Por Vito Giannotti – NPC

Calma, não é só no nosso Brasil que há lixões. Existem milhares em toda a América Latina, na Índia, na África, em Hebron… Mas vamos olhar para o nosso quintal. No Brasil, os lixões compõem uma triste realidade que não gera nenhum escândalo. É normal, sempre foi assim e se a gente não criar vergonha, assim sempre será. Mas o que são esses lixões? Por que existem esses depósitos de restos de tudo disputados por milhares de pessoas? Qual a razão dessas pessoas disputar qualquer resto de comida, um sapato velho ou um naco de ferro ou cobre?

Foto: Camila Araújo

Lixão do Morro do Céu, em São Gonçalo | Foto: Camila Araújo

Um quadro que a TV não mostra

Todo mundo já ouviu falar do que foi o maior lixão da América Latina, o lixão de Gramacho, em Caxias a meia hora do centro da Cidade Maravilhosa. Agora está desativado, seu substituto é o chamado, Morro do Céu. Melhor seria chamá-lo Morro do Inferno. Lá, crianças, adultos e terceira idade disputam com ratos, urubus, cachorros, porcos e cavalos e milhões de moscas todo o produto que dá para comer. Produtos vencidos de supermercados são um maná dos céus. Comidos na hora ou vendidos em vendinhas miseráveis são bem melhores que sacos de restos de comida estragada, podre.

Mas isso não é só coisa do Rio. Em Belo Horizonte há o grande Lixão Cruzeiro. E esse não é nada perto do maior lixão de Brasília, o Lixão da Estrutural, onde milhares de crianças em idade escolar vivem e sobrevivem com uma eterna disenteria, ou hepatite, e mais trocentas doenças.  Diz o IBGE que mais de 50% das cidades brasileiras têm lixões a céu aberto. A última estatística falava de 800 mil pessoas vivendo do lixo. Diz-se que foi decretado por lei que até 2 de agosto de 2014 não poderá existir mais nenhum lixão deste tipo. Beleza pura.  Na lei também está escrito que todo brasileiro tem direito a vida: moradia digna, alimentação, saúde educação gratuita e até respeito por parte da polícia. Sim todos têm. Menos os milhares de Amarildos moradores de favelas, caridosamente chamadas de comunidades.

E aí, o que fazer?

É preciso pensar e atuar uma nova política a favor do povo. Um novo projeto político que pense nos milhões de catadores de lixo. Que garanta emprego, escola, saúde para todos estes brasileiros esquecidos. Só assim, a moradora de São Gonçalo, do Morro do Céu, Rosilene Silva vai poder parar de falar: “Aqui a gente recebe o lixo da madame, do desembargador, do prefeito e ao mesmo tempo, nós não temos nada”.