[Por Vito Giannotti] Sobre as manifestações de junho de 2013 já foram escritas milhares de páginas. Nos próximos anos haverá mais, muito mais. Um dos principais temas serão as lições a tirar destes fatos. Poderíamos enumerar umas trocentas. Todas são úteis e necessárias, mas eu me amarro em uma. Uma que para mim é fundamental. Eu a chamaria “A mãe de todas as lições”. E esta mãe se chama: Necessidade de nós, esquerda, termos nossa comunicação para disputar com nossos inimigos de classe: os patrões e o bloco hegemônico que eles aglutinam. O nome correto, bem elaborado e teoricamente aceito em qualquer escola é outro: comunicação contra hegemônica ou comunicação para disputar a hegemonia. Tudo isso significa uma comunicação que informe e forme politicamente e ideologicamente os trabalhadores, a tal “massa” que para nós de esquerda é o instrumento da nossa ação e o objetivo único da nossa luta.

É comum no nosso meio se queixar que a mídia de direita engana, mente, deforma, enfim puxa sardinha para seu lado. Óbvio, queríamos que ela puxasse pro nosso? Esta chamada “grande mídia” tem dono e dono tem classe e classe tem interesses de classe. E então? Esta mídia, ontem, hoje e sempre será inimiga dos trabalhadores, pois eles são de outra classe.

E as manifestações de junho?

Estas mostraram até para quem tem meio neurônio que, ou nós construímos nossa mídia de esquerda, alternativa, seja ela sindical, comunitária, de cunho cultural, artístico ou histórico, ou só nos resta xingar e chorar. Desde 1990, quais passos demos nesta direção? Sim, construímos algumas pequenas e poucas revistas tipo Caros Amigos, Fórum, Retratos, Le monde Diplomatique, Samuel e outras. Mas é muito, muito pouco. Sim, além disso há algumas revistas sindicais como a Revista do Brasil e outras culturais com tiragem entre mensal e semestral. Há vários jornais de partidos e agrupamentos de esquerda, de circulação muito restrita, mais partidária.

O que nos falta é uma mídia NOSSA, de esquerda, que dispute todos os temas, valores, visões de mundo que hoje são transmitidos, cultivados, repetidos ao infinito pela mídia nossa inimiga. Tudo o que sai na Veja, no Globo, na Globo, Folha, Estadão e jornais menores tem um objetivo. Não é de graça. E a gente fica se lamentando que a cobertura das manifestações foi direcionada, foi camuflada e por aí vai? Mas o que se queria?

Por que não criamos nossos jornais diários? No Brasil, a esquerda já teve jornais diários, em várias fases do século XX. E hoje? Cadê três ou quatro jornais diários de esquerda, vendidos em bancas, para divulgar as nossas visões? Nada de um jornal só. Isso é impensável. Jornal único só no céu ou no inferno. Mas por que não três ou quatro jornais de esquerda? E de onde vem o dinheiro? Primeiramente da junção dos nossos esforços. Dinheiro teria, se nos juntássemos em três ou quatro projetos unificados. Mas além dessa iniciativa com nossas próprias forças, esta é a grande batalha da democratização da mídia. Queremos dinheiro público, via propagandas, igualzinho à Globo, Veja e companhia.  E isso vale para a imprensa tradicional, em papel, e para as novas mídias via internet.

Jornais, Rádios FM, comunitárias e TV aberta  

Não é só de jornal que vive a comunicação. Muito longe disso. Precisamos usar todo o mundo das mídias eletrônicas e ao lado disso precisamos de centenas de rádios comunitárias. Elas são de pequeno porte, mas muito úteis e podem desempenhar um papel educativas importantíssimo. Mas não podemos nos contentar com umas radiozinhas de 25 Wats. Os trabalhadores precisam ter suas rádios FM, igual às centenas que estão nas mãos indevidas de vereadores, deputados, senadores, pastores, padres, juízes e os cambau, contanto que sejam de direita. Queremos rádios e TVs públicas e com financiamento público declarado, aberto, que estejam nas mãos dos trabalhadores organizados em suas entidades ou associações.

Esta para mim é a grande lição das jornadas de junho. E para mim é a central.