Por Museu da Imagem e do Som de Campinas (MIS-Campinas)
ZINCLAIR

“Mudar o mundo é uma tarefa muito maior do que a fotografia. Mudar o mundo é ter milhões de pessoas na rua contra os opressores, contra as ditaduras, é isso que muda o mundo. E a fotografia, se ela quiser cumprir esse papel, tem que andar par e passo com esses movimentos, colocando realidades objetivas e subjetivas, porque não existe realidade absoluta” – João Zinclar (1956-2013).

A exposição fotográfica “João Zinclar, a Imagem Militante” está no Museu da Imagem e Som (MIS) em Campinas, até 17 de novembro. João Zinclar (1956- 2013) era natural da cidade de Rio Grande (RS), mas vivia e trabalhava em Campinas desde a década de 1980. Ele estava em plena atividade, como fotógrafo e militante, quando faleceu em janeiro de 2013. João atuava em vários movimentos sociais, inclusive no Sindicato Químicos Unificados, como produtor de imagens militantes.

Seu trabalho como fotógrafo era pautado por uma grande sensibilidade humana, capacidade técnica e artística, mas principalmente, por sua opção política de esquerda. Esta opção gerou um dos maiores acervos das lutas sociais no Brasil, nas últimas décadas.

“Operário da fotografia”

João Zinclar definia seu trabalho como o “operário da fotografia”. E sua ausência trouxe a preocupação com o destino deste acervo, diante do inquestionável valor político, estético e histórico que possui.

O Museu da Imagem e Som de Campinas, instituição com a qual João manteve vínculos, assumiu a tarefa de iniciar a catalogação de seu acervo. As imagens desta exposição fazem parte da seleção que ele deixou organizada.

João deixou um grande legado. Muito ainda está por ser feito para dar a dimensão pública que a obra militante de João merece, esta mostra é uma primeira ação. Como parte desta exposição o MIS também editou um vídeo documentário com depoimentos inéditos de João sobre sua trajetória.

João Zinclar faleceu no dia 19 de janeiro deste ano. Quando voltava de um trabalho em Ipatinga (MG), o ônibus em que estava foi atingido por um caminhão, na altura do município Campos de Goytacazes, no norte do Rio de Janeiro.

 

SERVIÇO

• Exposição “João Zinclar, A Imagem Militante”

• Visitação: Até 17 de novembro, de terça a sexta-feira das 10h às 17h e sábados das 10h às 16h

• Mais informações: MIS – Museu da Imagem e do Som de Campinas, pelo telefone (19) 3733.8800 e pelo e-mail mis@campinas.sp.gov.br

Dados biográficos

João Zinclar nasceu em Rio Grande (RS) começou a trabalhar cedo como comerciário e depois operário da construção civil, que o levou a conhecer a viajar com a empresa construtora e conhecer cidades grandes como Cubatão, Campinas, Rio de Janeiro e Salvador.

Entre 1976 e 1980, desligou-se do trabalho formal, tornou-se artesão e percorreu o Brasil junto com os outros jovens do movimento hippie.

Retornou para o Rio Grande do Sul, em 1981, voltou à vida operária Foi recrutado para a militância do PC do B, ainda na clandestinidade; Como membro do PC do B, recebeu a missão de vir para o interior de São Paulo, construir a luta dos trabalhadores, fixou residência em Campinas, tornou-se metalúrgico e dirigente sindical.

De 1985 a 1990 cumpriu a tarefa de conduzir um trabalho de construção sindical em Campinas, foi diretor de imprensa do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região de 1990 a 1996.

Nos meados da década de 1990, saiu dos quadros partidários e sindicais, mas não saiu da luta política. Passou a dedicou-se integralmente à fotografia, paixão de menino e atividade já iniciada durante a vida sindical, com sua primeira câmera adquirida em 1983.

