Em seu novo livro, As muralhas da Linguagem, que chega às livrarias em maio deste ano, Vito Giannotti afirma repetidamente: o Brasil é um país que não lê. À primeira vista é uma afirmação exagerada, quase ofensiva. Mas, olhando os dados da leitura de jornais e todos os outros dados apresentados, chegamos à conclusão que é isso mesmo: no Brasil lê-se muito, muito pouco. Vejamos um trecho da obra:      

“… Há um outro indicador que escancara mais nitidamente a contradição entre o Brasil da Casa Grande e o da Senzala do ponto de vista do acesso aos chamados bens culturais: o número de livrarias no País.

No Brasil, segundo dados do IBGE, de abril de 2001, existiam 5506 municípios. Destes, apenas 1927 contam com alguma livraria. Isto significa que, em 3579 municípios não há onde se comprar livros. A grande maioria da população não sabe se livro é comprado no açougue, ou na farmácia. E isto, não no longínquo ano de 1603, 1703, ou 1803.  Isto, o IBGE nos diz que acontece em pleno 2003.

 O Jornal do Brasil, de abril de 2000, dava um outro número aproximado. Noticiava que 90% dos 5600 municípios brasileiros não possuíam nenhuma livraria. Só haveria alguma livraria em apenas 700 cidades. E ilustrava seus números com um dado do próprio Estado do Rio. Belford Roxo, município da Baixada Fluminense, à distância de menos de 45 minutos do centro do Rio, era um destes. Um dos grandes municípios da Grande Rio, bem perto do centro da capital, era um dos 4900 sem livraria. (…) Os dois números apresentam uma realidade igualmente trágica: bem mais da metade da população brasileira nunca viu uma livraria.

No entanto, na chiquíssima rua do Rio,  Visconde de Pirajá, que liga Ipanema com o Leblon, e nas suas transversais, há mais de uma dúzia de livrarias. São verdadeiros templos para o deleite dos leitores. (…). No seu interior, há cafeteria, bar, lanchonete: tudo o que Paris, ou Nova Iorque oferecem.  Nestes templos, constantemente, há lançamentos de novos livros, belíssimos, interessantíssimos, variadíssimos e outros íssimos. (…)

E os moradores de Belford Roxo, em qual travessa do seu município podem comprar um livro? Há muitas travessas, nas ruas de Belford Roxo, mas nenhuma possui uma livraria. Não se compram livros, na Senzala. Em Belford Roxo, 90, ou 95%  são, ou vieram da Senzala, ou das suas adjacências. Se o número exato é 90, ou 95, não há certeza. Mas de uma coisa há certeza absoluta. Quando acabar o lançamento daquele último livro, em qualquer livraria do Leblon, ou Ipanema, quem vai limpar o chão, catar as garrafas vazias e juntar o lixo, certamente será um morador de Belford Roxo. Ou, quem sabe, do morro do Pavão ou Pavãozinho, que é bem mais perto da Visconde de Pirajá do que a Baixada Fluminense”.