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Por Rosângela Ribeiro Gil

A frase ecoou, com entusiasmo juvenil, num auditório que reuniu diferentes gerações de sindicalistas e lutadores do povo, no dia 1º de outubro último. O autor da palavra de ordem atende pelo nome de Clodismith Riani, de 94 anos de idade, em seu depoimento no Ato Sindical Unitário “O Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e o enfrentamento ao golpe de 64 – Homenagem aos Lutadores”, realizado na sede do sindicato dos engenheiros, na Capital paulista. O evento foi organizado pelo coletivo de apoio ao Grupo de Trabalho Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical da Comissão Nacional da Verdade (CNV). À abertura, o presidente dos engenheiros, Murilo Celso de Campos Pinheiro, falou da honra em abrigar ato de tal envergadura para a história não só do movimento sindical, mas do País. “Um debate onde o Brasil busca a transparência, a verdade e a democracia, acima de tudo”, destacou.

O mineiro Riani – eletricista e presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Energia Hidroelétrica de Juiz de Fora já em 1953 – foi cassado, preso e torturado pelo golpe militar de 1964. Em sua fala, destacou o momento de grandes perspectivas e avanços dos trabalhadores antes da ofensiva militar contra o governo do presidente João Goulart. Com muita lucidez, o líder sindical reafirmou sua posição em defesa dos direitos dos trabalhadores, finalizando o seu depoimento com a palavra de ordem: “Viva o Brasil! Viva a classe operária brasileira!”.

Na mesma linha de resgate histórico, o ex-ferroviário Raphael Martinelli, de 89 anos, também preso e torturado pelos militares, lembrou que se construía, à época, uma relação importante entre os operários e os camponeses, “uma beleza de unidade”, emocionou-se. Outro ponto destacado por Martinelli foi o caráter das greves que se faziam, “parávamos em função dos trabalhadores que estavam sendo prejudicados. Era a solidariedade de classe na prática”. Martinelli observou que as bandeiras de luta atuais dos trabalhadores são praticamente as mesmas que se agitavam há 49 anos, como reforma agrária e melhores condições de vida e de trabalho, por exemplo. Para ele, é importante a criação de centenas de comissões da verdade no país para que um período da nossa história seja passado a limpo.

Durante a atividade, foram exibidos alguns vídeos com depoimentos de sindicalistas, como o do ex-presidente da Federação de Condutores de Veículos Rodoviários do Estado de São Paulo, Alcídio Boano, de 86 anos, que, até hoje, tem sequelas físicas das torturas que sofreu nos porões da ditadura militar.

Justiça e reparação

O ato contou com a presença da coordenadora da CNV, Rosa Cardoso, que explicou que a comissão não quer apenas contar uma história, “vamos investigar também. Ouvir vítimas, violadores, testemunhas, examinar e refazer perícias”. Rosa denunciou que o número de assassinatos e torturas é maior do que se sabe até hoje, principalmente no campo. Ela ressaltou que se quer descobrir tudo, inclusive o conluio empresarial com o aparato de repressão, que, segundo ela, continua funcionando, principalmente nas empresas estatais, “aterrorizando os trabalhadores e liquidando o direito de manifestação da sociedade”. Rosa defende que o papel da CNV não é o de apenas reconstruir o passado, mas o de fazer recomendações para o presente e o futuro.

Participaram da mesa do ato Carlos Rogério, da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), Adi dos Santos Lima, da CUT (Central Única dos Trabalhadores), João Carlos Gonçalves “Juruna”, da Força Sindical, Ricardo Patah, da UGT (União Geral dos Trabalhadores), José Calixto Ramos, da NCST (Nova Central Sindical dos Trabalhadores), Álvaro Egea, da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros), Oswaldo Lourenço, da CGTB (Central Geral dos Trabalhadores do Brasil) e Luis Carlos Prates, do Central Sindical e Popular Conlutas.

Homenagens

Ao final do ato foram homenageados os seguintes sindicalistas: Adílio Roque (“Gaúcho”), Alcídio Buono, Ana Martins, Djalma Bom, Geraldo José Sardinha, José Apolinário, Maria Sallas, Manoel Dias do Nascimento, Oswaldo Lourenço, Paulo Cseh, Ricardo Segundo Guerra, Sebastião Silva de Souza e Sinfrônio de Souza Nunes.

Contribuição

O Coletivo Sindical de apoio ao GT “Ditadura e repressão aos trabalhadores e às trabalhadoras e ao movimento sindical” está passando um questionário com 17 perguntas para mapear os crimes da ditadura militar. Quem quiser colaborar pode entrar em contato pelo e-mail infogt13@gmail.com ou pelo telefone (11) 97110-2474.