(Vito Gianotti) 

O agiota mundial Soros diz que brasileiro não tem direito de votar.

Dornbush, papa do neoliberalismo nos EUA, diz que FHC é o culpado pelo desastre atual do Brasil.

A revista Newsweek, diz que a dengue no Brasil é responsabilidade do governo.

Mas quantos souberam destas notícias?

Nos primeiros dias de junho, George Soros, ex-patrão do presidente do nosso Banco Central, Armínio Fraga, fez uma declaração na qual escrachou do Brasil e de todos os brasileiros. Sem disfarçar e sem rodeios disse que o Brasil deveria parar de brincar de eleições. É tudo inútil. Na verdade, segundo ele, deveríamos acabar de vez com esta enganação do chamado voto universal.Deveríamos fazer igual ao antigo Império Romano, onde só os romanos votavam.Os outros povos, não. Soros foi claríssimo: “No capitalismo global moderno, só votam os americanos. Os brasileiros não votam”.

No dia 15, menos de uma semana após o Soros, eis que vem outro americano e nos dá uma notícia que nunca imaginaríamos na sua boca. Este ilustre professor do ilustríssimo MIT (Massachusset Institute of Technology ) é Rudiguer Dornbusch, um dos maiores teóricos e propagandista da política neoliberal no mundo. Ele entrou na dividida na campanha eleitoral, em curso no Brasil.  Aqui, o terrorismo de FHC e seu indicado Serra estão repetindo a toda hora que o Brasil estará na beira do abismo, à moda Argentina, se…Serra não ganhar.

Lula, vencedor, seria o culpado pelo capital especulativo internacional abandonar o país e provocar o desastre do gigante brasileiro. Este doutor do MIT se preocupou em livrar a cara do mega-agiota-especulador George Soros e de troco deixou claro quem é o culpado da situação do País: “Se estão buscando um especulador para culpar pela situação do Brasil, esse especulador é Fernando Henrique Cardoso”. Em seguida ele explica, para não deixar dúvidas, dizendo que FHC gastou todo o dinheiro das privatizações para comprar votos para a sua reeleição.

A terceira notícia destes dias nos vem também dos Estados Unidos. A Newsweek, uma das três maiores revistas políticas do mundo, nos brinda com um artigo que poderia ter saído tranqüilamente no Jornal dos Sem Terra. Sem enrolação, sem nenhum “parece”, ou “ao que tudo indica”, nem outros disfarces, ela diz que a epidemia de dengue, que atingiu mais de meio milhão de pessoas , no Brasil, é culpa do Governo FHC. O Jornal do Brasil de terça, 18, no sub-título da matéria: Epidemia de Irresponsabilidade, explica: “Newsweeek aponta erros das autoridades brasileiras na epidemia de dengue que causou 60 mortes.”

Falta de um jornal de esquerda

Vários dos nossos jornais sindicais já falaram antes o que, agora, a revista Newsweek escancarou pelo mundo afora. Algumas belas revistas da área sindical, como Fenae Agora, Imagem e outras já falaram do assunto.

Também os jornais da imprensa alternativa como Caros Amigos, Reportagem, Jornal dos Sem Terra, Cadernos do Terceiro Mundo, O Pasquim, Muito +, e várias outras publicações locais já escreveram sobre este tema bem melhor que a revista americana.

Os periódicos da nossa esquerda, como Debate Sindical, Opinião Socialista, Inverta, Linha Direta, Jornal do MSTe vários outros já denunciaram as causas da dengue e seus responsáveis.

Nas milhares e milhares de mensagens trocadas, como numa guerra de guerrilhas da comunicação, pela internet já se escreveram quilômetros e quilômétros sobre FHC, Serra e a dengue. O mesmo acontece com belíssimas Home Pages e com ótimos boletins eletrônicos.

Mas tudo isto é pouco, muito pouco.

Nos jornais sindicais, em geral, o tema foi tratado rapidamente quase roubando espaço às notícias concretas da categoria.

Nossas revistas alternativas são ótimas, mas quantos as lêem? Qual a repercussão que  atingem entre os milhões que não têm uma banca de jornal nas redondezas da sua casa ou nem sabem que existe assinatura ? 

Comunicar para disputar a hegemonia

Estas três notícias, do Soros, do papa neoliberal e da Newsweek seriam três bombas atômicas se chegassem ao povo. Se nós conseguíssemos divulgá-las através de um jornal de alcance nacional. Um jornal de esquerda que noticiasse que contasse para o povo o que o Globo e toda a mídia fazem questão de esconder.

E, sobretudo um jornal que chegasse a milhões. Que fosse comprado e lido por trabalhadores dos bancos, das refinarias, estaleiros navais, funcionários públicos e os trabalhadores das empresas privadas.

Um jornal escrito em linguagem direta e reta.

Um jornal onde o povo pudesse ler, estampado em letras enormes: “Agiota, chefe do Arminio Fraga diz que brasileiro não vota”. Ou noticiasse a declaração do professor do MIT, assim: “FHC quer o Brasil na cova com a Argentina”. E sobre a dengue: “EUA reconhecem que Serra é o pai da dengue”. Senão quisermos ser tão escandalísticos poderíamos dizer: “EUA reconhecem que a dengue é responsabilidade do Serra”. Havia mil maneiras de dizer, de fazer, de escolher. Todas serviriam para fazer a disputa das cabeças com nossos inimigos da classe.

Essa é a importância de um grande jornal a serviço dos trabalhadores e das forças populares.

Se não for assim, ficarão sabendo destas notícias apenas leitores do JB, das revistas de política. Aqueles que vão às livrarias, aos cinemas e aos teatros e lêem o Pasquim, Carta Capital, Reportagem, e todos os boletins da internet.

Vito Giannotti é escritor e coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação