Foto: Cristina Froment

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Por Sérgio Domingues*

A covarde repressão que se abateu sobre os professores municipais do Rio de Janeiro nos últimos dias é vergonhosa. Mais vergonhoso é o comportamento da grande imprensa. Com exceção do jornal Extra, os demais se desdobram para justificar a violência de que são vítimas os educadores.

Foram cerca de 50 dias de paralisação até que o prefeito resolvesse ouvir a categoria. Eduardo Paes apresentou como resposta às reivindicações dos professores a promessa de apresentar um plano de carreira que contemplasse suas exigências.

Os professores suspenderam a greve, mas o plano de carreira mostrou-se uma fraude. A proposta deixou de fora 93% da categoria, por exemplo. Só vale para os professores em regime de trabalho de 40 horas semanais, que são minoria.

Os educadores voltaram a paralisar as atividades. Mesmo assim, Paes enviou o projeto para a Câmara de Vereadores, cuja maioria é por ele controlada. Os professores passaram a pressionar o legislativo municipal. Foram recebidos a cassetete, gás de pimenta, gás lacrimogêneo, balas de borracha.

Enquanto isso, a grande imprensa fazia sua parte da maneira mais deslavada. Não explica o que aconteceu. Não diz que o prefeito deu um golpe nos educadores. Fala das manifestações e atividades como se fossem matéria de boletins de trânsito. Faz tudo para jogar a população contra os trabalhadores em greve.

Em sua edição de 02/10, o Globo voltou a tratar o massacre sofrido pelos professores na Cinelândia no dia anterior como choque, confronto, conflito. Preferiu se concentrar na informação de que há vários militantes políticos do PSOL e do PSTU na direção do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação.

Então, é assim. São militantes políticos, pau neles. Falando nisso, os profissionais da imprensa parecem estar sendo poupados pela violência da polícia, diferente do que vinha acontecendo há alguns meses. Bom para eles, que só estão cumprindo seu dever. Mas melhor ainda para seus patrões, que não precisam ficar zangadinhos com o comando da PM. O azar sobrou para quem luta por seus direitos.

Mas parece que chegamos a uma espécie de esquizofrenia jornalística, também. Fotos e vídeos dos próprios veículos não puderam deixar de mostrar os educadores submetidos ao tratamento mais violento. Mas os textos falados e escritos referem-se a “confronto”, “confusão”, “choque”. Como se os dois lados estivessem em igualdade de condições. Como se os manifestantes não estivessem apanhando e os policiais, batendo.

As imagens revelam policiais fortemente equipados e armados, agredindo trabalhadores munidos apenas de bandeiras e bolsas. Uma foto de O Globo mostrava um suposto membro do Black Bloc com um estilingue nas mãos. A legenda tratou a cena como um ataque à PM.

Novamente, como em junho passado, é possível sentir a revolta popular em relação às ações das forças de repressão. O que preocupa é que a tendência é a polícia radicalizar sua atitude. São quase 50 anos de militarização a treinar os soldados para a repressão às forças populares.

Os governos em todos os níveis são cúmplices. O partido da classe dominante chamado grande mídia, também.