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[Por Nilson Lage no Facebook ] Citando um texto meu de Facebook – escrito com desleixe; se imaginasse que repercutiria, teria caprichado – o redator de um site de notícias chamou-me, outro dia, de “professor de comunicação”.

Nada mais impróprio.

Dei aulas de técnicas de Jornalismo, que é meu ofício, cursei mestrado em sistemas de significação, doutorado em Linguística, dediquei-me à Semântica;  tenho quatro anos de graduação (incompleta) em Medicina, outro tanto (completado) em Letras; li muitos textos sobre lógica e teorias da mente (psicanálise, reflexos);  escrevi sobre História, controle de opinião pública e ideologia; lecionei em pós-graduação de Linguística, Engenharia de Gestão do Conhecimento e Jornalismo.

Comunicação, produto da guerra fria, é uma área de conhecimento inconsistente que tomou para si práticas sociais de mediação tecnológica (jornalismo, publicidade, cinema, relações-públicas) e enfiou na mochila das “ciências sociais aplicadas” – onde, aliás, cabe quase tudo.

Para compor a teoria desse negócio, tomaram da eletrônica o modelo emissor-sinal-receptor e os conceitos de informação e entropia referidos à improbabilidade; acrescentaram dados genéricos obtidos em pesquisas de mercado (a instrumentação do marketing) e a vulgata funcionalista e empírica ajambrada por teóricos nada brilhantes, como Laswell e Schram.

O objetivo era confrontar a crítica marxista, que avançava com força no após-guerra; privilegiar os centros de poder que produzem a informação a serviço do capital em lugar de dar ênfase ao serviço público e aos indivíduos a serem informados. Isso explica o que foi sendo acrescentado, em particular alguns textos da Escola de Frankfurt selecionados porque desviavam a questão da luta de classes para o mais genérico e inócuo combate à  “sociedade industrial”: reflexões de intelectuais perplexos com a marcha vitoriosa do nazismo e da repressão que gerou na Alemanha da década de 1930.

Em 70 anos de estrada, a tal “teoria da comunicação” pouco ou nada produziu de relevante; sei disso porque acompanhei durante décadas as melhores resenhas de publicações internacionais da área: apenas seguiu as modas culturais, conforme a linha justa do discurso liberal do Ocidente,  da militância bom-mocista e do apoio aos movimentos culturais progressistas que enfeitam a fachada da globalização.

A esterilidade é um sintoma fatal.

Quanto ao jornalismo, tais teóricos lhe fizeram grande mal ao combater o esforço profissional por uma informação objetiva, tão isenta quanto possível (a que respeita o direito do público de formar opinião), em favor do prato feito das versões de encomenda.

O que temos, além da invenção de factoides “científicos” – da carnavalização (o Chacrinha) às fake news –  são avanços nos campos da Semântica, da Semiologia-Semiótica, Psicologia Social e da Análise do Discurso – todos conhecimentos sobre linguagens, que formam o núcleo real, teórico, do jornalismo e das outras profissões desse campo, não só delas.

Nunca me imaginei “professor de comunicação”; apenas lutei para me desvencilhar dela.