Sobre Violência Policial

Sobre Violência Policial

por Jorge Antonio Barros 

O diabo pega carona em algumas radiopatrulhas desta cidade. De tanto conviver com o mal, alguns policiais parecem esquecer que são pagos para proteger e servir os cidadãos, e acabam sendo eles próprios instrumentos da maldade. Quando o objeto da maldade é um criminoso as pessoas de modo geral ficam do lado do diabo. E acreditam que os policiais que adotam práticas violentas são instrumento da justiça divina. Avalanche de equívocos. Policiais são formados e pagos pagos para servir à sociedade e tratar a todos, indistintamente, como cidadãos, até que se prove o contrário. Quando o criminoso empregar a violência, a resposta deve ser firme, mas sem abusos. Polícia não pode ser movida por paixão.

Como a sociedade pode conviver passivamente com crimes praticados por policiais contratados justamente para coibir a prática de crimes? Como as autoridades silenciam sem culpa por tantos crimes praticados por policiais? Felizmente a esperança dos cidadãos de bem é que ainda existem bons policiais, que cumprem seu dever com profissionalismo. A ação rápida e eficaz de policiais da 64ª DP (São João de Meriti) poderá evitar que mais um crime praticado por PMs fique impune. Chefiados pelo delegado Marcos Peralta, os policiais daquela delegacia conseguiram esclarecer um assassinato praticado por policiais militares fardados, em serviço. Eles são acusados de matar o eletricista Márcio da Conceição Ferreira, de 33 anos, com três tiros de fuzil e cujo corpo carbonizado foi achado dentro de um carro incendiado em Belford Roxo, na Baixada Fluminense.

Os policiais da 64ª DP contaram com uma testemunha-chave, que escapou de ser morta pelos PMs, durante abordagem em Vilar dos Teles, São João de Meriti. Os dois PMs, numa patrulha, pararam um veículo onde estava o eletricista e outras duas pessoas, na madrugada de quinta-feira passada. Um dos ocupantes do carro contou que os policiais os colocaram de frente para uma parede. Um dos agentes teria perguntado: “Ah, você é o Márcio?”. E atirou.

O motivo do crime ainda não está esclarecido, mas com certeza é torpe. O eletricista foi fuzilado num paredão, sem direito à defesa. A mulher dele procurou a delegacia pela manhã para informar o caso e que o marido estava desaparecido. Mais uma vez PMs tentaram empregar a técnica preferida dos carrascos da ditadura, mas os policiais da 64ª DP foram eficientes e localizaram o carro, com o corpo do eletricista.

Não dá para dizer se os PMs estavam com o diabo no corpo, mas não resta dúvida de que a fé na impunidade é uma das principais alavancas desses crimes. A execução, no melho estilo do Esquadrão da Morte da década de 60, ocorreu 16 dias depois que um ex-PM foi absolvido do homicídio do menino João Roberto, de 3 anos, na Tijuca, em 2008. Cada vez que a Justiça absolve um assassino desses escancara a porta da impunidade para que outros crimes sejam praticados por policiais.

Mas a maldade tem pernas ágeis e braços longos. Na Cidade de Deus, mais um desaparecimento que tem PMs como suspeitos. E pior. Integrantes da Unidade de Polícia Pacificadora, que se supõe mais preparados para respeitar os direitos dos cidadãos. Dois desses PMs já foram presos administrativamente, suspeitos do desaparecimento do dono de um ferro velho, Gilmar da Silva Barreto. Márcio e Gilmar foram tratados como cidadãos de segunda classe e o desaparecimento deles não comove ninguém, exceto seus parentes. Mas a prática desses crimes atinge todos aqueles que ainda acreditam nas instituições e numa polícia profissionalizada e comprometida com valores da cidadania.