Nossa próxima edição do BoletimNPC será especial sobre o Curso. Ao longo das seções, você poderá saber melhor o que foi discutido durante esses cinco dias de encontro.
Mídia como partido da burguesia; cultura brasileira e identidade nacional; mídia de resistência e contra-hegemonia no Brasil e na América Latina; quadro regional da comunicação; Conferência Nacional de Comunicação; mídia e criminalização da pobreza… Esses foram os assuntos tratados durante os dias 11, 12 e 13 de novembro, durante o 15° Curso Anual do NPC, no Centro do Rio de Janeiro. O encontro contou com a participação de cerca de 200 jornalistas, dirigentes sindicais e militantes de todo o Brasil.
Pascual Serrano, Virgínia Fontes e José Arbex Jr. na mesa de abertura do Curso
Todos os palestrantes, direta ou indiretamente, reafirmaram o título geral do encontro: A Mídia como partido do capital. A historiadora Virgínia Fontes, que esteve na mesa de abertura do curso, explicou o porquê deste tema. Como ela lembra, o filósofo italiano comunista, Antonio Gramsci, considerava a imprensa como partido da burguesia por cumprir o papel de orientar os Aparelhos Privados de Hegemonia. Estes, por sua vez, lidam com interesses diferentes e se empenham em obter o consenso como condição indispensável à dominação de um certo grupo sobre os demais. E mantém-se essa dominação aliando convencimento (persuasão) à repressão. Para Virgínia Fontes, no Brasil esse fato fica óbvio, pois junto à violência cresce a justificativa dada pela mídia à truculência do Estado, como a atuação de policiais e caveirões.
Da mesa de abertura também participaram os jornalistas José Arbex Jr e Pascual Serrano. Ambos abordaram a situação da mídia na América Latina, e aspectos como concentração, manipulação, e o mito da imparcialidade. Também foram palestrantes os professores Renato Ortiz (Unicamp), Adriana Facina (UFF), Dênis de Moraes (UFF) e Venício Lima (UNB). Os jornalistas Altamiro Borges (Debate Sindical), Clomar Porto (Sindmetal Caxias do Sul), Henri Figueiredo (Sisejufe), Renato Rovai (Revista Fórum), Hamilton de Souza (Caros Amigos), Alípio Freire (Brasil de Fato), Raimundo Pereira (Revista do Brasil), Cristian Góis (SE), Rogério Almeida (PA), Arthur William (Intervozes), Gizelle Martins (O Cidadão, da Maré), Beto Almeida (TV Comunitária – DF). Participaram ainda Maria Mello (MST), Laurindo Leal (professor da USP e ouvidor geral da EBC), Maurício Campos (Rede Contra a Violência), Maria Lúcia Fatorelli (Auditoria da Dívida no Equador), Vito Giannotti e Cláudia Santiago, coordenadores do NPC. A jornalista Cláudia Santiago comparou a violência contra as classes populares hoje com aquela praticada no início do século 20, na implantação da ordem republicana do Brasil.
A Conferência Nacional de Comunicação foi um tema bastante abordado durante as mesas. Reconheceu-se a importância da sua realização, como um resultado da luta histórica de movimentos sociais e pela democratização da comunicação. Sua principal contribuição é, para muitos, ampliar a discussão da comunicação e sua concepção como um direito de todos e todas. Os debates também permitem questionar a renovação automática de concessões de rádio e TV, a criminalização de rádios comunitárias, a falta de incentivo a mídias alternativas e populares etc.
Oficinas e debate após exibição do filme Linha de Passe encerraram o Curso
No sábado, 14, foram oferecidas oficinas sobre linguagem, fotografia, infográficos, rádios comunitárias, cinema militante e novas mídias. Além dos debates, a programação cultural esteve agitada, com a apresentação do Jongo da Serrinha; Sambra Brilha; o funk “Tá tudo errado”, composto por MC Leonardo; além do grupo de teatro Companhia Marginal, da Maré. Livros, camisetas, bonés e inclusive bolsas do Instituto Cervantes para estudar espanhol foram sorteados durante o evento.
Foto: Laercio
Walter M. Salles no debate de encerramento do curso, no Cine Odeon
No encerramento do curso, dia 15, foi exibido o filme Linha de Passe no Cinema Odeon, na Cinelândia. Após a sessão, foi realizado um debate com o diretor do longa, Walter M. Salles; o economista João Pedro Stédille, do MST; o deputado estadual (Psol/RJ), Marcelo Freixo; e MC Leonardo, presidente da ApaFunk. Para Stédille, o filme tem um papel importante, pois nos leva a refletir sobre os problemas da sociedade, mostrando que não existem saídas individuais, mas sim soluções coletivas. Marcelo Freixo lembrou a reprodução do medo pela mídia comercial em relação à pobreza e à periferia, o que justifica a violência do Estado. Ele fez uma provocação aos jornais sindicais: “Qual o espaço que a mídia sindical tem dedicado aos Diretos Humanos?”.
Walter Salles contou que, quando foi filmar Diários de Motocicleta, em 2004, encontrou as mesmas contradições e dificuldades de que Che Guevara e Alberto Granado falavam 50 anos antes. Ele lembrou que o discurso da criminalização, do medo e da violência ultrapassa as fronteiras do Brasil. Citou, como exemplo, os discursos de Sarkozy contra a periferia, na França, e a época de caça às bruxas nos Estados Unidos, contra os comunistas. Por fim, MC Leonardo lembrou o próprio preconceito reproduzido em relação ao funk, e reconheceu a importânci
a do curso como um espaço em que se reconhece esse discurso criminalizante, estimulando a mudança dessa prática. E encerrou o debate com uma bela apresentação do funk “Tá tudo errado”, encantando toda a plateia que lotou o Cinema Odeon.
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