Foto: Escambray

América Latina defendendo Cuba é a nossa América

Juan Manuel Karg (Alai) – Cuba chega aos 55 anos de revolução neste ano com muitas conquistas em áreas sociais, como saúde, educação, habitação. Isso despertou a simpatia de muitas pessoas em todo o mundo que estiveram em Cuba num processo de intercâmbio social.

 

Qual é o papel do ICAP nesse sentido?

 

Kenia Serrano – O Instituto tem sido um elo de comunicação com essas pessoas, desse ir e vir de sentimentos, compromissos e sonhos. Em termos cronológicos: o triunfo da Revolução também foi uma vitória da maioria das pessoas progressistas. Milhares de pessoas vieram para Cuba sem avisar. Depois, vieram de forma mais organizada e notou-se a necessidade de uma instituição que recebesse tão diversos visitantes. Por isso, em 30 de dezembro de 1960, o então primeiro-ministro Fidel Castro assinou a lei que deu origem ao ICAP. Nos dias inesquecíveis do ataque mercenário e subsequente vitória em Playa Giron, amigos vieram para nos dar solidariedade, como foi o caso da primeira visita do pintor equatoriano Oswaldo Guayasamín.

 

Juan Manuel Karg (Alai) – A saudação recente entre Barack Obama e Raúl Castro, na África do Sul, levou alguns meios de comunicação a falarem sobre a possibilidade de uma mudança na relação entre os EUA e Cuba. Você acredita que a mudança é possível se os EUA não mudarem sua política de bloqueio econômico, financeiro e comercial?

 

Serrano – Eu não acho possível uma mudança nas relações entre os EUA e Cuba sem que o governo estadunidense mude sua política hostil contra a Revolução Cubana e os seus homens e mulheres. O bloqueio não é uma lei da Assembleia Nacional do Poder Popular, é um ato do Congresso dos EUA. Portanto, a correção deve vir do governo americano. Nosso governo tem reiterado a sua vontade de discutir qualquer assunto. E a maioria dos cubanos está de acordo com essa posição, sem colocar Cuba em posição de fazer concessões e sem aceitar mudanças no sistema político, econômico e social que construímos.

 

Juan Manuel Karg (Alai) – A senhora crê que a integração regional produzida nas últimas décadas, principalmente por meio da Unasul, Alba e Celac, reivindicou o papel de Cuba na América Latina e Caribe?

 

Serrano – Permita-me abordar esta pergunta do modo que vejo mais claro; em todo o caso, as condições foram criadas na América Latina, a partir das mudanças progressistas que ocorreram em países como Venezuela, Equador, Bolívia, Brasil, Argentina, Uruguai, El Salvador, Nicarágua, Honduras e Paraguai, o que permitiu que se reparasse uma injustiça histórica de exclusão de Cuba do conjunto das nações latino-americanas e caribenhas. É aí que eu vejo que a Unasul, Alba e Celac são o resultado desse “momento”. América Latina reivindicando o papel de Cuba é uma nova América, nossa América.

 

Juan Manuel Karg (Alai) – Quais são os principais desafios de Cuba em 2014? Que papel cumpre a “atualização do socialismo” que está empreendendo o governo de Raúl Castro?

 

Serrano – Nossos principais desafios estão em garantir a sustentabilidade de um modelo socialista que tem semeado um padrão nesse hemisfério, a poucas milhas dos Estados Unidos, e em meio a mudanças no mundo. Atualizar o socialismo em Cuba é uma tarefa que reunirá milhões de pessoas, que devem opinar, criticar e tomar decisões, avançando e retificando, inventando e errando. Permaneceremos no caminho da unidade do povo em torno do Partido e os seus líderes históricos, Fidel e Raúl, da máxima participação popular na tomada de decisões e da identificação clara de quem é o nosso principal inimigo. Manteremos nossa resistência à hostilidade do governo dos EUA, que continua o bloqueio e ocupando ilegalmente Guantánamo e impedindo que americanos visitem livremente a nossa Ilha. E agradeceremos sempre a vigorosa solidariedade internacional que recebemos e manteremos nossa solidariedade e cooperação com as nações carentes.