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Por Rosângela Ribeiro Gil, jornalista sindical de São Paulo

Jaime Galarza Zavala, escritor, poeta e jornalista equatoriano, escreveu um artigo para o site América Latina em Movimento, sobre o centenário do nascimento do escritor argentino Julio Cortázar, alcançado em 26 de agosto último. Segundo ele e ironicamente, nesta comemoração se vê uma copiosa chuva de flores ao argentino, falecido há 30 anos. E diz que o próprio teria sorrido amavelmente ante esse acúmulo de homenagens, seguro que, em vida, muitos desses apologistas teriam lhe virado as costas e acusado-o de ser complacente com a violação de direitos humanos por parte do que chamam de “ditadura castrista”.

Zavala fala que “esse gênio argentino da literatura mundial foi um homem que, sem militar em qualquer partido, sentiu nas profundezas do seu ser, o coração da revolução e insurgência. Assim, a seu modo, percorreu países, em protesto contra as ditaduras que assolaram a América Latina e expressando solidariedade com todos os rebeldes, os manifestantes perseguidos ou presos”.

E prossegue no ensinamento: “Assim, em janeiro de 1973, ele estava em Quito para visitar em sua cela imunda Penal Garcia Moreno Jaime Galarza escritor cuja poesia e cujos livros, em especial “A Festa do Petróleo”, suscitaram reações incendiárias contrárias aos versos. Da capital equatoriana, Cortázar viajou para a Argentina para visitar, na prisão, seu querido amigo e poeta Francisco Urondo. Tal visita não foi permitida, fazendo com que Cortázar revidasse publicamente com “Carta muita aberta para Paco Urondo”, mostrando não só o seu espírito de solidariedade, mas condenando a ditadura militar que sangrou seu país.

Posteriormente, em janeiro de 1976, Julio Cortázar se converteu num dos principais promotores do Tribunal Russell 2, reunido em Roma, a qual julgou e condenou os crimes das ditaduras dos generais Jorge Videla, na Argentina, e Augusto Pinochet, no Chile.

Zavala, em sua homenagem, dá uma bela mostra do espírito insurgente de Julio Cortázar, transcrevendo seu poema dedicado ao comandante Ernesto Che Guevara.

Yo tuve un hermano.
No nos vimos nunca
pero no importaba.
Yo tuve un Hermano
que iba por los montes
mientras yo dormía.
Le quise a mi modo,
Le tomé su voz
libre como el agua,
caminé de a ratos
cerca de su sombra.
No nos vimos nunca
pero no importaba,
mi hermano despierto
mientras yo dormía,
Mi hermano mostrándome
detrás de la noche
su estrella elegida.