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PCB e chegou a ser preso e torturado pela ditadura civil-militar brasileira. Em seu último texto, conclamava militantes de movimentos diversos a participarem de uma reunião ampla para programar jornadas revolucionárias no continente. “Somos os que estiveram presos no Estado Nacional do Chile e assistiram impotentes ao assassinato e ao corte das mãos do poeta popular Víctor Jara. Somos os que enfrentamos a dura ditadura militar do Brasil que matou milhares de brasileiros. Fomos companheiros de luta de Carlos Marighella, assim como estivemos no Uruguai e na Argentina organizando lutas ao lado dos tupamaros e montaneros. Estamos prontos a retomar o papel que nos cabe na luta em defesa do povo de nossos países”, escreveu. Leia a carta completa em nossa página.
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Veja o último texto escrito por Maurício Azêdo.

“CONVOCAÇÃO PARA LUTAS

Aos companheiros e companheiras imobilizados pelo sistema de forças políticas e sociais que neste momento dominam a vida na América,

Queremos dizer que estamos de volta com nossas idéias, nossa coerência, nosso passado e novas propostas de luta pela libertação dos povos da América Latina.

Somos os que estiveram presos no Estado Nacional do Chile e assistiram impotentes ao assassinato e ao corte das mãos do poeta popular Víctor Jara. Somos os que enfrentamos a dura ditadura militar do Brasil que matou milhares de brasileiros. Fomos companheiros de luta de Carlos Marighella, assim como estivemos no Uruguai e na Argentina organizando lutas ao lado dos tupamaros e montaneros.

Estamos prontos a retomar o papel que nos cabe na luta em defesa do povo de nossos países. Para isso, conclamamos os participantes desses movimentos a realização de uma reunião ampla, para retomada de nosso movimento e a programação das jornadas revolucionárias que desde já devemos desencadear para que voltemos ao centro do processo de democratização em nossos países; os companheiros que disponham de espaço e recurso para a realização desse encontro, indiquem data e local onde ele se realizará, para deixarmos as condições de inação com que estamos oprimidos.

Rio de Janeiro, Buenos Aires, Montevidéu, Santiago do Chile, outubro de 2013.
Maurício Azêdo,
vítima da ditadura brasileira.”

Jornalista de 79 anos morreu nesta sexta-feira, 25 de outubro, em decorrência de uma parada cardíaca. O velório está acontecendo no Memorial do Carmo, desde as 8h. O enterro será às 16h, no Cemitério São Francisco Xavier.

Oscar Maurício de Lima Azêdo, conhecido em sua vida profissional de jornalista e na vida pública para Maurício Azêdo, nasceu no bairro de Laranjeiras, no Rio de Janeiro, em 1934. Formado em 1960 na Faculdade de Direito do Catete, decidiu seguir a carreira de jornalista, na qual se iniciara no terceiro ano do curso acadêmico.

Atuou como repórter, redator, cronista, editor, chefe de reportagem, editor-chefe e diretor de redação em inúmeros veículos, como o Jornal do Commercio, Diário Carioca, Jornal do Brasil, Diário de Notícias, Jornal dos Sports, Última Hora, O Dia, O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, entre outros jornais diários, O Semanário e as revistas Manchete, Fatos & Fotos, Pais & Filhos, Realidade, Placar, cuja criação foi baseada em projeto de sua autoria e da qual foi o primeiro editor-chefe, TV Guia e Carícia.

Foi também colaborador de jornais alternativos de resistência à ditadura militar (1964-1985), como a Folha da Semana, periódico criado pelo Partido Comunista Brasileiro-PCB, que circulou entre 2 de setembro de 1965 e 13 de dezembro de 1966, quando o Ministro da Justiça do Governo Castelo Branco, Carlos Medeiros Silva, editou uma portaria proibindo a sua impressão, distribuição e circulação em todo o território nacional, como dizia com ênfase o ato castrador. Nos anos 70, Maurício trabalhou como repórter, editor ou cronista em Opinião, Movimento e Hora do Povo, entre outros jornais. Foi colaborador do jornal clandestino Voz Operária, órgão do Comitê Central do PCB.

Nos anos 70, Maurício Azêdo foi o principal editor do antigo Boletim ABI, que se constituiu num dos mais vigorosos e corajosos jornais de contestação do regime militar no campo das liberdades públicas, dos direitos civis e dos direitos humanos. Além de promover em sucessivas edições a denúncia do assassinato do jornalista Vladimir Herzog nas masmorras do Doi-Codi do II Exército, em São Paulo, em 25 de outubro de 1975. O Boletim ABI divulgou em quatro páginas inteiras de uma edição em tamanho standard, em outubro de 1978.

O próprio Maurício Azêdo foi perseguido pela Ditadura na década de 1970, sendo inclusive barbaramente torturado, fato que marcou sua trajetória na defesa dos Direitos Humanos.

Vida pública

A partir de 1982 Maurício Azêdo dedicou-se à política. Vereador à Câmara Municipal do Rio de Janeiro por três legislaturas (1983-88, 1989-1992, 1993-1996), foi Prefeito interino em exercício do Rio por oito dias (15-22/3/83), Presidente da Câmara Municipal no biênio 1983-85, Secretário Municipal de Desenvolvimento Social (1986-1987) e, de 1999 a 2004, Conselheiro do Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro, no qual foi aposentado compulsoriamente por limite de idade em setembro de 2004. É autor de mais de cem leis municipais, entre as quais a de criação da Distribuidora de Filmes S/A (Riofilme), cujo projeto foi assinado pelo ator e então Vereador Francisco Milani (PCB). Foi também destacada a sua participação na elaboração da Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro, de 1990, e do Plano Diretor Decenal da Cidade do Rio de Janeiro, de 1992.

Entre as distinções que recebeu figuram a Medalha de Mérito Pedro Ernesto, da Câmara Municipal do Rio de Janeiro; a Medalha Tiradentes, da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro; o Colar Victor Nunes Leal, do Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro, e o Colar do Mérito Judiciário, conferido em dezembro de 2005 pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

Maurício Azêdo foi eleito Presidente da ABI em abril de 2004, encabeçando a Chapa Prudente de Moraes, neto, de oposição à Diretoria então liderada por Fernando Segismundo, e empossado em 13 de maio seguinte. Foi reeleito em outras três oportunidades – 2007, 2010 e 2013 – sendo o último mandato interrompido prematuramente.

O velório acontece no Memorial do Carmo, desde as 8h. O enterro será às 16h, no Cemitério São Francisco Xavier, na R. Monsenhor Manuel Gomes, 155, Caju, Rio de Janeiro.