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João Pedro Stedile – MST [Artigo na Revista Caros Amigos, de setembro/2015]

Nas ultimas semanas perdemos três grandes combatentes, valorosos filhos do povo brasileiro, que lutaram toda vida, como disse Olga Benário: “ Pelo  justo  e pelo melhor para todo mundo!”

Os três tinham em comum uma vida inteira de militância, desde a juventude. Todos  sofreram na carne  a repressão do regime militar, e os três se dedicaram a organizar os trabalhadores sem trégua, nem férias….  Pois defendiam que sem a organização do povo não haveria mudanças sociais!.     Partiram.   Não nos deixarão ter saudades.  Por que  seu exemplo de  dedicação  às causas populares, nos motiva a seguir a luta,  independente das perdas físicas.

Certamente as  novas gerações de jovens leitores da Caros Amigos  nunca ouviram falar, desses três personagens, que no entanto,  embora não tão famosos,  foram importantíssimos para organização de nosso povo.

Antonio Vieira,  pernambucano.   Desde jovem atuou na diocese de Recife e com Dom Helder organizava os  camponeses.   Amargou a prisão, tortura.    Não esmoreceu,  ainda  durante o regime militar  embrenhou-se  Amazônia a dentro,  e foi la  reorganizar os camponeses  na Transamazonica, e surgiu a primeira  oposição sindical rural, no sindicato de trabalhadores de Santarem.     Sua metodologia  de trabalho de base,  se transformou  em modelo, virou catilhas, e até o filme Lamparina.   Seguiu a vida inteira organizando a base e formando as lideranças.   Tinha uma paixão  permanente pela cultura do povo do interior.    Estudava, pesquisava e usava a cultura do camponês, do trabalhador, como forma de conscientiza-lo de sua realidade.

Vito Giannoti.    Veio jovem da Italia, sobreviveu como operário em são Paulo, aonde participou ativamente  da oposição sindical metalúrgica.   Gritão e  debochado, foi um defensor incansável  de que a classe trabalhadora precisa ter seus meios de comunicação de massa, desde uma radio comunitária, um panfleto bem beito, uma pixação, um jornal.   Foi um agitador  permanente.    Percorreu o Brasil dando palestros de como organizar  nossos meios de comunicação populares.  Ajudou a fundar  dezenas deles.   O Ultimo: o Brasil de fato , nacional e o tablóide distribuído gratuitamente no Rio de janeiro, aonde atuava como conselheiro.      Todos que conviveram com ele  gravaram a forma debochada,  em que se expressava com palavrões, do jeito que o povo fala, para poder exprimir com mais autenticidade sua raiva,  contra os inimigos, e contra  as desviações da esquerda.

Neiva Moreira.   Militou toda vida na esquerda.   Lutou contra a ditadura,  organizou o partido dos trabalhadores no Rio de janeiro.    Era um incansável  articulador político.   Conversava ate com o demônio se necessário, para poder  ter conquistas para os trabalhadores.    Preocupava-se sempre em  fazer formação política para nova  militância.    Tinha uma paciência de Jô, com mil reuniões para construir unidades,sem perder  a perseverança de suas idéias.   Flamenguista fanático e assíduo freqüentador dos estádios, sabia  mesclar  a luta política, sem abandonar  os costumes populares.

 

Perdemos três guerreiros,  exemplares  na sua luta cotidiana, a vida inteira.  Oxalá, seu exemplo e historia  seja energia para as novas gerações de nossa juventude.   De minha parte, serei sempre grato, por ter tido o privlegio de compartilhar de sua amizade e  ter apreendido muito com sua sabedoria e coerência militante.

Um grande e afetuoso abraço camaradas!