30 de julho de 2015
Artigos Essa é a nota mais difícil que já escrevemos, que já publicamos. É com muita tristeza e, ao mesmo tempo, força e coragem para continuar caminhando que anunciamos o falecimento do nosso coordenador, o grande lutador Vito Giannotti. Ele faleceu no Rio de Janeiro, dia 24 de julho, aos 72 anos. Foi velado neste domingo, 26 de julho, no Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro), logo no dia da rebeldia cubana, como não podia deixar de ser. O auditório ficou lotado de familiares, amigos, companheiros de luta, admiradores, tanta gente tocada por essa pessoa extraordinária que foi Vito. Nascido em Lucca, na Itália, veio para o Brasil em 1964 e aqui construiu parte importante da sua história. Foi um apaixonado pela comunicação e pela história de lutas dos trabalhadores, mantendo-se fiel a eles até o seu último dia. Dentre as suas muitas atividades, ele foi militante na Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo e criou o Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) junto com sua companheira de vida, Claudia Santiago. Nesses pouco mais de 20 anos, o NPC exerceu um papel importantíssimo no campo da comunicação contra-hegemônica, incentivando a criação de sites, jornais, boletins, TVs, rádios, blogs pelo Brasil afora.
Quem o conheceu, sabe que suas principais características eram a simplicidade, humildade, a força na fala, os palavrões constantes, o carinho de seu abraço e de seu sorriso para todos que precisavam. Nessa hora, faltam palavras e fica a saudade. O que Vito mais deseja é que possamos seguir o seu exemplo e continuar a sua luta. E do jeito que ele gostava: sem preguiça, com dedicação, rigor teórico e alegria, muita alegria. Vito sofria com os retrocessos, mas também comemorava com fervor cada pequena vitória. Façamos como ele e dediquemos o que pudermos para a construção de um mundo justo, solidário e belo.
Agradecemos tantas manifestações de carinho, mensagens de apoio, cada palavra de aconchego, e a presença de quem pôde comparecer no domingo ao velório. Sigamos firmes, cantando “Bella ciao” e “A Internacional”, as músicas que serviram de trilha sonora para sua intensa vida.
Vito Giannotti, PRESENTE! |
Homenagens Vito Giannotti foi embora. Estou me sentindo anestesiada, por dentro e por fora. Ele não podia fazer isso, porra!
Ele ficou tranquilamente deitado no chão, local onde dormiu por muitos anos, até reaprender o uso dos colchões. Não consigo me convencer de que não vai se levantar e nos expulsar a todos nós, os amigos, aos gritos brabos e afetuosos.
Ele nos deixa órfãos de sua risada, de seus gritos de “caralho!” “porra!”, “cazzo!”, que fazem uma falta enorme. Como levar adiante a luta sem sua gentileza única, atenta e humana, sem sua brabeza correta e necessária, sua doçura única, suas exigências máximas?
Um mísero ponto de apoio: morreu sem sofrer.
Não se encontram pessoas como Vito Giannotti nas esquinas. Quem teve a sorte de conhecê-lo – e, pela generosidade de Vito, foram muitos – pôde rir com ele, brigar com ele, lutar junto com ele, pensar e organizar com ele, esses tiveram uma chance extraordinária. Que guardemos isso para a vida. É um aprendizado de partilha comunista a preservar e multiplicar, preciosamente.
Conheço Vito e Cláudia – sempre juntos – há 20 anos. A gata e o Vitão. Uma das mais lindas histórias de amor. Das muitas fotos que povoam a vida, uma, muito especial, foi tirada aqui em casa, num aniversário: um instantâneo capturou um maravilhoso olhar trocado por eles, olhar enamorado, amoroso e franco. Amor completado com Luísa, a então menininha que cresceu com Claudia e Vitão, que aprendeu a dividir a mãe ao ganhar esse 'carcamano' generoso. Hoje, mulher plena, companheira na luta. Leia mais. |
Homenagens De quem mais a gente vai ouvir as palavras de incentivo, mesmo no meio do ascenso conservador? De quem mais a gente vai receber os cds com mil versões de Bella Ciao ou da Internacional (pra que nós não nos esqueçamos nunca de que somos internacionalistas)? De quem mais a gente vai ouvir blasfêmias e palavrões anticlericais (pra que nós não nos esqueçamos nunca de que somos ateus)? De quem mais a gente vai receber os abraços apertados e o sorriso aberto no meio das passeatas, no final da noite depois de um monte de cerveja ou de um puta debate sobre comunicação popular? De quem mais a gente vai receber conselhos (mesmo que não parecessem conselhos, pois seu tom não era nunca professoral) sobre a luta, a formação política, o amor aos povos e gentes? De quem mais a gente vai ouvir “a luta continua, porrra”???
Vc foi o mais bravo, o mais barulhento, o mais esporrento e, ao mesmo tempo, o mais doce, o mais alegre, o mais amado metalúrgico/jornalista/professor do nosso povo, querido amigo, Vito Giannotti... Vc vai fazer uma falta danada, carcamano... Vc está nos deixando órfãos, e tá doendo pra cac#te...
