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Trecho do capítulo 7 do novo livro de Vito Giannotti, COMUNICAÇÃO DOS TRABALHADORES E HEGEMONIA, sobre a pauta de jornais, revistas e boletins eletrônicos:

“Precisamos falar ao coração dos nossos desejados leitores e leitoras. Falar dos assuntos que os/as preocupam, que eles/elas precisam saber. Falar da vida, dos medos das pessoas normais, de suas esperanças, de seus sonhos. Um jornal sindical que não fala da violência que assusta todo brasileiro, que não fala da saúde que é um caso de genocídio, do emprego, é um jornal que vive na lua. Mas há muitos outros temas que o nosso leitor precisaria encontrar nas páginas do nosso jornal para se dispor a folheá-lo. Vejamos. Nosso jornal fala da escola que ele frequenta ou o filho dele? Fala de educação de filhos ou das dificuldades de um coitado de vô com os netos? Fala das drogas e dos problemas a ela relacionados, do tráfico até os efeitos sobre a saúde? Fala de amor? Namoro, sexo, enfim, da vida toda?

Se, no Brasil tivéssemos um jornal diário de esquerda, seria muito mais fácil. A maioria destes temas seriam diariamente tratados por “nossa” imprensa partidária ou, de qualquer maneira, de esquerda. Mas, esses jornais não existem. E então a comunicação sindical tem que cumprir esta tarefa subsidiária de ser um jornal que tenha uma pauta capaz de disputar todas as visões hegemônicas na sociedade. Se não tratar desses temas, como vão ser lidos com interesse por nossos desejados leitores?

Mas, evidentemente esses mega-temas não são o centro do nosso jornal sindical. O central, para o trabalhador da base, são os temas específicos, os temas da vida do trabalho. Todos, salário, condições de trabalho, saúde, horários, folgas, férias, participação nos lucros, assédio moral, sexual e de todo tipo.

Em síntese, podemos ter como referência necessária do nosso jornal “Sair do próprio umbigo”. Ou seja, tratar dos temas específicos da vida sindical, mas não só. Se formos dar um peso em termos de porcentagem à nossa comunicação poderíamos dizer que uns 60% do conteúdo dela deve ser o umbigo sim. Os outros 40% serão os temas mais gerais, dosados, pesados com cuidado. Quais? Aqueles temas que queremos disputar com a visão hegemônica, a visão dominante Aqueles que a outra mídia, a mídia dos patrões, do sistema trata a toda hora. Na visão deles, óbvio. E obvíssimo, que nós trataremos na nossa”.