Publicado em 07.06.11 – Por Emir Sader, na Carta Maior

O Peru é o terceiro maior produtor mundial de cobre e zinco e o maior produtor de ouro, zinco, prata, chumbo, estanho e telúrio da América Latina. É também o segundo maior produtor de cobre, molibdênio e bismuto da região.  Não por acaso, o grande fluxo de capitais estrangeiros que aportou na economia peruana  nos últimos anos mirava as exportações dessas riquezas, reeditando a velha lógica colonial de embarque ponto a ponto sem agregar quase nada ao desenvolvimento local. A morfologia peruana se desdobra em três círculos de diferenciação geográfica e social:  costa, selva e serra. A selva e a serra concentram a miséria reproduzida pelo modelo neoliberal predominante desde os anos 90, ancorado em liberdade absoluta aos capitais, receita fiscal irrisória de apenas 15% (inferior à média acanhada da América Latina de 18%)  e proteção social mínima à população, decorrente de parcos investimentos públicos em serviços essenciais. Mais de 50% dos moradores  da Amazônia peruana e das áreas  serranas vivem na pobreza, contra  média de 19%  na costa branca e mestiça. Paradoxalmente foi nos cinturões da selva e da serra  que se concentraram os grandes projetos de mineração que fizeram o fastígio da elite no litoral, sem benefício equivalente à maioria miserável que vive nessas áreas. Não por acaso, vieram dos indígenas, que formam 45% da população,  os votos que propiciaram a vitória de Humala  contra o continuísmo neoliberal assumido por Keiko Fujimori. A tarefa mais difícil do novo governo agora será coordenar as expectativas de mudança dos seus eleitores com o timming necessário à recomposição das finanças públicas, deliberadamente desprovidas de recursos para acionar programas de crescimento e inclusão social. Com uma mídia hostil, despudoramente tendenciosa, a ponto do prêmio Nobel de Literatura,o  conservador Vargas Llosa, suspender a veiculação de suas colunas em um dos jornais da direita, em protesto pela cobertura eleitoral, não será fácil a decolagem do novo governo. Mais que nunca, o apoio de Estados progressistas da América Latina, Brasil à frente, será fundamental à estabilidade e ao sucesso de Humala.