No último dia 6, todos os canais de televisão entraram em espasmos orgásticos ao noticiar o quebra-quebra no Congresso. A Globo se esmerou na cobertura que colocaria em maus lençóis quem defende uma causa que ela e toda a mídia condenam: a Reforma Agrária. Tinha chegado o momento de ganhar de goleada contra os que teimam em dizer que o Brasil precisa de Reforma Agrária.

À noite, no Jornal Nacional, começou o ataque.

No dia seguinte, pela manhã,  no jornal das 7, Alexandre Garcia chegou a comparar a ação do MLST, na véspera, ao seqüestro do Abílio Diniz, em 1989, nas vésperas da eleição Lula X Collor.

Para marcar seus gols contra os inimigos de classe que defendem a Reforma Agrária, lembrou que naquele seqüestro, houve gente com camiseta do PT, envolvida na ação. A mentira é total. Até os postes sabem que as camisetas nos seqüestradores foram colocadas por quem tinha interesse em derrubar o então candidato Lula. Mas, mesmo assim, o grande âncora da Globo voltou ao assunto, reapresentando uma armação provada como absolutamente falsa.

Mas o principal é que, pelo noticiário todo, os telespectadores ficaram sem saber o porquê daqueles enfurecidos terem feito aquela confusão.

O que eles queriam? Quais as reivindicações que apresentavam ao governo e ao Congresso? Quais as causas de tanta raiva contra tudo o que encontravam pela frente?

Nada disso foi explicado. O telespectador ficou sem saber. Mas, afinal, o importante não era fazer entender. O importante era aproveitar o fato para enfiar uma tremenda goleada no adversário. Ou melhor, no inimigo de classe.

O jornal O Globo, da manhã do dia 7, repetiu o mesmo esquema: nada de mostrar o que aqueles manifestantes queriam.

Somente o jornal  Valor, feito em parceria pela Folha de S.Paulo e pelo Globo, trouxe uma coluna com as exigências dos manifestantes. E quem assistiu só ao Jornal Nacional? Ficou comemorando a goleada da Globo na Reforma Agrária.

(Por Vito Giannotti)