É mais um caso exemplar de como a imprensa do sistema disputa a hegemonia com a esquerda. Em janeiro um desastre chamou a atenção da população. Bem menos do que deveria. O porquê é o de sempre. Quem poderia ter colocado este fato no centro do noticiário era a mídia. Mas, aqui começa a lição de sempre. Que interesse teria a mídia de manter na crista da onda esta notícia que, se aprofundada, chegaria imediatamente a ter que falar daquele que foi o candidato da maioria dos jornais, revistas, canais de televisão e rádios, dois meses antes? O nome do ex-governador de São Paulo foi tocado só de raspão. Aliás, onde ele anda? Mas isso é problema dele.  

E, sobretudo, qual o destaque que tiveram as empreiteiras da linha amarela do metrô de São Paulo? Há documentos de sobra, apresentados pelo Sindicato dos Metroviários da capital paulista que mostram a responsabilidade da administração pública, isto é, o Governo do Estado de São Paulo, e das empreiteiras no acidente. Contratos não cumpridos, fiscalização não realizada ou deixada para as próprias empreiteiras e muito mais irregularidades.

E a mídia iria escancarar estas relações incestuosas entre o capital e o poder? Só se ela fosse de outra classe. Mas a grande mídia está toda de um lado. Do seu lado. Do lado da sua classe. E assim, a culpa do desastre foi… São Pedro, as águas, as terríveis chuvas. E Geraldo Alckmin, seu partido, seu governo e, sobretudo, suas empreiteira se livraram.

Essa é a explicação da capa da Veja na semana seguinte ao desastre. A relação dos cães com seus donos vale mais que aquelas sete vidazinhas e o choro de suas famílias.  

Mas esta é só a primeira lição. A segunda vem de carona na primeira. Cadê a imprensa de esquerda para se contrapor à visão hegemônica? Cadê nossos jornais diários, nossas televisões, nossas rádios? Existem só poucas e pequenas vozes, Brasil de Fato, Caros Amigos, Reportagem, Fórum e vários boletins e revistas de circulação mais restrita e a revista semanal Carta Capital que mesmo sem se rotular de esquerda é uma eterna aula de jornalismo decente.

Vale a pena conferir as capas da Veja e a da Carta Capital e pensar sobre as duas lições de sempre. 

[Por Vito Giannotti – 10.02.2007]

Veja e Carta