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“Diante dos questionamentos, das câmeras de filmagens e dos cartazes, os policiais militares (PMs) fizeram o que foram treinados a fazer, a violência – seu leso costume desde a Ditadura Militar”

Por Fábio Py Murta de Almeida / Caros Amigos

Domingo dia 13 de julho de 2014 era para ter apenas a festa (elitista) da Final da Copa do Mundo. Mas, ao inverso do explorado pela mídia hegemônica, outras cenas (também) chamaram a atenção. Manifestações foram organizadas desde a manhã até o horário do jogo na Grande Tijuca. A primeira manifestação seguiu da Praça Afonso Pena até a Praça Saens Peña. Com um contingente de policiais acompanhando a centena de manifestantes reunidos contra a Copa e as prisões de dezenove ativistas, presos sob acusação de planejarem atos de violência na final da Copa.

No ato da Saens Peña o contingente de policiais já era maior do que os manifestantes. Os que protestavam eram formados por jovens, jornalistas, pessoas de mídias alternativas, cineastas, representantes de grupos políticos e professores. Com tempo iam aumentando o número de policiais de tal forma que envolveram a praça. Fizeram um círculo permitindo que entrassem nele, mas até terminar a final do Maracanã as pessoas no interior não poderiam sair. Assim, iniciaram os desentendimentos. Na verdade nem confronto houve. Por que os manifestantes estavam em menor número, sem armas, nem qualquer objeto ou forma de defesa. Diante dos questionamentos, das câmeras de filmagens e dos cartazes, os policiais militares (PMs) fizeram o que foram treinados a fazer, a violência – seu leso costume desde a Ditadura Militar.

Agressões

A imagem que marcou foi da manifestante que tomou dois chutes do PM. Como se pode ver no vídeo, o terceiro, indicado abaixo, o PM vem em sua direção e a chuta covardemente. Na filmagem, depois de violentada, a manifestante tenta conversar com um dos PMs. Ele, no alto de sua inteligência milico-amebóide, dispara uma série de frases torpes. Primeiro diz que ela fez algo para tomar um chute. Depois, não satisfeito, profetiza que ela no futuro vai se arrepender do que faz, isto é, de manifestar. Entende que lutar é coisa de criança, de gente desocupada – no alto da brilhante filosofia militar made in Anos de Chumbo. A manifestante pergunta se ele tem família e filhos. Ele indica que não, mas que está aberto a possibilidades. O machão brincando afirma que teria rolado um “clima com ela”. Assim, nesse diálogo, se tem as justificativas para a violência policial. Como o filósofo afirma: professores, educadores, jornalistas, secretários, advogados, e todos que participam de manifestação são todos desocupados, “filhinhos de papai e mamãe”. Como bom conhecedor da cartilha militar (ligada à ordem e progresso) antevê, em tom irônico, que a violentada, no futuro, veria tudo diferente. Pois ela no futuro trabalhará de verdade, numa grande empresa, nesse caso, a Petrobras. O problema é que no seu pensamento assume que ser professor, jornalista, repórter, educador não é futuro para ninguém. Mas sim, o trabalho nas empresas, isso sim, dignifica o futuro da nação. E, por fim, a brincadeira no mínimo machista indicando que teria se interessado por ele. É claro. Assume-se a hipótese pronunciada no ano passado quando, a partir das manifestações de 2013, os grupos citadinos perceberam como os moradores das favelas eram tratados pelos fardados.

E nesse domingo houve algo mais simbólico quando tomaram a Praça Saens Peña, distribuindo seu rico arsenal de chibatadas. Fico aqui com um incômodo, pois se fazem isso em plena luz do dia, no centro da Grande Tijuca, sobre as fotos e as câmeras, imagina o que fazem quando sobem os Morros nas vielas e no breu da noite? Será que apenas chutam? Ou jogam bombas de gás lacrimogêneo? Ou apenas dão cantadas machistas para as filhas, meninas e mulheres?

Tudo isso é no mínimo preocupante. Contudo é bom que se perceba, pois, o que ocorreu domingo é apenas uma mostra dos crimes que são praticados pelas fardas da PM. O que se espera é que ao menos se puna tais militares criminosos. E que se abra a possibilidade de se desmilitarizar essa instância, que não presta o serviço para o qual foi constituída.

Vídeos:

• PMs batendo no jornalista estrangeiro sentado: https://www.youtube.com/watch?v=2i9RylL6fcg&sns=sms;

• Uma geral da manifestação:  https://www.youtube.com/watch?v=EK9F9pSu-yk&feature=youtu.be&app=desktop;

• A manifestante sendo violentada e debochada pelo policial: https://www.youtube.com/watch?v=pzS50QVcRmk&feature=youtu.be


♦ Fábio Py Murta de Almeida é teólogo, historiador e doutorando em Teologia pela PUC-RJ. Articulador do blogfabiopymurtadealmeida.blogspot.com