1. A notícia abaixo saiu no jornal espanhol El Pais, em 13/01/2004. Mas, na imprensa brasileira.. você continua lendo e ouvindo que o livre comércio a todos beneficia e que proteção ao produto nacional é coisa de dinossauro.
Subsídios agrícolas dos EUA custam US$ 5,4 bilhões à América Latina
Se existe alguma coisa em comum entre um produtor de trigo de Santa Fé (Argentina), o dono de uma plantação de soja do Mato Grosso, no Brasil, e um cultivador de cítricos de Salto (Uruguai) é a dificuldade para colocar seus produtos no mercado americano. As ajudas agrícolas com que Washington subvenciona seus agricultores possibilita que os produtos destes sejam vendidos a preços muito baixos nos mercados internacionais. Abaixo inclusive de seu preço de produção (prática conhecida como “dumping”). De acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os Estados Unidos vendem seu trigo 40% mais barato que o custo de produção, o milho entre 25% e 30% e a soja também cerca de 30%.
As ajudas para a produção e comercialização do algodão são as mais altas, atingindo 57% do custo de produção. Com esses preços os agricultores latino-americanos não podem competir, o que representa prejuízos no valor de US$ 5,4 bilhões por ano (sem levar em conta as ajudas ao algodão), segundo cálculos do Instituto Internacional de Pesquisas em Políticas Alimentares (IFPRI), de Washington.
2. Esta noticia saiu no jornal Hearst Newspapers, em 22/12/2003. Você pode ver o que o governo norte-americano entende por imprensa livre.
Vice de Bush não quer que mídia revele os negócios dele na reconstrução do Iraque
O vice-presidente dos EUA, Dick Cheney acusa a imprensa de fazer “jornalismo sensacionalista barato” na cobertura do governo Bush.
Cheney está irritado com uma série de matérias que mostram que ele foi, durante cinco anos, o diretor-executivo da Halliburton, empresa que recebeu US$ 5 bilhões em contratos federais – muitos deles sem licitação – para a reconstrução do Iraque.
Cheney ainda possui vínculos comerciais com a Halliburton, apesar de suas negações. Ele continua a receber compensações atrasadas da companhia, incluindo pagamentos no total de US$ 150 mil em 2001, e US$ 160 mil em 2002. E pagamentos adicionais estão por vir. Além disso, o vice-presidente possui cerca de 433 mil ações da empresa.
Essa empresa é a mesma que foi acusada por uma auditoria do Pentágono de superfaturar em US$ 61 milhões a gasolina vendida às forças armadas dos Estados Unidos no Iraque.
“Tem muita gente na imprensa que não entende a comunidade de negócios”, criticou Cheney.
“Não há evidências que comprovem algo dessa natureza”, afirmou Cheney. “Mas, se isso for repetido um número suficiente de vezes, vai se tornar uma espécie de dogma”.
Com esse argumento, Cheney poderia estar explicando a sua própria arenga repetitiva ao povo norte-americano sobre as armas de destruição em massa iraquianas. Afinal, se algo for suficientemente repetido, torna-se uma verdade aceita.
Em agosto de 2002, Cheney disse em um discurso à organização Veteranos de Guerras Estrangeiras: “colocando os fatos de forma simples, não há dúvida de que, neste momento, Saddam Hussein possui armas de destruição em massa, e tampouco de que ele as está acumulando para usá-las contra nossos amigos, contra nossos aliados e contra nós”.
No mesmo discurso, ele advertiu que Saddam, “armado com um arsenal de armas de terror, e sentado sobre 10% das reservas mundiais de petróleo… poderia submeter os Estados Unidos ou qualquer outra nação a uma chantagem nuclear”.
Em 16 de março deste ano, o vice-presidente disse no programa “Meet the Press” (Encontro com a Imprensa), da rede de televisão NBC: “nós acreditamos que Saddam, de fato, restaurou as suas armas nucleares”.
(por Régis Moraes, de São Paulo)