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Resgate histórico coloca a mídia como viabilizadora de golpes em países latino-americanos

[Por Paula Zarth Padilha – Terra Sem Males] Na mesa “Comunicação em tempos de golpe”, realizada durante o 23º Curso Anual do NPC na tarde de sexta-feira, 24 de novembro, o jornalista Beto Almeida, da Telesur, listou golpes de Estado ocorridos em diversos países da América Latina, situando os meios de comunicação como fomentadores das quedas ou tentativa de derrubada de presidentes que governaram favorecendo políticas públicas e sociais para a população.

Foram mencionados os casos ocorridos no Paraguai, de Fernando Lugo; Honduras, de Zelaya; e da Líbia de Khadafi; e a tentativa de derrubada de Hugo Chavez na Venezuela, na forma como a mídia atuou para criminalizar as ações desses presidentes. Beto Almeida falou sobre as experiências das equipes da Telesur, que fizeram a contra-hegemonia nesses momentos.

O professor e pesquisador Ed Wilson Araújo apresentou informações sobre o papel da imprensa no golpe de 1964, que foi articulado desde 1962 visando a aceitação da opinião pública ao golpe, sob a lógica da “doutrina da segurança nacional”. Essa doutrinação era preparada com inserções em TV, jornal, rádio, cinema, palestras, simpósios, conferências recrutando intelectuais, artistas, religiosos, banqueiros numa ação ideológica e social de manipulação de notícias.

Essa guerra psicológica provocou histeria na classe média da época e tudo foi financiado com a coleta de recursos de banqueiros e entidades patronais desde 1959, com a criação de uma associação de anunciantes, que eram distribuídos aos veículos de comunicação hegemônicos. A ação resultou no apoio da opinião pública ao golpe militar de 1964.

A jornalista Sylvia Moretzsohn, pesquisadora da UFF, expôs como atualmente portais como Estadão, Folha, O Globo, se utilizam de manipulações criminosas de manchetes para passar mensagens distorcidas de sentido para seus leitores. “Esses veículos criam uma situação, adubam com veneno da suspeita e colhem o resultado. A engrenagem é essa”, pontuou.

A mesa foi encerrada com o depoimento de Acioli Cancellier de Olivo, que retratou o papel da imprensa no suicídio do seu irmão, o Reitor da UFSC Luis Carlos Cancellier. Acioli relatou que no dia 14 de setembro a Polícia Federal invadiu a casa de Cancellier, que foi levado para prestar interrogatório. Para cumprir 7 mandados contra professores da universidade, foram mobilizados 105 policiais. A delegada que comandou a operação foi personagem do filme da lava-jato, retratada como heroína, e concedeu coletiva de imprensa antes de formalizar o interrogatório, dizendo que ele era acusado de desvio de R$ 80 milhões. Antes do depoimento, o rosto e nome do reitor foi estampado nos jornais.

Contudo, o inquérito era a respeito de uma investigação por obstrução da justiça e, segundo seus familiares, por procedimentos burocráticos inerentes a sua função. Ele foi acusado de formação de quadrilha e passou por revista íntima vexatória em uma penitenciária “Passou duas horas nu com pés e mãos acorrentados”, denunciou. A justiça mandou prender, destituiu do cargo, o proibiu de entrar na UFSC e de manter contato com colegas. Ele foi libertado por outra juíza e 18 dias depois de atirou de dentro de um shopping em Florianópolis.

As relações da imprensa com o golpe são visíveis no Brasil em 2017, com uma campanha de guerra fazendo prevalecer o pensamento da elite. O golpe foi contra a classe trabalhadora, contra os mínimos avanços sociais. E está se espalhando por retrocessos nas diversas instituições públicas.