Por Sheila Jacob-NPC – Publicado em 03.05.11
[Por Sheila Jacob] De segunda a sexta-feira vai ao ar, às 22h15, a bela novela Amor e Revolução, de Tiago Santiago. O foco é o romance entre a jovem revolucionária Maria Paixão e o militar José Guerra, além de outras histórias de amor que vão surgindo ao longo da trama. Parece seguir a fórmula de tantas telenovelas, principalmente o modelo consagrado pela Rede Globo, mas Amor e Revolução não fica só nisso. O mais interessante é que a ficção, nesse caso, serve como importante resgate da história recente de nosso país: a ditadura civil-militar que durou 21 anos, de 1964 a 1985.
No enredo também há as cenas de tortura e de treinamento de guerrilha, ameaças, perseguições, dicas de leitura (que servem também para o telespectador) e debates sobre a liberdade e a democracia ameaçadas pelo golpe. Em entrevista à revista Carta Capital, o diretor Tiago Santiago explica a opção de busca pelo passado. Ele afirma que o assunto da ditadura infelizmente não sai de pauta do país, “pelo menos enquanto houver mortos insepultos e criminosos impunes resultantes dela”.
Além dos imperdíveis depoimentos ao final de cada capítulo, principalmente de ex-torturados e presos políticos, também merece destaque a belíssima trilha sonora, com direito a Chico Buarque, Geraldo Vandré, Nara Leão e outras vozes que embalaram a resistência durante o período.
A novela tem incomodado tanto que já vem gerando reações dos setores mais conservadores. Os militares chegaram a organizar um abaixo-assinado, para que a trama fosse proibida de ir ao ar. O Ministério Público Federal arquivou o pedido, porque “não foram apresentados elementos mínimos para justificar a investigação”.
A Folha de S.Paulo também ficou enfurecida, e chegou a publicar um texto atacando a qualidade na novela. Como mostra Eduardo Guimarães em seu blog, isso ocorreu logo depois de Amor e Revolução levar ao ar, no dia 7 de abril, o depoimento da jornalista Rose Nogueira. Ao descrever as crueldades que sofreu durante o período, ela citou o apoio da Folha da Tarde ao regime militar. “Ao buscar, agora, nos arquivos da Folha de S. Paulo a minha ficha funcional, descubro que, em 9 de dezembro de 1969, quando estava presa no DEOPS, incomunicável, ‘abandonei’ meu emprego de repórter. Escrito à mão, no alto: ABANDONO. Como é que eu poderia abandonar o emprego, mesmo que quisesse? Todos sabiam que eu estava lá, a alguns quarteirões, no prédio vermelho da praça General Osório”.
A própria Folha reconheceu recentemente sua atuação pró-regime militar, durante a comemoração de seus 90 anos.