foi o representante dos usuários na mesa da solenidade. “Quero agradecer essa casa, que é nossa, é do povo”, iniciou Júlio. Ele comentou sobre a necessidade de se criar centros de convivência nos Caps, para que haja mais cultura, música e poesia.

 

Privatização da saúde

            O vereador Paulo Pinheiro foi o responsável pela condução da sessão. Ele lembrou que o projeto recém aprovado na Câmara Municipal que passa a administração de hospitais para Organizações Sociais é um grande retrocesso para a saúde pública.

            Ele informou que a prioridade de implementação da política será nos Programas de Saúde da Família (PSF), justamente onde o movimento da Luta Antimanicomial reivindica uma maior atenção também para os pacientes com sofrimentos mentais.

“É uma lamentável derrota para saúde pública, um enorme retrocesso q

ue não pode ser revertido, já que foi votado. Vamos entrar na justiça contra a aprovação, mas a briga será longa”, afirmou.

            O vereador ressaltou que com as OS não haverá concursos públicos para as instituições que forem administradas dentro dessa política. A criação das OS se assemelha ao que foi feito no plano estadual com o estabelecimento de Fundações Públicas de Direito Privado para administrar hospitais da rede pública, proposta também aprovada pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio.

 

Será que eu posso ir embora?

            “Ninguém escolhe ficar louco. Se tem pessoas com problemas psiquiátricos, temos que entender, tem que ter pessoas capacitadas para tratá-las”, protestou Rosa Domeni, que representou a categoria dos profissionais de saúde na mesa da solenidade.

            José Carlos encostou a cabeça na bancada da Câmara, estava sonolento, talvez por causa dos remédios que toma. Perguntou se ainda iria demorar muito, já era mais de meio-dia. Ele estava preocupado porque tinha que estar no Caps onde se trata para uma apresentação de música.

“Será que posso ir antes de terminar?”, pergunta. “Sim, claro que pode”. “Não vão ficar chateados”. “Não, pode ir”. José Carlos se despediu, pediu licença e seguiu rumo à Avenida Rio Branco para tomar um ônibus com destino ao Caps. Antes, pediu que nessa reportagem estivesse o nome das profissionais de saúde que cuidam dele. “A médica se chama Luiza e a psicóloga Luana”.