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[Por Ívina Costa – NPC]     A Petrobrás divulgou nesta terça (21.03) o balanço financeiro de 2016. Pelo terceiro ano consecutivo, a estatal teve prejuízo financeiro, desta vez de 14,8 bilhões. Em 2015 foi pior: um prejuízo recorde de 34,8 bilhões e, em 2014, de 21,6 bilhões. Em decorrência desses resultados, a estatal não fará o pagamento de dividendos aos acionistas e também não pagará a Participação dos Lucros e Resultados (PLR) aos empregados.

 

Com base nos dados da gestão Pedro Parente, que assumiu a presidência da estatal em maio de 2016, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) fez uma análise crítica da política adotada pela empresa. O resultado foi apresentado ao vivo pelo Facebook. José Maria Rangel, coordenador da FUP, conduziu o debate que teve a participação dos economistas Cloviomar Cararine, Rodrigo Leão e Eduardo Costa Pinto.

 

Cloviomar Cararine, economista do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), destacou a importância dos investimentos realizados pela empresa entre 2007 e 2013. “A geração de caixa operacional cresceu 4% em 2016, chegando a 90 bilhões de barris. Isso tem muito a ver com os resultados desses investimentos e a entrada da produção nos campos do pré-sal. Esses dois indicadores mostram que a empresa é rentável e gera bastante riqueza a partir dos campos do pré-sal”.

 

O pré-sal representa hoje mais de 50% da produção da Petrobrás. Com esta exploração, a empresa aumentou a participação do óleo nacional nas refinarias, chegando a 92% em 2016, reduziu importações e melhorou a qualidade da gasolina. Segundo os economistas que assessoram a FUP, isso teve impacto no lucro operacional de 2016, que foi de 17,1 bilhões, com uma produção recorde de 2,94 milhões de barris no final de dezembro.

 

No último trimestre do ano, a companhia registrou lucro de 2,5 bilhões. Mesmo assim, fechou o ano com prejuízos de quase 15 bilhões. Para Cararine, o principal motivo são os impairments, ou seja, a paridade de preços que as empresas adotam. Para esclarecer a população, o economista faz uma comparação simples: “isso é o mesmo que um cidadão ter uma casa e o preço do imóvel ir variando, conforme a conjuntura. Se há violência próximo ao local da casa, o preço cai. E se for construído o metrô, o preço sobe”.

 

O tempo todo as empresas vão avaliando os seus ativos (bens). Segundo eles, de 2014 para cá, a Petrobrás fez um volume de impairments muito grande. “Em 2016, o volume foi de 21 bilhões de redução do valor dos ativos. E, no total dos três anos, chegamos a 112 bilhões de reais. Numa comparação simples, esses 112 bi de redução significam 17 vezes os 6 bilhões que a empresa declarou em 2014 como perdas causadas pelos crimes de corrupção investigados na operação Lava Jato”, ressalta Cararine.

 

Isso mostra que a Petrobrás tem adotado uma política diferente em comparação a  outras grandes empresas. “Enquanto, nesses três anos, a Petrobrás faz uma redução de cerca de 40 bilhões de dólares com os impairments, a Exxon e a Chevron fizeram apenas dois bilhões cada uma. Ou seja, nenhuma outra petroleira do mundo e nenhuma outra grande empresa do mundo faz impairments do jeito que a Petrobrás fez. E, usando, para isso, avaliações e indicadores que não deveriam ser usados de forma rotineira como, por exemplo, o preço do barril, que tem a sua flutuação, o câmbio e a taxa de juros”, explica Cararine.

 

Desmistificando o discurso da atual gestão

Para Eduardo Costa Pinto, professor do Instituto de Economia da UFRJ, 80% da dívida da Petrobras em 2016 tem relação com à moeda estrangeira. Ou seja, a empresa sobre um forte impacto do câmbio. E outro fator que deve ser considerado, segundo ele, é a redução no preço do petróleo internacional. “No balanço você percebe 22% de redução da dívida bruta. Esse percentual, em grande parte, foi fruto da apreciação do câmbio de 16%. Ou seja, não foi o resultado de uma grande gestão financeira, mas sim de um indicador macroeconômico que não está sobre o controle da Petrobrás”.

 

Em relação à dívida líquida, a Petrobrás estabeleceu a meta de 2.5 para 2018. Eduardo considera o percentual razoável, mas não num prazo tão curto. “Dessa forma, há uma aceleração no processo de desalavancagem (redução da dívida) e isso implica em vender ativos”.  A escolha desse indicador se deve a um plano da empresa para reduzir os juros pagos pelos empréstimos. Mas, ao vender os ativos como, por exemplo o pré-sal e a BR Distribuidora, ela perde fluxo de caixa futuro. “Se ela não vendesse nenhum ativo, chegaria nessa meta de 2.5 em 2021”, afirma Eduardo.

 

Economista do DIEESE e mestre em desenvolvimento econômico pela Unicamp, Rodrigo Leão explica que o processo de aceleração do pagamento da redução da dívida e os impairments dialogam com uma estratégia da empresa de fazer dos investimentos venda de ativos e, ao mesmo tempo, reduzir o volume de investimentos. “Ela começa a reduzir o valor de seus campos e plataformas para facilitar o processo de vendas”. Ele esclarece que é a mesma lógica da casa de um cidadão, citada anteriormente pelo colega. Quando não há investimentos, a casa se deteriora (sofre danos) e o valor de venda cai.

 

Na gestão de Pedro Parente, a Petrobrás já vendeu uma série de campos do pré-sal e anunciou a saída da empresa de várias áreas, como biocombustível, GLP, fertilizantes, petroquímicos. Rodrigo acrescenta que, entre 2015 e 2016, a Petrobrás reduziu 25% do valor dos investimentos no setor de exploração e produção, o mais importante do ponto de vista de geração do próprio óleo e tecnologia, o que representa 16 bilhões de reais.

 

A estratégia de venda dos ativos, segundo ele, tem a ver com o interesse do governo de atrair o capital estrangeiro e sofre influência da própria geopolítica do petróleo.  “Do ponto de vista internacional, é importante lembrar que, atualmente, há uma dificuldade de descobrimento de novas reservas. Portanto, o pré-sal, num certo sentido, tem um papel fundamental do ponto da geopolítica do petróleo. Em 2035, o Brasil vai ser um dos maiores produtores de petróleo do mundo. Então, o pré-sal  hoje é um ativo que as empresas mundiais estão de olho. Por isso, há um grande interesse da parte delas em entrar para o mercado nacional”.

 

Para concluir, o coordenador da FUP, José Maria Rangel, chama atenção para o seguinte fato: o discurso mais adotado pela empresa e reproduzido na grande mídia, aponta a corrupção como a principal causa da dívida. E ele questiona isso. “Por que o presidente da Petrobrás não menciona que todas as grandes empresas de petróleo do mundo passam por situações parecidas com a da Petrobrás, fruto da brutal queda do preço do barril de petróleo? Todas tem apresentado resultados negativos, salvo raríssimas exceções. É preciso que fique claro que o problema da Petrobrás não é corrupção e sim os ataques que está sofrendo pela própria gestão, através dos drásticos cortes de investimentos e vendas de ativos, que estão acabando com a empresa”.