[Publicado em 04.01.2011 – Por Vito Giannotti]
No dia 23 de dezembro de 2010, as várias federações do setor metalúrgico, cada uma ligada organicamente à sua central sindical, assinaram um acordo para a planta da Fiat de Mirafiori, em Turim.
Esta é a unidade-símbolo da maior fábrica de automóveis italiana.
Já tinha sido imposto pela Fiat, com a assinatura das mesmas federações, o mesmo acordo em outra unidade da Fiat, em Pomiglano, no sul da Itália, região de Nápoli. Nos dois casos a Fiom, federação ligada organicamente à CGIL – que já foi a central que abrigava a maioria dos comunistas e dos socialistas -, se recusou a assinar. A coisa ficou por isso mesmo. Desta vez a situação se complicou imediatamente. A Fiat colocou no acordo uma cláusula que rompe com toda a tradição sindical italiana e quebra os sindicatos. Esta cláusula exclui das futuras negociações a federação que não assinou este acordo. É uma revolução completa no sindicalismo italiano.
Acordo ataca direitos dos trabalhadores
A Fiat está se fundindo, exatamente neste começo de 2011, com a Chrysler dos EUA. São os rearranjos do capitalismo industrial e financeiro para superar suas crises. Isso tem acontecido a cada hora desde a explosão desta rodada da crise econômica de 2008. Nada de novo. O que há de novo é a firme decisão dos dirigentes da Fiat italiana de preparar e Fiat para ser unificada à Chrysler. E para isso é preciso, na lógica do capital, eliminar todas as conquistas dos operários italianos, fruto de meio século de duríssimas batalhas. Isto significa: acabar com o Statuto dei Lavoratori, conquistado com milhares de greves e dezenas de graves gerais de todos os trabalhadores italianos de 1950 até 2000. Significa anular os artigos da Constituição italiana onde estas conquistas estão inseridas e reconhecidas. Na prática, haverá mudanças nos horários de trabalho, nas pausas entre os períodos, nas horas extras, no controle dos ritmos de trabalho, nas faltas e nas licenças médicas. Também os salários deverão ser flexibilizados de acordo com as vontades da empresa.
Ataque para acabar com os sindicatos
Além destes direitos imediatos dos trabalhadores, a Fiat/Chrysler quer um novo sindicato. Um sindicato ajoelhado, castrado, humilhado e sem seus grandes instrumentos de combate que eram: o Contrato Nacional de Trabalho por categorias, a organização sindical dentro dos locais de trabalho através da Representação Sindical Unida (RSU) eleita e formada por trabalhadores das várias centrais sindicais.
O Acordo que a Fiat conseguiu fazer assinar as várias federações, menos a Fiom, prevê que a federação que não assinou este dito acordo não poderá mais participar às negociações do Acordo Coletivo, nem de nada. Na prática cassa seu direito de existência. Não haverá como participar da RSU. Não recolherá mais a mensalidade sindical desta federação na folha de pagamento.
Com isso estará como o diabo gosta. Ou melhor como a Chrysler quer e a Fiat com ela. O sonho de destruir os fortes sindicatos italianos está perto da sua realização.
A posição da Fiom: greve geral
A Federação ligada à CGIL é de combate total a este acordo. Sem meias palavras seus dirigentes condenam toda lógica deste acordo. Reconhecem que os trabalhadores da Fiat-Mirafiori foram submetidos a uma tremenda chantagem por parte da empresa. A ameaça de desemprego e a promessa de novos investimentos da NEWCO (a nova companhia a nascer da fusão Fiat/Crysler) levaram o medo e a desorientação entre os trabalhadores. Toda a mídia comercial italiana, absolutamente controlada pela direita capitaneada pelo primeiro ministro Berlusconi, está em campanha para que os operários de Turim façam um pacto social para salvar a Itália que está numa crise a la Espanha, Irlanda, Portugal e Grécia.
E a esquerda italiana onde está? A Itália mudou enormemente dos tempos de Gramsci, passando pelas lutas dos anos pós-guerra e das gloriosas batalhas dos anos 70/80 e até 90. A esquerda italiana hoje é a sombra do que foi durante meio século. O que foi o poderosíssimo Partido Comunista Italiano virou algo que o Partido da Refundação Comunista (PRC), ora define como de centro, ora de centro-esquerda e ora de sócio-liberal. O que foi o Partido Socialista onde Gramsci começou a militar pulverizou-se e desapareceu. O que sobra para os operários italianos? Para os trabalhadores da Fiat-Mirafiori? Dos partidos que disputaram as eleições nos últimos pleitos, só o PRC com seu jornal Liberazione está apoiando a Fiom.
Basta pensar que o Partido Democrático (PD), os antigos comunistas, é a favor do acordo da Fiat/Chrysler. Logicamente que a secretária geral da CGIL, do PD, também é a favor e contra a greve geral que a Fiom marcou para 28/1.
As outras federações metalúrgicas marcaram um plebiscito na Fiat de Turim para os dias 23 e 24, exatamente nas vésperas da greve geral chamada pela Fiom.
A investida das outras federações, da Fiat, da mídia e de toda a direita vai ser enorme para fazer fracassar esta greve geral.
A batalha da Fiat deste janeiro vai ser dura. Muito dura. Dela dependerá o futuro do sindicalismo nos próximos anos.