Por Luiz Antonio Magalhães

A manchete principal de terça-feira (28/11) da Folha de São Paulo – “Publicidade oficial ajuda a bancar TV do filho de Lula” – revela que a grande imprensa está mesmo assustada com a possibilidade de o governo federal iniciar um movimento real para democratizar o sistema midiático brasileiro. A matéria da Folha repete o “padrão Veja” de ataques a Lula e ao PT: faz muito barulho e coloca em evidência fatos corriqueiros, que sequer envolvem atos do presidente.

No caso da “denúncia” da Folha sobre o compartilhamento da publicidade oficial entre a Gamecorp, a empresa da qual é sócio um dos filhos do presidente, e o Grupo Bandeirantes de Comunicação, a própria matéria do jornal mostra que o contrato firmado entre as duas partes é comum no mercado e absolutamente legal. Diz ainda a reportagem que a maior parte da publicidade que a Gamecorp obteve veio do setor privado. Além disso, a matéria mostra que a publicidade oficial na Rede 21caiu 68% neste ano, em relação a 2005.

Em outras palavras, a própria Folha diz que não há nada de irregular nos anúncios oficiais recebidos pela Gamecorp. Nas duas páginas dedicadas ao assunto, o jornal corretamente ouviu o outro lado e contextualizou a divulgação da notícia – trata-se de fato tornado público em função de um processo que a Gamecorp move contra a Editora Abril e o jornalista Diogo Mainardi, entre outros profissionais. As matérias também não contêm adjetivos contra o governo ou o presidente, apenas relatam os fatos de forma bastante objetiva. O problema todo está no fato de o jornal ter decidido levar o assunto para manchete – a notícia não justifica o destaque – e com um título nitidamente negativo para o presidente Lula e seu filho.

A maior parte dos leitores de jornal apenas passam os olhos pelos títulos, linhas-finas, legendas e destaques das reportagens. Ao publicar, na primeira página, que a publicidade oficial “ajuda a bancar” a TV do filho do presidente, a Folha editorializou o material apurado pelos jornalistas e desinformou os seus leitores. Lula, conforme revela o próprio conteúdo da reportagem, não está “ajudando a bancar” a TV de seu filho e nem há ilegalidade alguma nos fatos relatados, mas a manchete do jornal procura passar esta impressão.

Sem evidências

Na realidade, o que a Folha fez foi um ataque gratuito ao presidente Lula. Os grandes veículos de comunicação que se posicionaram contra o então candidato à reeleição durante a campanha devem estar mesmo preocupados com a possibilidade de corte na publicidade oficial a partir do próximo ano, conforme andou sugerindo o presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia. Não seria um pequeno prejuízo – e os acionistas da Folha, Veja, Estadão e outros sabem muitíssimo bem disso. Para evitar que o desejo de Garcia vire realidade, alguns veículos já estão usando a velha tática futebolística da “melhor defesa é o ataque”.

Recentemente, a revista Veja divulgou matéria sobre uma suposta conta corrente do presidente Lula no exterior. Na reportagem, assinada por Márcio Aith – jornalista que fez carreira na Folha –, a revista explicava que não havia conseguido evidências de que a conta corrente de fato existisse, mas que publicava a informação ainda assim, para evitar que o governo federal fosse “chantageado” com os boatos. Sim, é isto mesmo: Veja publicou algo que não conseguiu provar após meses de apuração apenas para “ajudar” Lula.

Do jeito que a coisa vai, a Folha ainda chama seu ex-repórter de volta para ampliar o leque de opções na sua campanha contra governo. O modelo de Veja está fazendo escola.

PS em 29/11: Manchete de quarta-feira, 29/11, da Folha de São Paulo: “Bancos lideram doações a Lula”. Abaixo do título aberto em 6 colunas, a linha fina informa: “Campanha do petista recebeu R$ 10,5 milhões, mesmo valor dado por instituições financeiras a Alckmin”. Ora, com tal informação disponível, por que razão a manchete menciona apenas Lula? O título “Bancos lideram doações a Lula e Alckmin” não seria muito mais explicativo? Afinal, o então candidato à reeleição nem sequer conseguiu mais dinheiro dos banqueiros do que seu adversário, apesar de seu governo ter, conforme a Folha adora lembrar, proporcionado os maiores lucros da história dos bancos… O problema todo é que o jornal da família Frias está em campanha: enquanto os caraminguás oficiais que “ajudam a bancar” a Folha, o Agora, o UOL e demais operações do Grupo não estiverem garantidos e carimbados para 2007, Lula vai penar nas mãos dos diligentes responsáveis pelo fechamento da primeira página da Folha.

Luiz Antônio Magalhães é editor de Política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa ( www.observatoriodaimprensa.com.br).

Texto original: http://www.correiocidadania.com.br/ed528/luizmag.htm