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Para Claudia Santiago Giannotti, os sindicatos terão que investir mais em comunicação para organizar a classe trabalhadora para a luta em defesa dos direitos trabalhistas e das conquistas sociais.

Por Najla Passos – NPC

Em um cenário de total adesão da mídia comercial ao golpismo e de estrangulamento financeiro dos veículos alternativos, caberá à imprensa sindical organizar o povo brasileiro para a luta em defesa dos direitos trabalhistas e das conquistas sociais. O alerta partiu da jornalista, historiadora e coordenadora do NPC, Claudia Santiago Giannotti, que participou da mesa “O jornalismo na comunicação sindical e disputa de hegemonia”, no 22º Curso Anual do NPC.

A jornalista lembrou que, no início do século passado, coube à imprensa anarquista a tarefa de politizar os trabalhadores. Já durante ditadura, foi a imprensa alternativa que assumiu o protagonismo de denunciar o arbítrio. Logo após a redemocratização, porém, na década de 1990, quando o neoliberalismo ameaça se firmar como pensamento único no país, a imprensa sindical assumiu o papel de organizar a disputa de hegemonia, pelo menos até a refundação da imprensa alternativa, no Fórum Social Mundial.

“Até o Fórum Social Mundial, só existia comunicação sindical. Os sindicatos tinham recursos, não precisavam mais ir atrás dos mimeógrafos. Tínhamos gráficas ou dinheiro para pagá-las. Tínhamos mais jornalistas nos sindicatos do que na redação de O Globo. Tínhamos condições de fazer uma imprensa boa. Não dava para encarar a Globo, mas dava para fazer comunicação boa”, relembrou.

E foi justamente naquele contexto que, em 1994, nasceu o NPC, com o propósito de dinamizar a comunicação dos sindicatos. Idealizado por ela e Vito Giannotti, o coletivo foi conquistando a adesão cada vez maior de jornalistas, intelectuais, sindicalistas e militantes de movimentos populares preocupados de garantir uma imprensa dos e para os trabalhadores. “O NPC foi criado para mudar a comunicação dos trabalhadores. E por que a gente dá essa importância tremenda a comunicação sindical? Porque nós não temos alternativa”, justificou.

Conforme a coordenadora do NPC, ainda que a ofensiva conservadora consiga aprovar o fim do imposto sindical, caberá aos sindicatos entender a centralidade da comunicação na disputa de hegemonia e empreender todos os esforços para qualificá-la cada vez mais. “A comunicação sindical ainda é o principal meio que temos para fazer esta disputa”, afirmou.

Do acúmulo de conhecimento gerado pelo NPC nestes anos, Claudia apontou os principais caminhos que devem balizar a atividade. Em primeiro lugar, ela destacou a necessidade dos sindicatos discutirem seu papel histórico e a que interesses querem atender.  “Não podemos falar da comunicação sindical sem falar da concepção sindical. É preciso saber se o sindicato defende os interesses históricos dos trabalhadores ou se é pelego”, provocou.

A jornalista também ressaltou a necessidade de cada categoria manter uma pauta geral, para muito além dos seus interesses imediatos. “A pauta é uma questão central: se os nossos jornais tratarem só dos seus umbigos, a luta não avança. A comunicação sindical precisa tratar da luta dos trabalhadores como um todo”, destacou.

Ela destacou, ainda, a necessidade de se investir em todos os meios de comunicação possíveis. ”A internet é um dos instrumentos. Não dá para desconhecer o poder da internet. Mas também não dá para cair na armadilha da internet: este meio, como os outros, tem dono”, alertou. E, entre outros pontos, abordou a necessidade do sindicalista utilizar a comunicação sindical como ponte permanente de contato com o trabalhador que representa. “É preciso investir na distribuição mão em mão, chegar no trabalhador, não terceirizar a tarefa. E não abrir mão do jornal de papel”.

 

Gasto ou investimento?

Professor e diretor de Comunicação do Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Estado de Sergipe (Sintese) e da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Joel Almeida criticou os diretores de sindicatos que afirmam entender a importância da comunicação na disputa de hegemonia, mas evitam até mesmo participar de eventos que discutem o tema para não se comprometerem com a pauta. “Afinal, comunicação é gasto ou investimento?, questionou.

Segundo ele, a CNTE engloba 25 sindicatos estaduais e 24 municipais, com receita mensal total de R$ 10 milhões – um orçamento que, na avaliação dele, daria para revolucionar a comunicação dos trabalhadores. “A comunicação não é prioridade  para os sindicatos. Chega a ser o quinto ou sexto orçamento”, afirmou.

Tal como Claudia, o professor ressaltou a importância de se investir em vários meios para atingir o maior número de trabalhadores possíveis. “Tem sindicatos com 15 mil filiados que tem só um boletim, um facebook e um site. São instrumentos fundamentais, mas não se disputa a hegemonia só com isso”, defendeu.

Como exemplo de experiência de sucesso, ele relatou a do Sintese que, atualmente, produz o programa “Sintese em Ação”, que vai ao ar aos sábados pela manhã em seis rádios comerciais e comunitárias de Aracaju, além do programa TV Sintese, que ocupa 15 minutos da afiliada local da TV Record, também aos sábados. “O programa tem pauta local, nacional e internacional. Tem pauta do nosso e dos outros sindicatos”, afirmou.

Para o sindicalista, pelo menos 20% do orçamento de cada sindicato deveria ser investido em comunicação. “O grande problema é que a esquerda e o movimento sindical no Brasil são muito fragmentados. Ou a esquerda brasileira assume o protagonismo, faz concessões e entende que comunicação é prioridade, ou vamos continuar vendo a elite fazer o que faz com a gente na imprensa comercial”, concluiu.

 

Ousadia e novas mídias

Jornalista do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro, Luís Henrique Nascimento contou sua experiência de fazer a disputa de hegemonia com uma categoria desacreditada no coletivo. O Sindicato que trabalha passou 46 anos nas mãos de uma única família e fez fama como o mais corrupto do Brasil. Depois de sofrer intervenção, conseguiu eleger uma diretoria de luta que vem investindo pesado em comunicação para recuperar a base, apontada como a maior do estado: 400 mil comerciários.

A partir de um estudo criterioso do público alvo, a equipe de comunicação desenvolveu estratégias ousadas, como o uso pago do facebook. Com esforços centrados nesta e em outras redes sociais, programas de humor e paródia, o sindicato vem batendo recordes registrados em milhares de interações com seus sindicalizados, tanto virtuais quanto reais. Segundo Nascimento, a mobilização nas redes sociais foi tão intensa que conseguiu influenciar o resultado da própria negociação coletiva.