Mas o teu exemplo, os teus saberes, os teus ensinamentos fertilizaram tantos corações e mentes, que a gente vai seguir lutando. A gente vai seguir construindo um mundo melhor, mais justo, mais igualitário... porque vc merece. Cada vitória vai ser brindada em tua memória!
Obrigada por tudo, camarada! Obrigada pelo que vc fez pelo socialismo, pela classe trabalhadora, pelo sindicalismo, pelos estudantes, pelas mulheres... obrigada por tudo que vc fez por mim... eu sou uma pessoa muito melhor porque encontrei com vc nas batalhas!
Valeu, Vitão... porrra, valeu muito! |
Homenagens Desde sexta-feira, quando recebi, através da Katia Marko, a notícia da partida do Vito Giannotti, queria escrever alguma coisa. Alguma homenagem ao amigo tão querido. Mas sei lá, sentei algumas vezes e tudo parecia tão pequeno. Vito é daquelas pessoas que não passam impune na nossa vida. Alguma coisa a gente aprende. Pode aprender a escrever de forma que os outros entendam. Aprende a fazer um jornal bonito. Aprende que jornal tem que ter infográfico. Aprende a falar palavrão. Aprende a cantar a Internacional. Aprende que a comunicação tem lado. Aprende qual é o teu lado. Mas, principalmente, aprende a ter carinho com o próximo, aprende a ser generoso, aprende que ser revolucionário é, antes de mais nada, ter um coração enorme que acredita que o ser-humano tem jeito sim.
Lembro de uma vez em sua casa, no Rio de Janeiro, o Vito falar que na cabeça ele era comunista, mas lá no fundo o seu coração era anarquista. Esse era o Vito Giannotti, um tipo de gente que está cada vez mais difícil de aparecer. Como se diz aqui no Sul, vinho de outra pipa.
Pensar que não vou mais ouvir aquela vozeirão falando "E aí magrão? Como é que vai?" e logo depois começar um papo sobre o momento da política, dói. Mas sei que como tempo essa dor vai dar lugar a gratidão de ter convivido por quase vinte anos com uma pessoa tão especial.
Talvez a coisa mais importante que eu aprendi com esse italiano seja que, quando ele falava "A luta continua, porra!", era a mesma coisa de falar "a vida continua, porra!". Pois para ele vida e luta sempre foi uma coisa só. Valeu Vitão!! |
Homenagens Faleceu, no dia 24 de julho, aos 72 anos, um dos mais dedicados, destemidos e criativos militantes sociais deste país, o italiano Vito Giannotti, brasileiro de coração.
Era um revolucionário sem dogmas e preconceitos.
Quando abraçou a causa do socialismo, em sua pátria natal, soube dos kibutz israelenses e teve a esperança de que lá, no final dos anos 50, nascia um mundo novo.
Arrumou suas malas e mudou-se para Israel, sem ter qualquer vínculo com o judaísmo.
Quebrou a cara. Decepcionou-se com o que viu e viveu. Rapidamente desistiu do sionismo, do qual passou a ser crítico implacável, procurando a encarnação de suas convicções socialistas em outras plagas.
Resolveu, então, se juntar à epopéia latino-americana, mudando-se para o Brasil, empregando-se em uma metalúrgica e atuando no movimento sindical logo após o golpe militar de 1964.
Foi um dos grandes animadores da oposição sindical metalúrgica de São Paulo, nos anos 70 e 80.
Dedicou-se especialmente à tarefa de educar o sindicalismo combativo para a tarefa da comunicação, pois considerava essa a principal ferramenta para radicalizar a consciência de classe e pavimentar o caminho ao socialismo.
Desde os anos 90, mudando-se de São Paulo para o Rio de Janeiro, liderou a constituição do Nucleo Piratininga de Comunicação (NPC), formidável experiência para o debate dos temas da informação e para a formação de animadores da luta social. Leia mais. |
Homenagens Ontem, dia 24 de julho de 2015, ele foi embora. Sem aviso prévio, Vito Giannotti, aos 72 anos, se foi, silencioso. Um silêncio macio que, bem sabem os que o conheceram, nunca foi sua marca. Nascido em Lucca, na Itália, Vito chegou ao Brasil pouco depois do golpe militar. Tinha 21 anos e vinha de uns tempos de aventura como marítimo em um barco de pesca industrial. Gostou daqui e ficou, muito porque, segundo contou em várias entrevistas, se encontrou como militante político (coisa que não logrou, de forma que satisfizesse, em seu país de origem). |
Homenagens Não lembro a primeira vez que estive com Vito.
Mas sei que naquele dia ele me marcou.
Lembro-me de pensar:
“Que velhinho palavrudo”.
Vito poderia ser meu avô. Aliás, ambos morreram com a mesma idade.
Mas, meu avô, um dos homens mais fantástico que a memória me permite lembrar, não falava palavrões. Nunca.
