Rio de Janeiro: violência comum nas favelas se generaliza para o asfalto

Por Claudia Santiago – NPC

No mesmo dia em que inquérito policial conclui que UPP da Rocinha torturou e matou o pedreiro Amarildo, em julho de 2013, sob ordens do governador Sérgio Cabral professores são espancados por policiais em frente à Câmara dos Vereadores.

Na noite do último sábado, dia 28, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, mandou a Polícia Militar remover os professores que ocupavam a Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Os professores estavam no local desde a quinta-feira para impedir a aprovação do Plano de Carreira proposto pelo prefeito, que não atendia as reivindicações da categoria. No prédio estavam cerca de 70 profissionais de educação. Mais da metade eram mulheres. Professoras e pessoal de apoio que estão nas escolas há muitos anos, e jovens mestras que entraram para a rede municipal nos últimos concursos. A categoria está em greve desde o mês passado.

A ação violenta pegou todo mundo de surpresa. Para aquele horário estava prevista uma aula pública, na Cinelândia, principal praça da cidade. Em resposta o Sindicato dos Profissionais da Educação, o Sepe, convocou uma manifestação para o dia seguinte, segunda-feira. A Cinelândia amanheceu cercada por policiais. As ruas laterais à Câmara fechadas. Os professores encurralados. Desenhava-se que ninguém seria poupado.

O ato aconteceu e contou com a participação de muita gente, inclusive da juventude que usa a tática black bloc e que estava afastada das ruas da cidade desde o dia 7 de setembro. O governador chamou para briga. Da grotesca ação policial, que de tão raivosos pareciam cães adestrados, muitos saíram feridos. Sequer os pouquíssimos vereadores que se colocaram ao lado do povo foram poupados. Estes bem que tentaram uma audiência com o prefeito Eduardo Paes para tentar chegar a um entendimento quanto ao Plano de Cargos e salários. O prefeito disse não.

Foto: Fábio Motta

Foto: Fábio Motta

E na terça-feira, dia 1º de outubro, as ruas do quadrilátero da Câmara amanheceram  gradeadas. O comércio ficou fechado. O tradicionalíssimo bar Amarelinho fechou as portas. Apenas uma solitária padaria se manteve aberta até às 16h quando a ação violenta da polícia se generalizou.

A Cinelândia estava mais uma vez repleta de manifestantes para impedir a votação do Plano imposto pela Prefeitura, que acabaria sendo aprovado no final da tarde por 36 votos a três em uma sessão bastante tumultuada. O plano de cargos e salários dos professores da rede municipal foi  aprovado à base de bomba de efeito moral, de gás lacrimogêneo e do cerco à Câmara Municipal. Até cães foram usados.

Professores e funcionários da rede municipal não querem este plano, entre outros motivos porque ele não garante a paridade entre trabalhadores em atividade e aposentados, cria exceções na carreira e implementa o professor polivalente. Bombas gigantes de gás lacrimogêneo foram usadas para dispersar os manifestantes. O gás era jogado sobre os educadores como o inseticida é jogado em baratas. Balas de borracha eram atiradas nas pessoas que corriam de um lado para o outro.

Pedreiro Amarildo foi assassinado pela UPP

Enquanto tudo isto acontecia, a Delegacia de Homicídio concluía o inquérito sobre o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, de 43 anos, morador da Rocinha, favela na zona sul do Rio. No mesmo dia, a mesma polícia que acuava os grevistas era acusada formalmente de haver sequestrado, torturado, matado e dado sumiço no corpo do pedreiro Amarildo, em 14 de julho passado, depois de ser detido por PMs da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local. “Cadê Amarildo?” foi a pergunta mais reproduzida nas redes sociais em 2013. De acordo com a Polícia Civil Amarildo foi vítima de choques elétricos e asfixia por agentes da UPP da favela.

Qual a explicação para estes crimes contra a população do Rio de Janeiro?

O Rio de Janeiro tem convivido neste ano de 2013 com a generalização da violência policial que antes estava restrita às favelas da cidade. A política de Segurança no Estado  submete vítimas à tortura em unidades das UPPs e trata grevistas com bombas de gás e balas de borracha.

Estes não parecem ser fatos isolados. Não está descartado que o fio condutor destas ordens dadas aos policiais sejam os megaeventos que a cidade vem recebendo. Se hoje é assim… Imagina na Copa.