Nas últimas semanas, nas duas costas dos Estados Unidos, o grande e contínuo debate sobre a consolidação da mídia deu alguns largos passos – em direções opostas. Na semana passada, em Washington, a Federal Communications Commission, (Comissão Federal de Comunicações), FCC, anunciou que, mais uma vez, está disposta a reexaminar e quase certamente afrouxar as normas relativas à propriedade de mídia do país. A questão é
até que ponto elas serão afrouxadas.

O anúncio da FCC surge três anos após as mudanças de amplo alcance na norma que permitiu às empresas terem mais veículos – eletrônicos e impressos – em cada local e permitiu que todas as redes atingissem uma porcentagem maior do público telespectador. Essas mudanças foram tão impactantes que o Congresso reverteu muitas delas e os tribunais federais as descartaram e solicitaram que a FCC começasse de novo.

A revisão na norma é exigida por lei – um reconhecimento de que a tecnologia mudou o cenário da mídia. Mas os críticos temem que o afrouxamento exagerado das normas venha em detrimento da democracia.

Estão preocupados com o fato de que um número muito pequeno de proprietários restrinja o número de vozes disponíveis para os consumidores e resulte naquilo que aqueles que odeiam a mídia mais desprezam – uma grande força monolítica controlada por umas poucas pessoas ricas. É claro que a maioria dos proprietários rejeita essas insinuações.

Primeiramente, dizem, a internet impede que essas grandes empresas de mídia se tornem demasiadamente poderosas. Há milhares de vozes por aí. Qualquer um que tenha um computador e uma conexão de banda larga pode cobrir as notícias – um argumento sólido, na teoria, mas ignora realidades incômodas, tais como a comparação entre o número de pessoas que prestam atenção a cada um desses milhares de pequenas vozes com o número de pessoas que ouve as poucas grandes vozes.

Em segundo lugar, argumentam os proprietários, isso tudo vem para servir melhor o consumidor. O que é melhor para os consumidores: um grupo fragmentado de pequenas organizações noticiosas, escasso de recursos, ou um número menor de grandes empresas que podem gastar contratando a melhor equipe, comprando os melhores equipamentos e fazendo melhores reportagens?

Será que a resposta não é óbvia? Mas a melhor pergunta talvez seja o que é melhor para essas grandes empresas, o que nos leva às notícias vindas da outra costa na semana passada.
Em Los Angeles, uma empresa que era uma “garota-propaganda” do argumento “mídia maior é mídia melhor”, a Tribune Company, está em dificuldades. Lá, membros da família Chandler, dona do Los Angeles Times há mais de 100 anos, estão procurando alguém que compre ao menos alguns de seus veículos de mídia, se não todos, por causa do mau desempenho econômico.

Em 2000, a Tribune comprou a empresa controladora do Times, a Times Mirror, esperando obter vantagens com essas normas menos rígidas que a FCC estava, então, considerando. A Tribune recebeu ressalvas do governo em vários mercados onde a empresa tinha excesso de veículos – jornais e estações de TV – e esperava se converter num modelo de como a sinergia de uma grande empresa podia funcionar.

Mas simplesmente não foi dessa forma que os mercados encararam as coisas. O preço das ações da Tribune atualmente está mais baixo do que era em 2000. Suas receitas caíram. Um analista chamou a fusão de “um enorme fracasso”.

E a Tribune não foi a única empresa de mídia que encontrou menos que um sucesso estelar na promessa de crescimento e sinergia. Lembram-se de toda aquela empolgação em torno da fusão AOL Time/Warner em 2000? Ah, sim lá
atrás, quando o mercado tecnológico estava irrefreável e a AOL parecia ter
o perfeito sistema de distribuição para os conteúdos da Warner. Mas, é
claro, os tempos mudam.

A verdade é que ainda não foi dado o veredicto sobre o argumento da mídia de que “maior é melhor”. Mas, no momento, parece certo dizer que maior não é necessariamente melhor. Talvez seja um argumento a ser analisado caso a caso. Talvez seja pelo fato de não termos avançado o suficiente na estrada para a grande convergência da mídia para que essas fusões funcionem – quando seu computador for seu aparelho de televisão e seu jornal. Quem sabe?

Até agora, a notícia mais importante do ano referente à propriedade na mídia não é uma história de consolidação, mas de fragmentação – a dissolução da cadeia de jornais Knight Ridder, na qual uma empresa, a McClatchy, apresentou-se e comprou todos os jornais e depois vendeu vários deles para diferentes compradores.

Há mais do que uma certa ironia em tudo isso. Durante anos, os jornalistas têm execrado o que aconteceu às salas de redação por causa das pressões do resultado final. Grandes empresas foram compradas por empresas maiores ainda, lamentam os jornalistas, e muitas vezes os novos donos, com poucos laços com a cidade natal ou a história dos veículos, reduziram o número de funcionários para atingir altas margens.

Em última análise, seja o que fizer a FCC, talvez seja preciso que se coloquem freios nas compras da grande mídia não pela FCC, nem por salas de redação desgostosas e nem por cidadãos enfurecidos, mas pelas próprias empresas que vão decidir que, mesmo que pensem que “maior é melhor”, o árbitro decisivo – o resultado final – não está assim tão certo.

*Dante Chinni é membro sênior da Pew Project for Excellence in Journalism,
de Washington