De 1996 até 2013 atuou como repórter fotográfico e realizou trabalhos para vários sindicados de trabalhadores, dos Químicos, Metalúrgicos, Construção Civil, Professores, Unicamp e Correios. Entre 2001 a 2004 trabalhou para a SANASA (Sociedade de
Abastecimento de Água e Saneamento S/A, Campinas) e para o Diário Oficial da Prefeitura de Campinas. Mas, sua atuação principal foi a militância na documentação das lutas de diversas entidades e movimentos sociais de esquerda.

As imagens que João realizou, fazem parte da história do registro dos movimentos populares e estão publicadas no Brasil, na Inglaterra, na Alemanha e no México, em livros como, A História da luta pela terra e MST (2001), Cutting the Fire – The story of the landless movement in Brazil (2002), Campinas -230 anos – Governo Democrático Popular (2004), O Banco Mundial e a Terra, ofensiva e resistência na América Latina, África e Ásia (2004), Encruzilhadas do Sindicalismo (2005), Água e Cidadania em Campinas e Região – O Desafio do Século 21(2004), Campinas, imagens da história (2007), Da miséria ideológica à crise do capital (2009), Guardiões do Velho Chico (2011), Nos trilhos do trem (2012), Riqueza e miséria do trabalho no Brasil II (2013), e também em jornais e revistas, como o Jornal Brasil de Fato, Jornal e Revista do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Conflitos no Campo Brasil, Comissão Pastoral da Terra, Biodiversidad Sustento Y Culturas (México) e Regenwald Report (Alemanha), além de inúmeros boletins sindicais, blogs, calendários, sites e outros veículos da imprensa alternativa e popular, no Brasil e no exterior.

Também participou de mostras e exposições: Fome e Luta em Terra Seca (1998); Exposição fotográfica sobre as edições do Fórum Social Mundial, nos anos de 2001 e 2002 (2002); Exposição coletiva sobre migrantes na região de Campinas, retratando as movimentações dos Sem Terra e Sem Teto, com o fotógrafo Sebastião Salgado com sua exposição “Êxodos” (2002); Exposição coletiva “Águas que movem a história” (2004); Exposição coletiva “Olhares sobre a Cidade”, sobre os 230 anos da cidade de Campinas (2004); Ensaio fotográfico sobre a região do sub-médio Rio São Francisco, juntamente com o jornalista Flademir Sant´Anna (2005); Exposição Fotográfica “ O Outro Lado do Rio” sobre o Rio São Francisco em toda sua extensão, da nascente à foz (2007); e, “25 anos do MST” (2009).

 

Capa do livro "O Rio São Francisco e as Águas do Sertão"

Capa do livro “O Rio São Francisco e as Águas do Sertão” 

Em 2005, já consolidado como fotografo dos movimentos sociais, voltou ao sertão e iniciou a documentação do Rio São Francisco, trabalho que o levou a percorrer várias vezes a região da nascente à foz, e que resultou no livro publicado em 2010, O Rio São Francisco e as Águas do Sertão, sua obra autoral mais conhecida.

Imagem integrante do livro "O Rio São Francisco e as Águas do Sertão"

Imagem integrante do livro “O Rio São Francisco e as Águas do Sertão”

O trabalho fotográfico de João Zinclar  teve como  propósito fazer denúncia e documentar as lutas sociais. Por sua opção militante e pelo valor de seu trabalho, foi reconhecido pelos movimentos sociais como o fotógrafo das lutas sociais, em 2005 recebeu a Medalha Hércules Florence –  Mérito Fotográfico concedido pela Câmara Municipal  – Campinas(SP); em 2009, o prêmio Luta pela terra – categoria fotografia MST 25 ANOS-1984-2009, Sarandi (RS); em 2010, o prêmio Amigos das Águas – I Encontro dos Atingidos(as) pela transposição do rio São Francisco, Campina Grande (PB); e, em 2012, o prêmio Pequi de Ouro, pela defesa do cerrado na Bacia do Rio Grande, Barreiras (BA).