[Por Cid Benjamin/ O Dia – 30.8.2016] Escrevo antes do término do julgamento do impeachment de Dilma Roussef pelo Senado. Mas os resultados são favas contadas, apesar de seu digno discurso de despedida. Até o PT a abandonou. Ela perderá o mandato, o golpe será consumado, e Michel Temer vai ser empossado em definitivo. Será mais um presidente sem votos, como os generais da ditadura.
Estão em jogo, nesse episódio, duas coisas.
A primeira, o pacote de medidas antipopulares, exigido pelas classes dominantes. Para estas, as concessões de Dilma e seu “ajuste” neoliberal já não bastavam. Temer quer retirar outros direitos dos trabalhadores, apertar mais os aposentados, desmontar a CLT e cortar recursos das áreas sociais. É um programa que jamais seria aprovado nas urnas. Só poderia vir por meio de um golpe. Por isso, o impeachment.
Este é o pano de fundo para a derrubada de Dilma.
A direita aproveitou o desgaste do governo, que não fez reformas estruturais e, por isso, não pôde mobilizar a sociedade em seu apoio. Quis garantir a governabilidade comprando bandidos com cargos. O resultado é conhecido. Além disso, o PT se enfraqueceu com a Lava Jato. Daí para o golpe foi um passo.
O segundo elemento é a sucessão de 2018. Lula foi indiciado e, se condenado, perderá os direitos políticos. A acusação: a OAS fez obras no valor de R$ 2,4 milhões no triplex que ele compraria.
Tudo indica que Lula iria mesmo adquirir o imóvel, mas desistiu. Mas a OAS já tinha feito gratuitamente as obras, a pedido do ex-presidente. No entanto, não há provas de que Lula teria dado vantagens à empreiteira como contrapartida. Portanto, qual é a acusação? Receber favor não é ilegal. Não se discute que houve relação de promiscuidade entre Lula e a OAS. Comportamento impróprio, mas não configura crime.
O indiciamento de Lula tem a ver com 2018 e a tentativa de garantir continuidade ao arrocho de Temer. Apesar da rendição ideológica do PT, ele não poderia aplicar esse pacote. E, em que pese o desgaste do PT, Lula poderia ser um candidato competitivo.
Não sei se ele vai querer ou vai poder concorrer, mas, tanto seu indiciamento, como a pressa em aplicar o pacote antipovo de Temer, têm como pano de fundo 2018. O ajuste neoliberal de Dilma era pouco.
Mas que se preparem. Haverá resistência.