Não, não, não. Não quero Caveirão, eu quero o meu dinheiro na saúde e educação”. Este é o grito de ordem com que a marcha organizada pela Campanha Contra o Caveirão reivindica o fim da utilização pela Polícia Militar do Rio de Janeiro do veículo. O blindado é conhecido como Caveirão pelas favelas e comunidades da periferia, e como Pacificador, pela Secretaria de Segurança Pública. O ato na quarta-feira, dia 7 de junho, com cerca de 200 pessoas do Largo do Machado ao Palácio Guanabara, sede do governo do estado, foi organizado pela Rede de Comunidades e Movimento Contra a Violência, ONG Justiça Global, Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis (CDDHP) e Anistia Internacional.

A marcha objetivava marcar uma audiência pública com a governadora Rosinha Garotinho. Entretanto, uma comissão composta por integrantes de cada movimento foi atendida pelo Secretário de Estado do governo, Ricardo Bittar, que se comprometeu em agendar uma reunião com o Secretário de Segurança. “Entregamos ao Bittar um ofício solicitando a suspensão do uso do veículo blindado e de uma audiência pública com a governadora. Vamos aguardar um contato”, disse Paula Capper membro do CDDHP. 

 Segundo o pesquisador da ONG Justiça Global, Marcelo Freixo, a idéia da reunião com a governadora procura encaminhar o material da campanha, que são os cartões postais com a foto do carro blindado, os abaixo-assinados e materiail didático feitos sobre a atuação do Caveirão. E saber o quê se pretende com a utilização de uma política de segurança que tem no carro blindado o único instrumento do Estado presente nas favelas. Ele diz ainda que a campanha não é contra o Caveirão, mas contra o seu significado, pois é o símbolo de uma política ineficaz no combate à criminalidade e perigosa para as pessoas que vivem nas favelas. “Essa política aposta no grau de letalidade da polícia como um instrumento para medir sua eficácia. Hoje temos a polícia que mais mata no mundo e não resolve os problemas fundamentais de violência da cidade”, afirma.

De acordo com a integrante da Rede de Comunidades e Movimento Contra a Violência, Isabel Martins, as pessoas pensam que os moradores da favela estão em defesa dos traficantes e que o carro blindado protege os policiais. “O que a gente quer é continuar vivo. Quem trabalha nas comunidades também está sendo prejudicado. É uma relação de poder que ocorre dentro desse território, onde as pessoas perdem o seu bem mais precioso que é a vida. E não existe negociação com o Caveirão, porque não há como identificar quem está dentro do carro”, diz. (junho de 2006)

(Renata e Nestor são da Renajorp)