(Entrevista concedida ao repórter Fernando Canzian (FSP) por Emad Musa, chefe de produção da Al Jazeera em Washington)

A TV árabe Al Jazeera, baseada no Qatar, foi posta contra a parede nos EUA por ter veiculado imagens de soldados norte-americanos mantidos como prisioneiros e sob interrogatório de militares iraquianos, logo no início da guerra. As imagens originais eram da TV iraquiana e foram retransmitidas pela Al Jazeera em todo o mundo, inclusive para os assinantes da emissora nos EUA. Depois de terem atendido pedido do secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, para que não reproduzissem as imagens, as principais redes de TV dos EUA entrevistaram dirigentes da Al Jazeera. Na CNN, especialmente, o tom das perguntas foi fortemente crítico e agressivo.

Folha – Como o sr. analisa a reação da mídia americana contra a sua emissora?
Emad Musa – Infelizmente, é mais um sintoma de como eles trabalham, na dependência de informações oficiais. Logo depois de terem ouvido o secretário Rumsfeld condenar as imagens dos prisioneiros da TV iraquiana, que nós retransmitimos, eles imediatamente pularam sobre nós sem pensar um minuto em não adotar a linha oficial ou em considerar que tratava-se somente de liberdade de expressão.
Nós não somos um canal de TV aberta. As pessoas que nos assistem pagam US$ 22,00 ao mês para poder ver o material que produzimos. Logo, eles querem ver tudo o que temos para mostrar.

Folha – Vocês foram pressionados por alguma autoridade?
Musa- Fomos indiretamente pressionados, como todos os outros canais. Mas mostramos as imagens nos Estados Unidos também, onde temos 140 mil assinantes. Não temos transmissões diferenciadas para o mundo árabe e para os EUA. Mesmo que tivéssemos, mostraríamos as imagens dos prisioneiros aqui. Não acho que as coisas possam ser resolvidas com pressões deste tipo.

Folha – E a suposta violação da Convenção de Genebra?
Musa – Nossa rede tem seis anos e meio e crescemos quebrando tabus. Se as informações forem importantes, vamos transmitir. Não nos envolvemos em política. Não podemos escolher a quem a notícia vai beneficiar. Temos 45 milhões de pessoas que nos assistem e que dependem de nós. Se não apresentássemos essas imagens, iriam buscá-las em outro lugar.  
 

 

Al Jazeera pede garantia de segurança para repórteres no Iraque
A emissora de televisão Al Jazeera, com sede no Qatar, pediu hoje aos Estados Unidos que garantam a segurança de seus correspondentes no Iraque depois que a artilharia norte-americana atingiu um hotel onde uma das redações do canal está localizada.

Em uma nota divulgada pela rede de TV, a Al Jazeera disse que pelo menos quatro balas atingiram o Hotel Sheraton, em Basra. A TV é a única rede internacional com repórteres na cidade do sul do Iraque, que está cercada por tropas britânicas e norte-americanas.

“Devido a este incidente, o canal via satélite Al Jazeera enviará outra carta ao Pentágono frisando a sua apreensão pela segurança dos seus repórteres no Iraque. […] A rede de notícias notificou oficialmente o Pentágono em Washington de todos os detalhes relevantes relativos a seus repórteres cobrindo a guerra do Iraque”, disse a nota.

A Al Jazeera transmitiu imagens do Sheraton bombardeado, com um buraco em um dos lados do prédio. A piscina do hotel, que não está sendo usada, também foi atingida.

A emissora está sendo criticada pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido por levar ao ar imagens explícitas da invasão, especialmente de soldados britânicos e norte-americanos mortos.

A maior parte dos espectadores árabes considera a cobertura de guerra da rede como mais abrangente e imparcial do que a mídia ocidental.

(Reuters)