Por Gabriela Gomes e Keila Machado

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Gaudêncio Frigoto, Vito Giannotti e Andrelino Campos falam sobre comunicação, cultura, educação e ideologia

A  jornalista, Claudia Santiago, na primeira mesa de debates do 2º dia do curso anual, saudou os participantes e falou sobre as belezas naturais e históricas do Rio de Janeiro. Cláudia lembrou o papel do comunicador hoje e destacou a pauta da comunicação sindical. Destacou ainda a diversidade de sotaques dos que ali estavam presentes, ressaltando que acrescentava mais valor e beleza ao curso.

Após essa saudação inicial, teve início a primeira mesa de quinta-feira. Coordenada por Sheila Jacob, jornalista do NPC, a mesa contou com os seguintes participantes: o professor de geografia, Andrelino Campos; o filósofo e professor, Gaudêncio Frigotto; e o coordenador do NPC, Vito Giannotti.
cultura1Gaudêncio iniciou sua fala lembrando a importância do dia da consciência negra. Destacou que o movimento se tornou forte e entrou em pauta no Congresso Nacional, tendo obtido importantes conquistas como, por exemplo, o sistema de cotas. Isso mostra como é importante os movimentos sociais pautarem assuntos de interesses da população para o parlamento. Esse tipo de movimento ganha o apoio popular, cresce e aparece. Para ele, tem muitas outras lutas que precisam entrar na pauta como a reforma agrária, por exemplo. Ele lembra que para a direita reforma agrária é coisa de comunista. No entanto, como afirmou, “é questão de sobrevivência”.
O professor Gaudêncio destacou também o perigo do agronegócio e como ele hoje vem sendo absorvido pelas crianças, até mesmo de escolas públicas. O agronegócio mata muitas pessoas todos os anos. Segundo ele a realidade nos estados produtores de grãos não é fácil. Ele destacou que essas informações dificilmente circulam pelos veículos de comunicação hegemônicos.

“Normalmente, nem os estudantes de faculdades públicas tem esses dados, já que instituições são muito conservadoras”, observou. Segundo ele, a ideologia que entende positivo o agronegócio se estender até as escolas, principalmente rurais, e as crianças acham que é algo positivo.
Ele lembrou ainda que o Brasil garante segurança alimentar ao mundo, enquanto tem brasileiro passando fome ou comendo muito mal. “Não se pode aceitar isso. A mídia hegemônica não aborda esses assuntos e nem os congressos do MST. Depois falam que são imparciais. Claro que os comunicadores e os demais participantes do curso não acreditam nele, já que tem acesso a informações alternativas. Estas devem ser publicadas em seus veículos para que os trabalhadores tenham outro tipo de informação”, convocou.
Ele finalizou falando que temos a classe dominante mais violenta do mundo. “O que demostra isso é o grande número de analfabetos que o Brasil tem”. Um exemplo que o professor cita é a falta de cinema. Enquanto aqui faltam salas, na Argentina, por exemplo, toda cidade com mais de 20 mil habitantes tem que ter sala de cinema. Ele também lembra que, com a Lei dos Medios, a Argentina está conseguindo acabar com o monopólio da mídia. E isso é fundamental para construir um país melhor. “A nossa mídia faz propaganda de que somos todos pela educação. Todos quem? Grandes grupos econômicos estão “colaborando” com a educação no Brasil, como o grupo Civita, Natura, Gerdal entre outros. Esse mesmo grupos são contra as reivindicações dos docentes hoje”, observou. O professor fez várias críticas ao governo Dilma, mas acha que se o PSDB voltar ao poder será um grande retrocesso.

 

A produção de espaços criminalizados


cultura2O professor Andrelino Campos, autor do livro Do quilombo à favela, falou sobre a produção das diferenças entre indivíduos, ou seja, o “nós” e os “outros”, e como são produzidos os espaços e os pensamentos criminalizados.
Segundo o professor, é preciso que aprendamos com o outro, pois isso contribui na formação e criação do sujeito. Falou ainda do estigma, preconceito, discriminação e segregação que a favela e seus moradores sofrem. “O discurso da exclusão social e da criminalização do espaço ocupado pelos pobres urbanos faz o indivíduo acreditar que se é criminoso pelo lugar em que se mora”, observou.
Em relação ao Estado, Andrelino acredita que acontece um contraste e conflito quando dizem por aí que “o Estado perdeu o controle das comunidades”. Na opinião do professor, o Estado sempre esteve presente onde quis estar. Essa história, segundo ele, vem desde os quilombos até os dias de hoje.
Andrelino deu ainda definições do que é quilombo (estrutura sócio espaciais erguida ao longo do império) e quilombo-de-rompimento (estrutura espacial de guerra, onde a política de esconderijo e do segredo das ações eram guardadas; guerra de movimento).
Se tratando de história, Andrelino sustenta a ideia de que essa discriminação, preconceito e dificuldade sofrida pelo negros atualmente, é um fato antigo e recorrente, acontece desde a época dos escravos: “O fato de um sujeito ser pensado ou denominado por outro de forma ‘menor’ vem desde a época dos quilombos”.

 

Comunicar para disputar hegemonia
cultura3O terceiro palestrante da mesa foi o escritor Vito Gionnotti, coordenador do NPC, que falou sobre o papel do comunicador sindical, o comunicador que tem certeza de seu papel social. Para isso é fundamental que se tenha organização. “Outra situação extremamente importante é que temos que nos conscientizar de que temos que convencer. Convencimento é o que os veículos comerciais fazem, com todos os seus meios, revistas, rádios, jornais e TVs. Convencimento para construirmos outra sociedade”, alertou. Ele falou ainda que o símbolo dessa sociedade que se quer construir, com união e coletividade, é o punho cerrado. Esse símbolo é uma oposição aos valores transmitidos pelos filmes estadunidenses, simbolizados pelo individualismo do dedo do meio levantado.

 

Giannotti disse que os trabalhadores devem utilizar os seus meios de comunicação, sejam os jornais, sites ou revistas, para tornar “nossa ideia hegemônica”, ou seja, a ideia da construção de outra sociedade. Vito deu um exemplo mostrando uma capa da revista Veja com várias modelos, sem qualquer mulher negra ou indígena. “A visão hegemônica da mídia patronal é deixar as coisas como estão. A nossa parte é tirar o dedo da individualidade e passar para o punho cerrado. Quando se fala em democratizar as mídias, os grandes grupos passam a ideia de que no Brasil se quer implantar uma ditadura midiática. Democratizar os meios de comunicação pra os empresários é um crime”. Ele ressaltou ainda que, ao contrário do que se ensina nas escolas de comunicação, a mídia comercial não é neutra: ela tem o lado do patrão e defende uma classe específica.
Para ilustrar, ele deu alguns exemplos. Primeiro é a cobertura de uma paralisação: “toda greve é colocada de forma negativa pela mídia, porque ela tem lado, o lado do patrão”. Outro exemplo foi a cobertura feita pela mídia hegemonia contra a lei que legaliza o trabalho da empregada doméstica.
Giannotti finalizou convocando os trabalhadores a esquecerem seu próprio umbigo e falar a partir dos interesses específicos da categoria para fora dela. “A mídia sindical tem que falar de tudo, colocar-se de forma contra-hegemônica para disputar e conquistar corações e mentes”, concluiu.