Nos últimos dias a chamada “grande imprensa” voltou a dar grandes espaços ao MST, mas como sempre, para nos atacar. Irados editoriais, grandes manchetes, fotos provocadoras e noticias exageradas procurando criar um clima de guerra no campo.  

Mas afinal o que aconteceu realmente?

Na semana do carnaval aconteceram três ocupações de fazendas. Desde o mês de janeiro, todas as semanas têm acontecido ocupações de fazenda aqui e acolá.  Algumas inclusive articuladas por grupos locais ou até divergentes do MST.    Por tanto, nenhuma novidade para  “alarmar a segurança nacional” , que tenha acontecido três ocupações de terra numa semana!

Que mais aconteceu: manifestações de sem-terras em duas sedes do Incra.  Em Cuiabá e Goiânia.  Nos dois casos as manifestações foram em conjunto com os próprios servidores do órgão.  No caso de Cuiabá, o episódio foi hilário, pois o MST se postou à frente do prédio para que um grupo dissidente de um tal MTA (movimento de assentados) criado pelos comerciantes de terra, não ocupassem o prédio, para sumir com processos de desapropriação..  E nesse impedimento, eles do MTA quebraram alguns vidros do prédio.  

No caso de Goiânia, a manifestação pacífica, com apoio dos próprios servidores do Incra, foi para pedir, pasmen! que o governo nomeasse logo um superintendente, pois ha três meses os trabalhadores não têm com quem negociar.

Foi exatamente isso que aconteceu.

Agora, qualquer cidadão que tenha lido os jornais e acompanhado a rede globo ficou com a sensação que o MST havia declarado guerra ao Governo Lula, e exigia em troca a reforma agrária num só dia.

Essa manipulação que a grande imprensa está acostumada a fazer de movimentos sociais, já foi tema de muitas teses de mestrado e doutorado, na área do jornalismo, agora, os editores poderiam ser motivo para teses de psicologia. 

Mas não é disso que se trata.  Se trata de luta de classes. De luta política.

As elites brasileiras não estão conformadas com a derrota eleitoral de outubro. Sabem que o povo votou contra seu modelo neoliberal.  Sabem que o povo votou pela reforma agrária.  Sabem que os sem-terra votaram em Lula.  E sabem que Lula tem compromisso com a reforma agrária. 

Mas eles não se deram por vencidos.    Continuam se articulando para impedir que o resultado eleitoral se materialize no governo.  E estão usando sua principal arma de luta ideológica que são os meios de comunicação, para impedir que os movimentos sociais avancem.   Para caracterizar que toda luta social  é sempre contra o governo Lula.  Ora, o governo Lula é fruto da luta social de vinte anos do povo brasileiro.

Querem criar uma imagem, de falso radicalismo.   Querem isolar os movimentos sociais e a esquerda no governo.  

Esse é o verdadeiro motivo, da ira incontrolável desses senhores oligarcas que não querem perder nem as migalhas.  

Mas problemas sociais não se resolvem com editoriais fascistas. Problemas sociais se resolvem com resultados concretos na vida do povo.

Temos dito, em alto e bom som, que nosso inimigo é latifúndio e  modelo neoliberal. E lutaremos com todas as forças.   

Dizemos que somos parceiros do governo popular, mantendo nossa autonomia.

Mas eles querem isolar o governo dos movimentos, para enfraquecê-lo e dominá-lo.  E  isolar os movimentos do governo, para impedir que haja conquistas sociais reais, que representam perda de privilégios da classe dominante brasileira. 

A guerra não está no campo.  A Guerra está sendo travada no planalto central!

(por João Pedro Stedile, no jornal Brasil de Fato, nº 2- 16/3/03)