O Vito falava. E muito.
Aos poucos entendi o porquê.
Vito era diferente. Vito era um trabalhador.
Não que meu avô não o fosse. De fato, era. E daqueles incansáveis. Trabalhava na rua e em casa.
Mas o Vito trabalhava pelos/as trabalhadores/as.
O Vito lutava pelos/as trabalhadores/as.
De tão lutador se fez jornalista.
Para com os/as trabalhadores/as dialogar.
De tão lutador se fez palavrudo.
Porque somente os palavrões podem adjetivar a exploração humana,
A desigualdade,
O preconceito,
A miséria,
O capital.
E de tão palavrudo, inconformado, indignado, se fez terno.
Porque é preciso “Endurecer, sem perder a ternura. Jamais.”
E assim, se fez extremamente radical.
E extremamente amoroso.
Porque a radicalidade e a ternura são complementares, e não antagônicas.
Ontem, Vito foi encontrar o meu avô.
Eu não era próxima a ele.
Por isso, não choro a morte de um amigo. Como fiz com meu avô.
Mas ele era próximo a mim.
Porque a indignação nos faz companheiros.
Por isso, hoje é dia de luto.
Mas, amanhã é dia de luta.
Pelo Vito, pelo meu avô,
Pelos trabalhadores e trabalhadoras,
Desse país tornado injusto.
Pelos trabalhadores e trabalhadoras
que morrem, sofrem, lutam, xingam e sorriem com ternura,
Como o Vito.
Vito Giannotti, presente!
Presente! Presente! Presente!
Sim Nathalia, Vito foi um Presente e Continuará Presente.
* Nathalia Faria é historiadora e professora da FEUC em Campo Grande RJ. |
Homenagens Claudia Santiago é da família, mas até aí família é grande, tem sempre um primo ali, uma parenta ali. E como eu fui trabalhar com a Claudia e o Vito? Em pleno feriadão, quando tava todo mundo curtindo uma praia, uma bebedeira, estava eu militando noconsciencia.net em algum momento do início dos anos 2000.
Isso chamou a atenção dos dois. Como pode? O que tem na cabeça esse garoto que não está “zuando” por aí? E eles me chamaram pro NPC. E eu fui e até hoje não saí, e amanhã tem aula de novo, e vai demorar, como profetizou o Vito, uns 300 anos pra mudar as coisas. Mas a gente tem uns 50, 60 com sorte, então tem que fazer. Então eu vou continuar, cada vez mais e mais, porque a batalha da comunicação popular não tem fim, pelo menos não nessa vida.
E foi com o Vito que eu aprendi essas coisas. O que importa mesmo. Como falar pras massas. Como se comunicar com o trabalhador sem cair na demagogia barata e grotesca da grande mídia. Como chamar o seu Zé, a dona Maria, e trazer eles pro nosso lado – porque a gente tem lado, e isso eu aprendi com o Vito também.
Essas coisas estão nos livros (em alguns, não todos), estão descritos na teoria, mas é com luta que você aprende. Às vezes caindo, se machucando, pra perceber como a disputa da hegemonia ainda é a grande batalha da nossa sociedade, e como é danoso o domínio do capital para os “de baixo”, como dizia o Florestan Fernandes.
Eu perdi um pai hoje. Desses imprescindíveis, como categorizou o Brecht, desses que lutam toda a vida. Talvez por estudar História constantemente, eu tenho muita dificuldade em lidar com a finitude da vida. Mas exatamente por estudar História, eu me sinto honrado de ter feito parte da vida deste ícone da luta pela comunicação popular que foi Vito Giannotti.
Eu prometo, Vito, honrar toda a sua luta. Ela é inglória, parece impossível, mas foram pessoas como você que nos mostraram que a única saída digna é nunca desistir. Eu vou estar sempre ao seu lado, conforme eu prometi. |
Homenagens É recebido por São Pedro, que lhe mostra o local, a estrututra de poder do local. Vitão, já puto dentro daquela roupa branca, começa a questionar: Mas por que caralho essa merda é assim? isso é uma puta duma sacanagem.Começa a organizar uma pequena revolta no Céu, monta um jornalzinho de oposição, etc.
Imediatamente é convidado a se retirar. Vai parar no inferno. Passa-se um tempo, São Pedro curioso sobre aquele velhinho que fez um rebuliço em tão pouco tempo no céu, passa um whatasap pro Capeta responsável pelas informações do Inferno:
"Oi, aqui é São Pedro. Deus gostaria de receber informações sobre o comunista velhinho que mandamos a pouco pra ai, o Vito Giannoti."
Resposta recebida: "Companheiro Pedro. Para começar, deus não existe. Em segundo lugar, o companheiro Vito está ocupado pra caralhoo, preparando a assembleia dos companheiros infernais, para melhorar as condições aqui no inferno.
Vocês ai em cima não receberam as últimas edições do "Inferno de Fato"? está tudo lá. |
Pelos muros da nossa Cinelândia |
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