Por Claudia Santiago, editora do NPC, para o Boletim 79 (nov/2005)
Desde o mês de setembro as páginas de O Globo estão recheadas de fotos de favelas que estariam acabando com as belezas naturais da cidade. E dá-lhe barracos, casinhas, e até o que ele chama de “espigões” construídos em área de preservação ambiental. Os culpados da agressão feita à mãe natureza seriam os favelados. Sim, aqueles que são os causadores da violência que aflige a cidade. Os mesmos que sujam o cartão de visita da maior cidade turística do país. São os favelados que têm o atrevimento de querer morar em lugares bonitos, nas encostas dos morros, e não se contentam com um viaduto, ou um barraquinho, daquele que eles gostam de fazer, feio e horroroso, lá na distante cidade carioca de Paracambi, ou Seropédica. São os mesmos que teimam em querer morar no centro da cidade, perto de bairros “nobres” como Ipanema, Leblon, Barra da Tijuca, ou nos arredores da outrora riquíssima Tijuca.
É deles, enfim, a culpa pelo desmatamento das lindas encostas da Cidade Maravilhosa.
Esta tem sido a mensagem central, embora não tão explícita, da ladainha repetida através de imagens e artigos e mais artigos, de dois meses pra cá do nobre jornal. Esta a expressão jornalística da ideologia da exclusão que não é exclusividade da imprensa burguesa carioca.
Ultimamente O Globo começou a desconfiar que não são só aqueles sujeitos já manjados que ocuparam morros acima para construir seus barracos. A classe média também aprendeu com eles e abocanhou pedaços da santa mata. O jornal começou a mostrar moradias da classe média no meio do belo verde carioca.
E quando vão aparecer as tremendas invasões de enormes pedaços da Floresta do Rio feitas pela alta burguesia do Rio?
Uma das favelas mais condenadas da cidade é a Tijuquinha, no Alto da Boa Vista. Por isso mesmo é que o Alto foi escolhido para receber no dia 21/11 uma grande manifestação em defesa do direito à moradia, organizada pelo Fórum Estadual contra a Remoção de Favelas.
E o Colégio Santa Marcelina, bem ao lado desta favelinha, como foi plantado na mesma santíssima floresta? Não destruiu um belo pedaço de mata verde? E as centenas de casarões construídos ao longo da maravilhosa estrada que serpenteia o Alto, não são invasores? As famílias nobres de outra época tinham verdadeira tara para ter uma mansãozinha no Alto da Boa Vista. Que tal uma campanhazinha para remover estes casarões? São colégios, hotéis, mansões que poderiam ser removidos para Paracambi ou Seropédica, não é verdade? A burguesia pode e o povo não?
Só uma pergunta: onde serão depositados os milhões de moradores das favelas cariocas, após serem retirados das áreas verdes que eles ocuparam?