a elite do poder

Nesta semana, o ativista escaldado rememora alguns parágrafos instigantes do livro de Charles Wright Mills – A Elite do Poder (1956).

“Muito pouco do que julgamos saber da realidade social do mundo foi verificado diretamente. A maioria dos “quadros mentais” que temos são produto desses meios de comunicação — a tal ponto, que muitas vezes não acreditamos realmente no que vemos à nossa frente, enquanto não lemos a respeito no jornal ou ouvimos no rádio. Os meios de comunicação não nos proporcionam apenas a informação — orientam nossas experiências mesmas. Nossos padrões de credulidade tendem a ser realidade, determinados por eles, e não pela nossa experiên­cia pessoal fragmentária.

Os meios de comunicação não só se infiltraram em nossas experiências das realidades externas, como também pene­traram na experiência interior mesma. Proporcionaram novas identidades e aspirações do que gostaríamos de ser, e o que gostaríamos de aparentar. Proporcionaram modelos de compor­tamento que nos oferecem um novo conjunto de valores para nossa própria personalidade.

Mais do que isso: 1) os meios de comunicação dizem ao homem da massa quem ele é — dão-lhe identidade; 2) dizem-lhe o que deseja ser — dão-lhe aspirações; 3) dizem-lhe como chegar lá — dão-lhe a técnica; e 4) dizem-lhe como se sentir em via de chegar, mesmo que não esteja — dão-lhe a fuga. A distância entre a identidade e a aspiração leva à técnica ou à fuga. Essa é provavelmente a fórmula psicológica básica dos meios de comunicação em massa, hoje. Mas, como fórmula, não está destinada ao desenvolvimento do ser humano: é a fórmula de um pseudomundo, inventado e mantido por esses meios.

Tal como existem e predominam hoje, os meios de comunicação, especialmente a televisão, usurpam o lugar da discussão em pequena escala e destroem as oportunidades de intercâmbio de opinião, feito em termos razoáveis, sem pressa humanos. São uma causa importante da destruição da inti­midade, em todo o seu sentido humano. Essa é uma das im­portantes razões pelas quais eles falharam como força educa­cional, mas existem como força maligna: não articulam para espectador ou ouvinte as fontes mais amplas de suas tensões ansiedades, seus ressentimentos subjacentes e esperanças mal formuladas. Nem lhe permitem transcender seu estreito meio ou esclarecer o sentido particular que tenha.”