vito27

Não lembro a primeira vez que estive com Vito.

Mas sei que naquele dia ele me marcou.

Lembro-me de pensar:

“Que velhinho palavrudo”.

Vito poderia ser meu avô. Aliás, ambos morreram com a mesma idade.

Mas, meu avô, um dos homens mais fantástico que a memória me permite lembrar, não falava palavrões. Nunca.

O Vito falava. E muito.

Aos poucos entendi o porquê.

Vito era diferente. Vito era um trabalhador.

Não que meu avô não o fosse. De fato, era. E daqueles incansáveis. Trabalhava na rua e em casa.

Mas o Vito trabalhava pelos/as trabalhadores/as.

O Vito lutava pelos/as trabalhadores/as.

De tão lutador se fez jornalista.

Para com os/as trabalhadores/as dialogar.

De tão lutador se fez palavrudo.

Porque somente os palavrões podem adjetivar a exploração humana,

A desigualdade,

O preconceito,

A miséria,

O capital.

E de tão palavrudo, inconformado, indignado, se fez terno.

Porque é preciso “Endurecer, sem perder a ternura. Jamais.”

E assim, se fez extremamente radical.

E extremamente amoroso.

Porque a radicalidade e a ternura são complementares, e não antagônicas.

Ontem, Vito foi encontrar o meu avô.

Eu não era próxima a ele.

Por isso, não choro a morte de um amigo. Como fiz com meu avô.

Mas ele era próximo a mim.

Porque a indignação nos faz companheiros.

Por isso, hoje é dia de luto.

Mas, amanhã é dia de luta.

Pelo Vito, pelo meu avô,

Pelos trabalhadores e trabalhadoras,

Desse país tornado injusto.

Pelos trabalhadores e trabalhadoras

que morrem, sofrem, lutam, xingam e sorriem com ternura,

Como o Vito.

Vito Giannotti, presente!

Presente! Presente! Presente!

Sim Nathalia, Vito foi um Presente e Continuará Presente.

* Nathalia Faria é historiadora e professora da FEUC em Campo Grande RJ.