Sábado, dia 22 de abril, no começo da tarde, a GloboNews retoma os acontecimentos de Paris, de março e começo de abril. Numa hora em que o telespectador, presumivelmente, estaria relaxado e despreocupado, ela destila sua ideologia neoliberal, sem meias palavras. O locutor Silvio Boccanera analisa tranqüilamente os acontecimentos franceses a partir das revoltas dos jovens estudantes. Sem querer solta uma frasezinha que nos dá o termômetro da reportagem inteira: “O governo francês tem uma política paternalista que protege quem não trabalha”.

Pareceria uma frase inócua. Mas não é. No imaginário coletivo, aqui e na França, na China ou na Argentina, quem não trabalha é… vagabundo. Não quer saber de trampo. Por que o repórter da GloboNews não disse que o tal governo tem uma política que dá proteção ou cobertura aos desempregados, aos que estão sem trabalho? Não, não existe desemprego. Não existem desempregados. Para a GloboNews o mundo se divide entre os que trabalham e os que não trabalham. Não há causas a serem levantadas. Aliás… esta frasezinha se encaixa muito bem na ideologia dominante do neoliberalismo que prega que só não trabalha quem não quer. Não trabalha quem não cuidou da sua “empregabilidade”. Isso se chama de destilação de ideologia em doses homeopáticas.

Mas não é só nesta frase que está a ideologia do projeto neoliberal. A Globo, seja no seu canal aberto, seja nos canais fechados, é muito coerente. Disputa a sua visão de mundo em cada linha, pouco importa quem seja o repórter, o enviado especial, o âncora, o comentarista ou o locutor que esteja dando a notícia. Poucos segundos após ter falado dos que “não trabalham”, Boccanera faz uma defesa clássica da flexibilização das leis trabalhistas. Sem mais nem menos desfila todo o rosário da fé neoliberal. Diz que o custo da mão de obra é muito caro, na França. Que é preciso diminuir o custo do trabalho. Diz que se a França não fizer assim, o País quebra, etc. etc. É assim que a burguesia defende seus interesses de classe. Sem perder uma ocasião para fazer cabeça. Seja falando da França ou do Brasil.

(Por Vito Giannotti)