[Por Sheila Jacob]
A manhã de quinta-feira, 22.11, foi dedicada à exposição de diversas experiências na área de comunicação sindical. Antes da apresentação, a professora Larissa Correa falou sobre a história social do trabalho, uma nova maneira de os estudiosos enxergarem os caminhos do trabalho escravo e livre no Brasil. Como ela explicou, a partir dos anos 1980 houve uma mudança de paradigma nesses estudos: antes, os escravos e os trabalhadores livres eram vistos como seres passivos, objetos do domínio completo do Estado e de seus senhores. “Por este estudo, o povo era tratado como manipulado, ignorante ou apenas pano de fundo dos eventos da elite. Eram os fracos e oprimidos, sempre silenciados ou dominados por outros”, explicou.
Depois da perspectiva da ausência passou-se à da agência, ou seja, ao entendimento de que esses trabalhadores, livres e escravos, foram sujeitos e protagonistas de sua história – sem deixar de lado, claro, os mecanismos de opressão, de coerção e controle que sempre foram usados pela classe dominante. “A ideia de um grande número de pesquisadores é mostrar que essas relações sempre foram muito mais complexas do que historiadores poderiam supor”, explicou. Foi uma breve apresentação do tema. Para aprofundar essa questão, um dos artigos indicados pela professora é o “Sujeitos no imaginário acadêmico: escravos e trabalhadores na historiografia brasileira desde os anos 1980“.
TV, rádio e revista foram alguns dos veículos apresentados
Edson Munhoz e Fatima Lacerda falaram sobre os veículos do Sindicato dos Petroleiros do Rio, como a agência de notícias (APN), rádio e TV Web. “Entendemos que essa ferramenta hoje é fundamental para disputar dia a dia a posição política dos grandes jornais, a qual certamente não é a posição dos trabalhadores”. Fátima Lacerda explicou que o Sindicato passou a investir em instrumentos próprios de comunicação a partir da luta pela retomada do controle do petróleo pelo Estado brasileiro, principalmente após a descoberta do pré-sal. Depois desse interesse específico, o Sindicato abriu para parcerias com outras lutas populares e sindicatos. “Entendemos que a luta não é de uma categoria apenas; precisamos nos unir para enfrentar o projeto neoliberal. Para isso, temos que construir nossas próprias mídias e construir parcerias a partir do interesse conjunto da classe trabalhadora”, concluiu. Um exemplo é a TV Petroleira, que tem trabalhado em parceria com canais comunitários e diversos movimentos sociais.
Roberto Ponciano falou sobre a publicação quinzenal Ideias em Revista, do Sindicato dos Servidores da Justiça Federal (Sisejufe). Ele ressaltou que “imprensa não é panfleto” e a pauta deve ir além dos interesses partidários. “Nossos assuntos devem ser sempre amplos e atualizados, disputando ideias com a mídia comercial e despertando o interesse da categoria”. Aguns exemplos de temas já abordados na revista são o caso dos pescadores da Associação Homens do Mar (Ahomar) que foram assassinados por denunciarem arbitrariedades do Comperj; violência contra as mulheres; o caso de Pinheirinho. “Para disputar a hegemonia, temos que mostrar o que a mídia comercial está silenciando. Basta, também, apresentar o nosso olhar em relação ao que a mídia hegemônica está tratando”, deu a dica.
Ângela Melo, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Sergipe (Sintese), disse que o debate político em seu Estado tem ocorrido principalmente nas ondas do rádio. Por este motivo, além da revista Paulo Freire, o Sindicato investe neste instrumento de comunicação. É o Projeto a Hora da Verdade, programa de rádio apresentado por professores em vários municípios além da capital Aracaju. É transmitido aos sábados, das 7h às 9h. “É apaixonante quando a dona de casa interage com a gente, reclamam dos atrasos salariais, do esgoto, saneamento… Como ensina o NPC, o programa não trata apenas do umbigo; fala sobre uma série de questões que dizem respeito à vida de muita gente”, avaliou.
Trabalhadores precisam produzir suas próprias ferramentas digitais
Em relação à internet, Sergio Bertoni falou sobre uma questão muito atual mas pouco discutida pelos sindicatos: “ou começamos a produzir nossas ferramentas próprias, ou continuaremos nas mãos das grandes empresas, usando a tecnologia deles. De trabalhadores braçais passaremos a ser idiotas digitais”, afirmou, lembrando que o Facebook e ferramentas do Google se tornam proprietários do conteúdo publicado pelos trabalhadores. Ele citou os sucessivos adiamentos da votação do Marco Civil da Internet, “a primeira legislação brasileira construída em rede, de baixo pra cima”, explicou. Segundo ele, o projeto vem sendo inviabilizado porque há um lobby das grandes empresas que querem acabar com a neutralidade da rede. “Ou seja: querem que conteúdos sejam tratados de maneira diferente dependendo de sua origem ou de seu conteúdo”.
Para tentar se contrapor às várias tentativas de controle da internet, Sergio Bertoni apresentou a iniciativa do Blogoosfero, uma plataforma de rede livre e colaborativa da esquerda brasileira feita “para que a gente tenha nossos sites, portais e blogs hospedados por nós mesmos”. É feito para que o conteúdo seja inteiramente de quem o publica, e não as grandes empresas transnacionais. “Temos que mudar isso. Até agora somos meros usuários. Tudo que a gente tem até hoje é desenvolvido lá fora, e o controle está lá”. Ele explicou também que a rede nasce com conceito de rede social federada, que permite que diferentes redes sociais se conectem umas com as outras. Para saber mais, basta acessar http://blogoosfero.cc