[por Vito Giannotti] Em casa, na escola e mais ainda pela TV e pelo rádio, o brasileiro sempre ouve a frase “brasileiro é bonzinho”. Este frasezinha não é nada inocente. Tem um peso ideológico grave e serve muito bem para o sistema criar, estimular e alimentar a passividade. Dizer que o povo brasileiro é despolitizado é uma coisa. É um fato que salta aos olhos de cada um. Mas o que está por trás da frase “brasileiro é bonzinho” é outra coisa bem diferente. Vejamos os fatos. 

Durante o quarto ano de ditadura militar, em 1968, quantos manifestantes morreram em passeata? Não vale responder o nome de Edson Luís. Esse, até os postes lembram. Mas ele não foi o único. Na missa de sétimo dia da sua morte a Ditadura matou mais dois. E nas vésperas da “Passeata dos cem mil” não foi morto ninguém? E antes do 7 de Setembro daquele ano, ninguém mais foi morto? Por que o deputado Márcio Moreira Alves fez aquele discurso que o levou à cassação e foi o pretexto da implantação do terrorismo da Ditadura com o AI-5? Na ocasião, ele falou “seria necessário que cada pai, que cada mãe se compenetrasse de que a presença de seus filhos nesse desfile é um auxílio aos carrascos que os espancam e os metralham nas ruas”. E depois desse do 7 de Setembro?  

No começo deste mês de outubro, em São Paulo foi relembrada a “Batalha da Maria Antônia”. Na capital paulista, no dia 3 de outubro, em mais uma manifestação contra a Ditadura, o estudante secundarista José Guimarães foi assassinado pela direita, que atuava junto com as forças repressivas da Ditadura.    

No Rio, nova morte de estudante. No dia 22 de outubro, um tiro disparado por policiais, durante a repressão a uma pacífica manifestação de estudantes de medicina em frente ao Hospital Universitário da UERJ, atingiu o estudante Luiz Paulo da Cruz Nunes na cabeça. Neste dia 24 faz quarenta anos que a formatura da turma de medicina na qual estava o Luiz Paulo foi interrompida e suspensa. Esta cerimônia será completada nesta quinta-feira na Capela Ecumênica da Uerj, com 40 anos de atraso.  

Foram só estes os mortos em batalhas de rua contra a Ditadura. Não. Há mais. É só completar a lista. 

Em Tempo. Quantos manifestantes morreram no famoso “Maio francês”, em Paris, naquele ano de 1968? O professor da Unicamp Reginaldo Moraes reafirma sem titubear: nenhum.

Sim, mas e daí? Então, o brasileiro não é tão bonzinho e pacífico como se quer fazer acreditar?