Gráficos 1858 – 2008: uma luta de 150 anos

Por Vito Gianotti – publicado na revista Dois séculos de luta dos trabalhadores gráficos do Brasil, da Conatig

Em vários livros de história do Brasil fala-se da greve dos gráficos do Rio de Janeiro, em 1858. Sua importância se deve ao fato de ter sido o primeiro movimento de trabalhadores que teve visibilidade. Antes tinham acontecido pequenos protestos em oficinas ou nos portos. Mas o movimento iniciado em 9 de janeiro de 1858 foi o que mais apareceu. Foram 60 trabalhadores gráficos de todas as profissões daquele tipo de indústrias, liderados pelos tipógrafos que pararam um setor-chave da capital do país.

Naquela manhã do dia 9 de 150 anos atrás, o Jornal do Commercio, o Correio Mercantil e o Diário de Rio de Janeiro não apareceram. Os trabalhadores daquelas gráficas estavam em greve. Exigiam um aumento nos salários que estavam engolidos pela “carestia”. Queriam também melhorar todas as condições de trabalho.

No segundo dia de greve, no lugar dos tradicionais jornais sai um novo jornal, o jornal dos grevistas: O Jornal dos Typógraphos.

Gráficos dão lição de luta e organização

Desde 1840 os gráficos tinham criado a Associação dos Typógraphos. Esta, cinco anos antes da greve de 1858, se transformou na Imperial Associação Typographica Fluminense. Foi esta associação que financiou a publicação do jornal da greve. O jornal era diário e continuou com quatro páginas até 12 de março daquele ano.

Nos vários artigos falava-se de reivindicações imediatas como salários e condições de trabalho, mas havia as raízes de posições mais politizadas. Num dos artigos pode-se ler a “necessidade de negar a falsa crença da obediência e dedicação a seus pretendidos senhores”. Em outro exigem “o fim da exploração do homem pelo homem”.

A greve acabou vencida pela intransigência dos patrões protegidos pelo governo imperial. Foi derrotada, mas ficaram as lições.

A principal lição é o exemplo da construção da organização para lutar. Naquele tempo, no Brasil, não havia ainda uma classe trabalhadora urbana. O País era um dos últimos paises das Américas onde ainda existia escravidão. Quase não havia fábricas, salvo umas vinte pequenas tecelagens e a cervejaria Bohemia.

Enquanto isso, na Europa e EUA já existiam milhares de fábricas com milhões de operários. Estes já faziam greves. Na Inglaterra já tinham acontecido greves gerais pela redução da jornada de trabalho, por aumento dos salários e por melhores condições de trabalho. Mas no Brasil o nascimento da industrialização ainda demoraria até o começo do século XX e só então começaram as lutas operárias.
É nesse quadro que a luta dos gráficos foi um grande exemplo de luta e organização que será seguido, já nos anos 1880 e 1890, pela nascente classe operária brasileira.

A luta continua no século XX

Os gráficos foram muito ativos em todos os movimentos grevistas a partir de 1900. Era uma categoria politizada que lidava com a informação. Até 1930, quando se firmou a “Era do Rádio”, toda notícia passava pelos gráficos. Eles eram essenciais em todo movimento dos trabalhadores.

Eram eles que rodavam todos os inúmeros jornaizinhos feitos por operários e intelectuais irmanados no esforço de organizar as lutas e politizar a classe trabalhadora que lutava por seus direitos básicos: não morrer de fome, não morrer de tanto trabalhar e não morrer de acidentes de trabalho.

Todos os mais de 150 jornais operários deste período, entre 1875 e 1930, passaram pelas mãos dos trabalhadores gráficos. O jornal da COB, a primeira organização operária de alcance nacional, a Voz do Trabalhador, tinha a participação ativa de trabalhadores gráficos.

Gráficos ativos em muitas greves históricas

Desde o começo do nascimento da classe trabalhadora urbana, vimos que os gráficos estiveram na vanguarda das lutas.

No começo do século XX aconteceu, em São Paulo, a grande greve de 1917. O jornal A Plebe foi o grande veículo de informação para os grevistas que chegaram a tomar a cidade de São Paulo por três dias. A greve acabou vitoriosa. Conquistou-se aumento de salário, rebaixamento do custo dos aluguéis e promessa de redução da jornada de trabalho para 8 horas.

A Plebe, em 1919, tornou-se diário, durante quarenta dias. Gráficos, linotipistas, impressores e todo tipo de profissionais tornaram possível esta façanha. Até que em 20 de outubro daquele ano a repressão fechou o diário dos trabalhadores e prendeu todos os que trabalhavam no jornal.
Neste mesmo ano, os gráficos de Recife, de maio a outubro também publicaram o jornal diário A Hora Social. A mesma repressão comandada pelas classes dominantes, fechou, prendeu e arrebentou esta experiência heróica de comunicação dos trabalhadores. Por vários meses A Hora Social foi diário!
O ano de 1923 foi marcado por uma forte greve dos trabalhadores das indústrias gráficas, em que a União dos Trabalhadores Gráficos-UTG, além de estimular a greve foi um fator permanente de organização.

Na década de 1950, o Brasil viveu um surto de forte crescimento industrial. Milhões de migrantes saíram do Nordeste para trabalhar nas fábricas do Sul, especialmente em São Paulo. As indústrias cresciam, o custo de vida subia e os salários estavam estagnados. Centenas de greves aconteceram nestes anos. Muitas foram greves de grande envergadura.

Dentre as mais famosas estão a Greve dos 300 mil, de 1953, em São Paulo, e a Greve dos 700, na mesma cidade em 1957. Nas duas, os gráficos foram uma das categorias mais ativas que participaram do Comando geral de Greve.

Estas datas são só um pequeno lembrete das raízes da história dessa categoria politizada, organizada e mobilizada. A luta dos gráficos de hoje se insere neste grande rio das lutas de todos os trabalhadores do país.



Texto completo em: http://www.piratininga.org.br/novapagina/leitura.asp?id_noticia=3963&topico=Hist%F3ria

 

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