O Escola Sem Partido nasceu há mais de dez anos por obra de um advogado desconhecido e de poucas luzes. Ganhou uma simpatia acanhada do Instituto Millenium; seu programa era tão bisonho que mesmo uma direita minimamente ilustrada não pode adotá-lo.

Sua projeção vem da associação com os setores mais incultos da nova direita, que ganharam espaço nos últimos tempos. São olavetes, bolsominions, MBL, Revoltados On Line: gente que deseja impor ao mundo as trevas que imperam em sua vida mental. Gente que acredita realmente que é possível entender a sociedade contemporânea ignorando a obra de Karl Marx.

No caminho, o Escola Sem Partido incorporou também o combate à “ideologia de gênero”, uma invenção dos setores mais reacionários da Igreja Católica que ganhou a adesão entusiasmada da direita evangélica. E aí se torna necessário acreditar que os papéis de gênero são derivações automáticas das diferenças biológicas, algo que só se sustenta com uma ignorância épica sobre o que são e como se construiram as sociedades humanas.

No Congresso Nacional, são também os parlamentares mais despreparados intelectualmente que abraçam a “causa”: gente como Izalci Lucas, Magno Malta, Robson Marinho. Imagino que nos estados e municípios seja a mesma coisa: quem se esquece da espantosa performance de Ricardo Nezinho, o deputado que aprovou a lei da mordaça para a educação alagoana, tentando explicar seu próprio projeto e sendo incapaz de produzir mais do que grunhidos e palavras desconexas? A crer no notório Van Hattem, o paladino gaúcho da criminalização da docência, os que são mais ensinados também só têm a casca.

Pois o debate público no Brasil está tão degradado e a direita brasileira está tão irresponsável – entregando o que pode a seus radicais, aos fundamentalistas de diversos naipes, aos trogloditas de sua tropa de choque – que estamos travando, na educação, batalhas que já haviam sido vencidas há décadas, quando não há séculos. A intimidação de professoras e professores, que é a arma preferencial deles, caminha a passos largos. É urgente uma mobilização nacional para enterrar tais retrocessos e proteger o direito de ensinar e, sobretudo, os direitos de aprender e de produzir pensamento autônomo, que estão sob ameaça.