[Por Vito Giannotti] Quem já leu sobre o papel da imprensa na formação dos soldados paraguaios, em luta contra o imperialismo inglês e seus aliados no Cone Sul, 150 anos atrás? Veja o que escreveu Julio J. Chiavenatto em seu livro Genocídio Americano – A Guerra do Paraguai, da Editora Brasiliense, 1979: 

“O fato de todo soldado paraguaio saber ler e escrever foi inteligentemente aproveitado por Francisco Solano López. A imprensa foi largamente usada para a doutrinação dos soldados. As tropas paraguaias eram excepcionalmente bem informadas sobre o andamento da guerra, sua natureza e facilmente atingidas pelos avisos do comando. O jornal do governo, El Semanário, era lido praticamente por quase todos os soldados.

Pelo uso intensivo da imprensa, era comum o simples soldado paraguaio estar melhor informado sobre a guerra do que até mesmo oficiais brasileiros. A prova nos é dada pelo Visconde de Taunay, que conta em A Retirada da Laguna, a procura de El Semanário nos corpos dos soldados paraguaios mortos para se inteirarem do andamento da guerra.

Mas a participação do soldado paraguaio na imprensa que se faz durante a guerra não foi apenas passiva. Os soldados tiveram jornais feitos por eles próprios. Três deles circularam com grande sucesso entre a tropa, todos satíricos e fartamente ilustrados com gravuras talhadas em madeira. Eram El Centinela, Cacique Lambaré (totalmente escrito em guarani) e principalmente o Cabichui (abelha em português; cabichui em guarani). Esses jornais animavam a tropa, faziam sátiras sobre as forças da Tríplice Aliança e apresentavam versos e artigos escritos por soldados. São de valor excepcional seus desenhos, todos feitos por soldados, talhando a madeira para impressão.


Esses jornais, especialmente o Cabichui, eram impressos na própria linha de frente. A máquina de imprimir, com tipos, galões de tinta, etc., funcionava geralmente em cima de uma carroça. Se fosse necessária uma retirada, o “parque gráfico” em campanha estava sempre pronto para correr. (…) O jornal era importante demais, especialmente os semanários satíricos feitos pelos próprios soldados: eles levantavam o ânimo da tropa, informavam, mantinham esperanças e ridicularizavam o inimigo. Suas charges são dignas, ainda hoje, de figurarem em qualquer jornal moderno”. (p. 114-115).