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Aprendi muito com ele, coisas que irei passar pra frente enquanto eu viver. Uma delas é sobre o protagonismo. “Olha rapaz, protagonista não é aquele que busca ser importante naquilo que ele faz, e sim aquele que consegue enxergar a importância que tem o que ele faz”.

Por MC Leonardo em 03/08/2015 – Brasil de Fato 

Era setembro de 2008 quando fui convidado pela antropóloga Adriana Facina a participar, como debatedor, de um curso de comunicação no Sindicato dos Contabilistas. Aceitei na hora (mesmo sem saber ao certo pra onde eu estava indo), pois a luta em torno do Funk já tinha me convencido de que era preciso ocupar todos os espaços.

Cheguei cedo, já que eu tinha que partir correndo pra um evento da Apafunk (Associação dos Profissionais e Amigos do Funk) em Acari. Ao chegar ao auditório do sindicato (local do evento), me deparo com algumas pessoas arrumando alguns livros.

Identifico-me, entro no auditório ainda vazio e começo a ler cartazes pendurados nas paredes que contavam a vida de uma tal Rosa Luxemburgo.

Logo escuto uma voz bem rouca atrás de mim:

– Você que é o Funkeiro?

– Sim, sou eu – respondi no susto, pensando que fosse uma bronca.

– Meu nome é Vito. Fique à vontade, não quero atrapalhar sua leitura, essas figuras e palavras não estão aí à toa, estão esperando que alguém as veja e as leia – falou ele.

Fiz sinal de positivo, já bem menos assustado. Pensei: se aquele senhor for compor a mesa junto comigo, eu estou ferrado.

O tempo foi passando, chegando um monte de gente, a mesa foi preparada e os papéis foram colocados com os nomes na mesa: Mc Leonardo, Adriana Facina e Vito Giannotti.

Pensei comigo: Não pode ser!

Depois do debate, os participantes que pediram pra falar me pediram desculpas por tanto preconceito, ou seja, assumiram uma discriminação que tinham contra o Funk.

Quando eu estava saindo, o Vito foi falar comigo e emendou uma pergunta:

– Tá bom Mc, eu entendi. O Funk é cultura, mas o que é cultura pra você?

Respondi:

– Cultura pra mim é tudo!

E ele respondeu:

– Pois quero que saiba que a comunicação é mais que tudo.

E a partir daquele momento eu passei a defender o Funk como veículo de comunicação antes de tudo. Participei de tudo que fui convocado por ele, tive o prazer de tê-lo do meu lado sempre que o procurei.

E nos últimos encontros eu tive que ouvir dele: “Cadê a ‘porra’ do teu boletim Mc?”

Tanto insistiu que falou o seguinte:

– Tu vai ficar enrolando com essa “porra”? Vou ligar agora pro Brasil de Fato, você vai escrever uma vez por semana, não quero nem saber se você quer.

Além de ser o maior responsável pelo espaço que ocupo semanalmente no Jornal Brasil de Fato, Vito foi o maior incentivador da minha colaboração na revista Caros Amigos.

PROTAGONISMO

Aprendi muito com ele, coisas que irei passar pra frente enquanto eu viver. Uma delas é sobre o protagonismo. “Olha rapaz, protagonista não é aquele que busca ser importante naquilo que ele faz, e sim aquele que consegue enxergar a importância que tem o que ele faz”.

Chorei quando recebi a notícia de sua partida, chorei em seu velório e pela primeira vez escrevo chorando. Conheço esse choro, ele é de despedida, ele vai passar.

O que não vai passar são as gargalhadas que ainda darei por tudo o que ele fez. E o que ele fez foi e sempre será mais importante. Viva a luta dos trabalhadores, viva Vito Giannotti!