Por Barbara Fagundes*
Parece título de história em quadrinho, parece até uma brincadeira, mas não é. As mulheres continuam fazendo muito e aparecendo pouco. Como efeito de “mágica” as figuras femininas tornam-se invisíveis.
O Brasil tem centenas de organizações que debatem a temática feminista. São milhares de mulheres que se reúnem para enfrentar questões como violência doméstica, ampliação de políticas públicas, equiparação salarial, entre tantas outras políticas voltadas para o fim da exploração causada pelo machismo.
Para além das organizações feministas, outras centenas não têm uma pauta voltada apenas para as necessidades das mulheres. Nestas, a temática perpassa suas atividades. São entidades sindicais, partidos políticos, movimentos populares e de juventude. Inclusive, o papel das mulheres que estão na linha de frente de qualquer que seja o movimento sempre será, também, as bandeiras da luta pelos direitos das mulheres.
Mesmo assim, grande parte do movimento sindical e popular brasileiro tem suas lideranças pautadas em figuras masculinas, inclusive de categorias formadas por mais mulheres.
O debate não é a qualidade política das lideranças masculinas, e sim constatar que o machismo está inserido, inclusive, dentro dos movimentos que lutam pelo direito dos e das trabalhadoras. O que parece comum, natural, e pouco espanta aos olhos. Mas com um olhar mais atento, quase com o auxílio de uma lupa, percebemos que essas organizações não são feitas apenas de homens.
As mulheres estão lá, não apenas fazendo número, mas trabalhando arduamente para terem voz e “cavando” um espaço, mesmo que aparentemente pequeno, para que novas mulheres assumam a liderança desses movimentos.
É bem verdade que as mulheres têm assumido um maior protagonismo nos últimos anos, inclusive trazendo novas possibilidades de atuação, como é o caso dos mandatos coletivos que se espalharam em diversas partes do país nessas eleições municipais.
Homens militantes e o poder da chave
Porém, essa fresta na capa da invisibilidade além de sutil é como um arrombar de portas que muitos homens detêm o poder da chave. Verdade seja dita, os homens militantes estão ainda distantes de superarem o machismo estrutural.
Porém, como onde tem exploração tem luta, as mulheres estão cada vez mais fortalecendo umas às outras. Frases como: “Ninguém solta a mão de ninguém”; “Uma mulher puxa a outra”; estão sendo popularizadas nos últimos anos.
A tática mudou! Reconhecer e fazer conhecer o trabalho de mulheres tem mostrado se mostrado eficaz para o desenvolvimento de figuras que eram desacreditadas dentro de seus espaços de militância. Isto, além de fortalecer outras mulheres para que saiam das sombras. É um trabalho coletivo com uma empatia de gênero não vivenciada nas últimas décadas.
O sentimento é paradoxal. Se por um lado alegra as mulheres estarem mais unidas e fortalecendo as lutas umas das outras, é inegável, por outro, o quanto é cansativo para as mulheres, mesmo dentro de espaços classistas, terem que fazer duplo trabalho.
As mulheres ativistas, além das lutas de sua organização, ainda precisam “ensinar” seus companheiros de batalha a não serem machistas.
Muitas vezes, é o caso não de dupla, mas de tripla função. As mulheres atuam na organização, batalham por voz e reconhecimento dentro da organização, e ainda têm de convencer a coletividade masculina de que as pautas feministas são fundamentais.
O machismo hoje
Chegamos a um percurso dramático da história. Para maior unidade da classe trabalhadora e possibilidade de conquistas, é necessário que os homens avancem e reconheçam a ocupação legítima de espaços de poder pelas mulheres.
Está evidente a necessidade de nos debruçarmos sobre as pautas de luta de forma transversal a todas as “diferenças” que existem dentro de nossa classe.
Colocar as diferenças da classe entre aspas se faz necessário, já que, muitas dessas diferenças foram criadas exatamente para segregação dos trabalhadores e dificultar assim, bandeiras comuns que movam a todos.
Por fim, sem nenhuma tentativa de esgotar o assunto, as pautas e bandeiras feministas não podem ser uma concessão ou ficarem apenas no calendário do 8 de março. As mulheres, ativistas, militantes, dirigentes, já compreenderam a força e a necessidade de sua batalha de jogar luz sobre as mulheres e suas causas é fazer o movimento alcançar novos patamares para a construção de uma sociedade igualitária.
* Barbara Fagundes faz parte da Rede de Comunicadores do NPC.
Sugestões de leituras sobre as diversas lutas das mulheres em diferentes períodos da história: