Entrevista concedida por Vito Giannotti ao jornalista Elton Viana, editor do Jornal da CUT Ceará. 

 

CUT Ceará. O movimento sindical brasileiro vive um dilema. Apoiou Lula durante a eleição e no entanto tem de se manter autônomo e independente. Qual o papel que a comunicação sindical desempenha nesse processo?

Vito Giannotti. A comunicação sindical deve refletir as idéias do sindicato. Ou seja, este é um problema de definição política do Sindicato. O conjunto do sindicato e nossa Central devem primeiro definir sua relação política com este governo que ajudamos a eleger e depois ter uma comunicação com os trabalhadores que reflita esta decisão. O papel da comunicação neste momento continua a ser o de disputar a hegemonia na sociedade com os inimigos dos trabalhadores: industriais, banqueiros, latifundiários, com os patrões, enfim. E naturalmente com os donos do capital mundial: FMI e as multinacionais. É uma disputa com essas forças e com todas as estruturas que os sustentam: organizações patronais, culturais, a estrutura escolar, e com toda a mídia que  tradicionalmente sempre esteve a serviço de manter esta chamada ordem. Órdem, que,na verdade é uma desordem.`´E a continuação da Casa Grande e da Senzala da época da escravidão. 

CUT Ceará. Que tipos de veículos de comunicação um sindicato ou uma Central sindical devem desenvolver?

Vito. Todos. Não podemos nos satisfazer com um jornalzinho, ou com um outdoor. A burguesia, nossa inimiga de classe, usa todos os instrumentos, ao mesmo tempo. Vai de Gutemberg ao Bill Gates. Ou seja, para conservar a sociedade como esteve durante quinhentos anos, ela usa o jornal, o rádio, a televisão, a internet e todos os outros instrumentos que o dinheiro lhe permite. Nós, movimento sindical, precisamos usar todos os instrumentos possíveis. Usar de forma criativa, sempre atualizada, sempre mais intensa. E usar com todas as técnicas que o povo está acostumado a ver na TV, nos jornais, ou ouvir pelo rádio. É claro, sempre selecionando os instrumentos e as técnicas que melhor se adequam a uma prática participativa e libertadora, como deve ser a nossa.Temos que nos dispor a aprender sempre. A melhorar sempre. A aumentar, cada vez mais, o volume da nossa comunicação. E isto na nossa comunicação escrita, nos programas de rádio, no uso de vídeos, no uso da internet. Por quê? Porque queremos ganhar a disputa na sociedade. Queremos convencer milhões que uma outra sociedade é possível. Convencer que o socialismo, que está escrito nos princípios da nossa Central, é este outro mundo possível.  

CUT Ceará. Uma proposta histórica da CUT, na área da comunicação, é a criação de um jornal nacional da CUT. Completando 20 anos no próximo dia 28 de agosto, por que o senhor acha que esse projeto nunca vingou?

Vito. Porque não entendemos o papel da comunicação para a mudança desta sociedade.  No editorial  do primeiro número do jornal japonês, Joji Shimbum, em 1875, estava escrito: “Um partido sem jornal é como um exército sem armas”. E o que serve para um partido serve para uma Central. No entanto, nós somos forçados a ler notícias da nossa Central na Folha de São Paulo, que é um ótimo jornal… neoliberal. Esta é a nossa condenação… por que não temos o jornal da nossa Central. O mesmo vale para o partido. Nenhum partido nosso, de esquerda, tem um jornal/jornal. Isto é um jornal diário. E no entanto, em 1919, aqui no nosso país,o jornal anarquista A Plebe, durante seis meses foi diário. Em 1946, o Partido Comunista editava 8 jornais diários. E hoje nós temos a Folha de São Paulo para nos dar áulas de política neoliberal. 

CUT Ceará. E qual a importância de se desenvolver uma política nacional de comunicação da CUT?

Vito. A CUT tem, em seu ideário, uma definição por uma sociedade democrática e socialista. Duas vezes, no estatuto da CUT, se fala em socialismo. E como convencer a sociedade, como convencer os milhões de trabalhadores que devemos caminhar neste sentido? Como convencer milhões de trabalhadores a ir para a luta a fazer uma greve, fazer uma manifestação? O meio é o convencimento… isto é, a comunicação.E para convencer milhares e milhões precisamos de muitos jornais, muitos programas de rádio, produzir e usar muitos vídeos, usar e abusar da internet, estar na TV Comunitária, usar a Web-Rário, enfim fazer da comunicação nossa atividade principal. É com ela que temos que organizar a base para a luta cada vez mais difícil contra o capital e seus representanres. 

CUT Ceará. Os informativos dos sindicatos, aqui no Ceará, alcançam um maior número de leitores que todos os outros veículos de comunicação da grande imprensa. Que  tipo de iniciativa deve ser tomada pelos sindicatos para criarem um veículo de comunicação que verdadeiramente venha a se contrapor à grande mídia?

Vito. A CUT pode ter um papel fundamental de unificar, de aglutinar ou, no mínimo de ser um motor de arranque de iniciativas unificadas. Passos podem ser dados, sem ilusão que vai ser fácil. O sectarismo e o exclusivismo presentes na nossa cultura sindical dificultam tremendamente. Mas, ou avançamos nesse sentido, ou nossos inimigos avançam.   

CUT Ceará Como o senhor avalia a atual política de comunicação da CUT Ceará?< /span>

Vito. A CUT Ceará está dando passos importantes. Já tem uma bela página eletrônica. Tem um informativo etc. Mas não podemos nos dar por satisfeitos. Tasso Gereissati tem muito mais do que a CUT/CE. Só podemos descansar quando a coisa se inverter. Nós por cima e Tasso por baixo. Tasso e toda a classe que ele representa: a velha e nova classe dos exploradores do povo cearense.   

CUT Ceará.  Para finalizar, existe liberdade de imprensa no Brasil?

Vito. Liberdade de fazer uma jornal até que tem. Evidentemente há um enorme fosso entre os meios econômicos da burguesia e os dos trabalhadores.A resposta, quando se trata das concessões de rádio e televisão é NÃO. Não há liberdade. Os canais de televisão, a TV a cabo, e as rádios são capitanias hereditárias doadas aos amigos do poder. Até agora foi assim. Esse é o grande desafio do Governo Lula. Sem esta democratização dos meios de comunicação, a hegemonia na sociedade será sempre daqueles que a detêm desde Pedro Álvares Cabral. A frase jocosa que se fala é que precisa fazer uma reforma agrária no ar. Ou seja, rever todas as concessões de rádio e TV. Isso é uma revolução. Sem esse passo inicial, a hegemonia continuará nas mãos dos Marinhos, dos Frias, dos Sirotskis, dosMesquitas, dos Silvios, e dos bispos Macedo e companhia.E de qual lado estes grupos econômicos estão?