Por Rita Freire, jornalista e da Ciranda Internacional da Comunicação Compartilhada, SP
A quarta edição do Fórum Mundial de Mídia Livre (FMML) ocorrerá em março de 2015, na Tunísia, em estreita conexão com o Fórum Social Mundial, programado para 24 a 28 daquele mês, e terá como contribuição aproximar organizações e movimentos sociais dos temas e práticas da comunicação independente. A contribuição brasileira ao FMML é aguardada, tem sido presente e precisa ser construída para a edição 2015.
Estão na pauta muitos dos temas que preocupam as sociedades de todo o mundo: a essencialidade do acesso aos meios e aos códigos, a liberdade e diversidade de expressão, a regulação do setor, os princípios para uma internet neutra, a violência contra jornalistas e comunicadores(as), a censura aos assuntos que contrariam poderes e religiões, o uso da mídia para criminalização das lutas, protestos, vozes dissidentes e movimentos sociais. São assuntos que, de tanto se repetirem em diferentes debates e lugares, passaram a figurar na proposta de uma carta mundial da mídia livre, hoje em construção.
Por ser em São Paulo, mas referir-se a um processo brasileiro, é importante que o seminário do FSM, além da transmissão online, tenha oportunidades de participação à distância. Por isso, é possível que a reunião sobre o FMML tenha conexão com participantes de outros estados (existe a proposta de uma conexão com o curso do NPC, no final do dia 7).
O FMML nasceu em 2009 aproximando duas construções do movimento de comunicação. Uma delas vinha dos projetos compartilhados do FSM, em que as mídias alternativas e desenvolvedores de tecnologias livres se reuniam para empreender ações midiáticas coletivas, como um modo de resistência à cobertura das mídias de mercado. Era também um modo de promover novas ideias e conceitos para a comunicação. A prática coletiva se transformou em ambiente de articulações e levou à proposta de um seminário internacional. O outro processo desencadeador foi o FML, o Fórum de Mídia Livre brasileiro, que, após um bem sucedido evento nacional no Rio de Janeiro, em 2008, encaminhou-se para uma etapa mundial. Sua agenda ia de políticas públicas de apoio às mídias livres às articulações com mídias e redes parceiras em outros países.
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Somados, esses movimentos consolidaram o 1º FMML, que aconteceu um dia antes do Fórum Social Mundial, em janeiro de 2009, em Belém, no Pará. E inspiraram parceiros na África, Europa, América Latina e do Norte a se reunirem para um seminário em Dacar, Senegal, em 2011, que desencadearia o processo permanente do FMML: uma segunda edição durante o Rio+20, em 2012, a terceira na Tunísia, em 2013, além de alguns eventos nacionais e regionais.
A IV edição, novamente em Tunísia, será realizada na sequência de quatro seminários internacionais para o debate da Carta Mundial de Mídia Livre, realizados em 2014: dois em Porto Alegre (janeiro) e Tunis (junho). Outros dois serão realizados em Paris e Marrakesh, em novembro. O próximo FMML terá, portanto, um sólido aporte sobre o que são hoje as lutas comuns pela mídia livre. Somado a isso, o seminário de Paris lançará uma ferramenta de consulta interativa sobre os conteúdos da Carta Mundial de Mídia Livre, utilizando o sistema noosfero, já experimentado durante a Net Mundial, pelo sistema de consulta do ArenaNet, com o Participa.BR. e que está sendo adaptado à carta por desenvolvedores no Brasil.
De diversas maneiras, a contribuição brasileira ao processo do FMML vem do engajamento de seus e suas ativistas aos diferentes movimentos pela comunicação no país, reafirmando propostas de regulação, de apoio às tecnologias livres, de respeito à imagem da mulher na mídia, de fortalecimento das mídias públicas, de fomento às mídias livres de modo geral. O que constrói as diferentes frentes e movimentos são os diálogos e as convergências em lutas que vão se tornando comuns. O IV FMML é mais uma de suas expressões.
Na caminhada para Tunis
Um diálogo que desafia o movimento de comunicação é aquele que deve se dar com o restante da sociedade, por meio das demais frentes de luta social. Sem que a população perceba que a mídia é um meio e não um grande irmão, será difícil desmontar monopólios e enfrentar resistências – que a própria mídia promove – contra a democratização do setor.
Este debate foi proposto aos movimentos e organizações sociais que se mobilizarão, nos próximos meses, para levar suas agendas de lutas locais e globais ao FSM 2015, que ocorrerá em Tunis, entre 24 e 28 de março, começando um ou dois dias depois do início do FMML. A relação entre a comunicação e as lutas sociais está entre os temas propostos para um seminário mais amplo sobre o FSM em São Paulo, no auditório do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo, dias 7 e 8 de novembro. O encontro tratará da participação brasileira nas atividades de Tunis e dos rumos do FSM, tanto mundial quanto no Brasil.
A última reunião sobre a mobilização para a Tunísia reconheceu que o FSM passou de um período de intensa conexão com as transformações da América Latina para um maior envolvimento com as grandes mobilizações no Norte da África. E existe todo um processo de mudança nas relações de poder e nas dinâmicas sociais que tem levado o FSM a um grande debate sobre o seu papel e o seu futuro. O que os movimentos sociais brasileiros querem do FSM é também um tema na ordem do dia.
Além da luta por outra comunicação, entre os temas sugeridos para o debate estão a onda de repressão aos protestos e criminalização dos movimentos sociais, não apenas no Brasil, e também o papel do FSM como veículo de solidariedade internacional. O caso do massacre à Faixa de Gaza, minimizado ou noticiado como conflito entre dois lados, em grande parte da mídia, é exemplo da importância da mobilização mundial, e da promoção de uma mídia livre.
Embora sejam dois processos distintos, o FMML tem construído seu caminho em conjunto com o FSM e deve contribuir para organizar o debate sobre a comunicação e as lutas sociais no seminário de São Paulo. Esta poderá ser uma mesa temática, com intervenções a serem definidas. Por outro lado, o FMML precisará debater também a sua IV edição, ou seja, uma reunião específica sobre o seu processo, e que também está sendo proposta como parte da agenda do seminário.
Por ser em São Paulo, mas referir-se a um processo brasileiro, é importante que o seminário do FSM, além da transmissão online, tenha oportunidades de participação à distância. Por isso, é possível que a reunião sobre o FMML tenha conexão com participantes de outros estados (existe a proposta de uma conexão com o curso do NPC, no final do dia 7).
O programa do seminário do FSM ainda será construído pelas organizações participantes, mas os diálogos internos ao movimento de comunicação e suas frentes de luta, sobre os dois momentos a cargo da mídia livre – a reunião preparatória do FMML e o debate sobre o FSM e a luta pela comunicação precisam ser feitos já.
Agenda
Seminário do FSM – 7 e 8 de novembro de 2014
Horários:
Dia 7, das 14h às 22h
Dia 8, das 09h às 18h
Tema geral: O processo FSM e a mobilização para Tunis 2015
Agendas da Comunicação:
Reunião pré- FMML
Mesa sobre O FSM e as Lutas da Comunicação
Local: Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo (Rua Genebra, 25, Bela Vista, SP)