MST

[Por Emilio Azevedo – Brasil de Fato (MA)- 25.03.2017]

O Maranhão tem cerca de um milhão de analfabetos, quase 20% de sua população, segundo os mais recentes dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A situação se agrava no meio rural, onde o índice sobe para aproximadamente 40%. Estes números deixam o estado atrás apenas do Piauí e Alagoas na taxa de analfabetismo no Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2013. Porém, foi sob este cenário que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) coordenou um curso de alfabetização de jovens e adultos no estado do Maranhão ao longo de todo o ano de 2016, desenvolvido por meio de uma parceria com o governo do estado a partir de uma proposta do próprio MST, tornando-se a principal referência da Jornada de Alfabetização desenvolvida pelo governo Flávio Dino (PCdoB).

 

Ao longo desse período, mais de 7 mil pessoas foram alfabetizadas por meio do método do cubano “Sim, eu posso!”. O projeto se propôs a atuar nos 30 municípios com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixos do Maranhão. A parceria com o MST se deu inicialmente em oito destes municípios: Aldeias Altas, Água Doce do Maranhão, Santana do Maranhão, Governador Newton Bello, São João do Caru, São Raimundo do Doca Bezerra, Jenipapo dos Vieira e Itaipava do Grajaú.

 

Em termos absolutos, foram muitas as pessoas alfabetizadas nesse processo. Mas quase nada em termos percentuais, já que representa menos de 1% da demanda maranhense. Por isso, a meta é dobrar a quantidade de pessoas alcançadas no estado em 2017, já que no final de fevereiro os representantes do governo do Maranhão garantiram essa ampliação.

 

“Eu nunca tinha estudado, nunca tinha tido a oportunidade, agora eu quero mais”, afirma Manoel Vieira de Sousa, 67 anos. Seu Manoel, com os olhos iluminados, entre feliz e orgulhoso, fez questão de escrever algumas palavras para demonstrar o seu recente aprendizado. Porém até chegar a este momento, muito esforço teve que ser empenhado. “No começo, a dificuldade foi grande, eu não sabia nada, não conhecia as letras”, explica o camponês, falando das primeiras aulas, comentando também sobre a alegria de sua esposa, ao vê-lo lendo. “Ela ficou muito, muito animada”, conta.

 

Essa foi apenas a segunda vez que a experiência do Sim, eu posso ocorreu no Brasil fora dos assentamentos do MST. A primeira foi no Ceará, na periferia da cidade de Fortaleza. Segundo Simone Silva Pereira, dirigente do MST no estado, esse tipo de trabalho, fora das bases do movimento, “é um passo num processo de emancipação da classe” como um todo.

 

Simone explica que o programa não se resume apenas ao processo de alfabetização. “As pessoas discutem sobre alimentação saudável, o problema da violência contra a mulher, a necessidade de todos continuarem estudando. No processo foi construído toda uma pauta de reivindicações”, destaca. Para ela, as pessoas envolvidas “vencem uma descrença e recuperam uma esperança”.

 

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