Gabriel Priolli

[Por Gabriel Priolli – Nocaute – 20.04.2017]   A pós-verdade, definitivamente, é o esporte do momento. Os brasileiros gostaram tanto desse novo horizonte do conhecimento humano, em que não há mais limite entre o que é certo e o que é falso, que ele já virou até joguinho de internet.

Na rede social que é acusada de liderar a ofensiva da Pós-Verdade, os usuários divertem-se em contar nove verdades e uma mentira.

Irmanado com os seus concidadãos, neste momento de ápice na evolução de nossa espécie, quando deixamos para trás o peso de milênios de sabedoria para nos lançar desassombradamente no reino do tanto-faz e do pode-ser, este colunista adere à onda.

Oferece a seguir um conjunto de afirmações extraídas dos projetos editoriais, manuais de redação e notas oficiais da grande imprensa brasileira.

1) A epidemia das chamadas “notícias falsas”, alimentada sobretudo pelas redes sociais na internet, está obrigando os jornais e outros veículos tradicionais de mídia em todo o mundo a se mobilizarem para defender o mais precioso valor do jornalismo: a verdade dos fatos.

2) Pratica jornalismo todo veículo cujo propósito central seja conhecer, produzir conhecimento, informar. O veículo cujo objetivo central seja convencer, atrair adeptos, defender uma causa faz propaganda.

3) Ao criar uma espécie de universo paralelo de “notícias”, os militantes da mentira e do engano criam a sensação de que é a imprensa tradicional que mente, ao noticiar o oposto do que é divulgado pelas redes sociais.

4) Nenhum veículo do Grupo G fará uso de sensacionalismo, a deformação da realidade de modo a causar escândalo e explorar sentimentos e emoções com o objetivo de atrair uma audiência maior.

5) Carregamos em nosso estatuto o dever de não utilizarmos nossa programação de arte e cultura para fins partidários, limitando esse debate ao núcleo de jornalismo. Para atender aos princípios citados acima, a emissora C levou ao ar programa X com a banda Y e realizou uma edição na música Z. A emissora valoriza a liberdade de expressão.

6) O jornal F compromete-se a manter atitude apartidária, desatrelada de governos, oposições, doutrinas, conglomerados econômicos e grupos de pressão.

7) O Grupo Z trata a administração pública, em qualquer nível, como fornecedora ou cliente, com isenção e transparência e em total observância à legislação, em especial à Lei Anticorrupção.

8) Num país em desenvolvimento como o Brasil, o rádio e a Internet têm um papel fundamental para unir a opinião pública em torno dos grandes temas nacionais, sendo o elo entre a sociedade e os poderes constituídos, com o papel de aglutinar a população em torno dos interesses maiores do país.

9) A credibilidade da rádio J vem da informação responsável e sem distorções, que analisa e esclarece com a atenção voltada exclusivamente ao ouvinte.

10) A editora A está empenhada em contribuir para a difusão de informação, cultura e entretenimento, para o progresso da educação, a melhoria da qualidade de vida, o desenvolvimento da livre iniciativa e o fortalecimento das instituições democráticas do país.

O distinto espectador/leitor poderá julgar se estas assertivas configuram verdades, mentiras, pós-verdades ou nenhuma das anteriores.

É ele quem padece o jornalismo brasileiro, dia após dia.